sexta-feira, dezembro 22, 2006

Gula


A gula é o segundo ( às vezes o primeiro...) dos sete pecados mortais que nos dá mais prazer. Tanto, que tenho quase a certeza que será, um dia destes, abolido sem qualquer penitência.
Pequem para aí à vontade (suponho que esta festa religiosa serve para isso mesmo)!
"Bem comido, a minha alma de nada quer saber. E nem os maiores desgostos a conseguem comover ."
Molière, Jean

Dos meus amores VI


Como prenda de Natal para os que têm tido a paciência de me ler (uns desde sempre, outros nos últimos 6 meses) fica aqui o meu poeta português preferido e um poema, simples, que diz tudo o que é preciso.


O SORRISO


"Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."


Eugénio de Andrade

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Homens


Trabalho, na sua maioria, com homens. Há seis anos atrás tinha uma ideia pré-concebida que seria melhor assim. Hoje concluo que tanto faz, só varia o embrulho. Trabalho também com algumas mulheres num mundo de homens e aí sim, em alguns casos, é difícil... sobretudo para eles, se elas os estiverem a chefiar. Continuo a não entender a confusão entre o racional e o animal, entre o dever e o sexo, entre a lógica e a pura impulsividade. A luta entre o machismo e o feminismo descontextualizado histórica e/ou geograficamente.
Queimar soutiens (que ainda por cima estão caríssimos!), no caso delas, ou encenar grosseiros rituais de acasalamento, no caso deles, é sempre um espectáculo deprimente.
Hoje assisti de camarote a mais um episódio desta eterna guerra e tropecei , por acaso, nesta irónica frase.

Muitas mulheres consideram os homens perfeitamente dispensáveis no mundo, a não ser naquelas profissões reconhecidamente masculinas, como as de costureiro, cozinheiro, cabeleireiro, decorador de interiores e estivador.

(Luís Fernando Veríssimo)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Dos meus amores V



Dos artistas que mais admiro. Porque prova que a beleza é de facto objectiva, intemporal e fanática de nada. Espero que tenham visto as suas esculturas no Terreiro do Paço há uns anos. Nunca aquela praça esteve tão linda, tão viva.

Vai um docinho (de Natal)?

A falível arte de contornar




Começamos numa rotunda não ajardinada. Contornamos devagar, com atenção para não errarmos na saída, para termos tempo de ler a placa que nos indica este caminho que ainda desconhecemos. Após uma breve recta uma e outra rotunda. Repetimos a operação. Interrogamo-nos do que é feito dos semáforos, dos polícias sinaleiros, da inteligência. Tontos saímos do carro. Avistamos ao longo alguém que nos pode estragar o dia. Voltamos e trancamo-nos no porta bagagens por dentro. Adivinhamos um dia, uma vida de manobras discretas. O telefone toca insistentemente. Não estamos habilitados para atender aquele número. Não queríamos conhecer aquele número. Avisamos que se aquele número ligar não estamos, acabámos de explodir mesmo agora, inadvertidamente. Deixamos de falar, de escrever, de amar. Deixamos de nos magoar. Ao almoço, ao jantar, ao lanche evitamos os hidratos de carbono e as gorduras. Afogamo-nos na água que bebemos, plantamos hortas na periferia do estômago. Corremos pelo menos 10 km algumas vezes por semana. Acabamos sempre por embater de frente naquela caixa de bombons. Recomeçamos numa rotunda.

terça-feira, dezembro 19, 2006

As mais ouvidas no Natal




  • Eu quero um i-pod, um telemóvel de última geração e uma máquina digital.
  • Jingle bells, jingle bells já não há papel...
  • Outra vez a “Música no Coração”?!
  • Eu quero! Eu quero! E lá na escola todos têm.
  • Portuguesas e portugueses: este ano que passou não foi fácil... blá, blá, blá, desejando-vos um santo Natal.
  • O nosso país não é laico?
  • Olha o colesterol! Depois eu é que te aturo o resto do ano.
  • Querido Pai Natal: este ano portei-me tão bem!
  • (Perante um presente bizarro) Para que serve isto?
  • Mais meias?!
  • Outra vez o “Sozinho em casa”?!
  • O (presente) dos nossos cunhados foi muito ranhoso, baratinho. O nosso foi muito melhor!
  • Troquei de carro. É fantástico, agora o teu cabe no porta bagagens do meu.
  • Ana, pára de meter o dedo na mousse de chocolate!
  • Já puseste o sapatinho na chaminé?
  • (desembrulhando o desejado presente) Tão lindooooo! Era mesmo o que eu queria!
  • Outra vez a treta do bacalhau?
  • Manel, onde puseste o Menino Jesus e os “mémés”?
  • Oh avô! Está a ressonar!
  • Outra vez o circo?! Odeio! Arghhhhh!!!
  • Os meus amigos vão morrer de inveja!
  • Podemos ir ver as luzes da rua?
  • Iupiiiiiiiiiiii!
  • Snoopy, pára de fazer xixi na árvore de natal!
  • Vá aguenta lá, está quase a acabar... e não bebas mais sim?

Acreditem que, apesar de tudo, adoro-o!

FELIZ NATAL!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Eu é que sou a Carol... lembram-se?


“Esta mulher chama-se Carolina Salgado. Viveu com os poderosos, conhece-os, aprendeu-lhes as manhas, joga o jogo deles. Há quem não queira ouvir a história. Percebe-se. É Natal(...).”


Depois de quase duas semanas de escândalo, depois de criação de comissões com pessoas, ainda credíveis, a liderar, depois até do inevitável sketch dos “Gato Fedorento” resta somente por dar a minha opinião... a quem interesse.
A Carolina que é “essa senhora”, “dona”, “dra”, “a futura esposa”, “a alternadeira”, “a putéfia” é, acreditem ou não, uma pessoa que se vende como muitas outras. Talvez tenha começado com o corpo mas rapidamente, e por mais uns trocaditos, lá se foi a alma para renovar o guarda roupa ou trocar de carro quando bem lhe apetecer. Agora pensem quantas pessoas conhecem que fazem exactamente o mesmo, na sua essência, mas disfarçam com outros nomes como amor, dever, sacrifício. Varia o preço. A subtileza. A classe social. E a inteligência.
Ontem passei na habitual livraria e dei por mim a folhear esta obra prima da mais recente moda da escrita em Portugal, iniciada por Carrilho: o queixinhasdadordecotovelovingativo. Procurei arrependimento e... nada. Ainda que o tivesse encontrado viria já um pouco tarde. Encontrei um livro mal escrito pela amiga letrada. Encontrei muito despeito. Encontrei a tão característica “chico-espertice”. Encontrei uma mulher que não se lembra a primeira vez que se vendeu, que hierarquiza muito bem os seus valores (porque os tem, mais de acordo com a economia de mercado, é certo, mas é nela que vivemos), que é marioneta e manipula ao mesmo tempo. Não encontrei dor. Essa já não existe. Talvez, a verdadeira, tenha sido também vendida. Agora todos se acotovelam para rotular, julgar e condenar. Esquecem-se que o mais importante não é, definitivamente, quem denuncia mas quem faz. Não é quem vende mas quem compra. São estes que mandam. Que têm o poder. Que têm más companhias. Que dão puns malcheirosos e têm pêlos nas orelhas também, pronto. Por isso quase acreditamos que, por momentos, até poderiam ser humanos.

domingo, dezembro 17, 2006

Desabafo



Há quatro dias que esta tempestade, do tipo atlântico norte (leia-se: chuva imparável e vento forte), estacionou por aqui .
Há um sinal de alerta na minha secretária para um jantar de Natal que envolve cadeias hierárquicas, sorrisos amarelos e conversas de circunstância sem nexo.
Há um (este) fim de semana (loooongo) em que trabalho.
Há papéis de bombons abandonados nos bolsos da gabardine.
Há ainda que contar cinco dias, inteirinhos, para voar.

Acho que está na hora de procurar a saída de emergência desta ilha!

sábado, dezembro 16, 2006

Um poema comprimido


Indicações: dores agudas nas articulações da alma.
Posologia: 1 a cada hora. Deve ser acompanhado com uma ideia positiva e uma recordação carinhosa.
Sem contra indicações quando tomado correctamente.

adopt your own virtual pet!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Dos meus amores IV



A personagem desta ilustração meio infantil (e linda) sou eu (embora o meu cabelo seja só um bocadinho mais claro) tal e qual. Há pessoas talentosas (as quais recomendo vivamente) que do nada criam tudo. Acabou de chegar. Obrigada! Vai directa para o meu quartinho novo!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Citação natalícia



"Nunca desistas de um sonho. Se não houver numa pastelaria vai a outra."

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Dos meus amores III


Em 2001 escrevi isto numa revista virtual com a qual colaborava. Mantém-se tudo. Mesmo quem não gosta de poesia não lhe consegue resistir. A mim faz-me feliz, pronto!

"As suas páginas são muito mais que um somatório de poemas, são uma verdadeira antologia de um dos nossos maiores poetas contemporâneos. Jorge de Sousa Braga escreve sem ninguém dar por ele, brinca assim com as palavras, molda o quotidiano ao coração e o coração à poesia. Usa verbos simples para descrever como se comportam os sentimentos irrequietos, para nos explicar o nascimento ininterrupto das ideias a cada verso."

Fica um dos meus preferidos.

ADORMECER DO LADO DA PRIMAVERA

Adormecer num colchão de molas do lado da primavera e acordar do lado do verão
Atirar-se da janela de um quinquagésimo andare aterrar intacto na folha de um nenúfar
Passar a cem à hora todos os sinais vermelhose estacar repentinamente no primeiro sinal verde
Engolir um Mirage e vomitar de seguida dois milhões de pássaros pela boca
Fornicar sucessivamente com um elefante-fêmea,uma galinha-da índia um colibri e uma borboleta
Destruir a pontapé todas as palavras do dicionário até chegar à palavra chumbo
Estender a língua vermelha na pista do aeroporto para servir de tapete a uma estrela de Hollywood
Cortar os braços a todos os prisioneiros e gritar "mãos no ar"antes de os passar pelas armas
Derrotar todos os exércitos do nascente e sucumbir ao ser atacado pelas costas por uma folha do outono
Comer à sobremesa apenas maçãs marca Cézanne
Assistir ao próprio enterro ao volante de um BMW cor de cinza e chorar lágrimas verdadeiras
Descobrir uma caravela naufragada há quinhentos anos no fundo dos teus olhos e conseguir trazer para a superfície duas estátuas de Buda além de uma tonelada de pimenta e outra de cravo
Passar cinco anos na solidão de uma cidade de dez milhões de habitantes e exprimentar depois o bulício das Penhas Doiradas
Entrar num supermercado e plantar um limoeiro na secção das vitaminas
Recuar alguns séculos no tempo para apanhar nas mãos a cabeça de Maria Antonieta
Lavar as mãos em sangue antes de assinar o tratado de paz

JORGE DE SOUSA BRAGA

quarta-feira, novembro 29, 2006

Outra vez o desafio...



Breve introdução: a sorte de quem me(http://raispartamisto.blogspot.com/) anda a lançar estes desafios é que ando com uma imensa pachorra para aturá-los (os desafios). Depois hoje, que estou de véspera de "escapadinha" versão voadora, estou com bom humor e com muito tempo. Cá vai então, é tudo verdade.

1 - ALTURA:
A perfeita... em bico de pés.
2 - QUE SAPATOS ESTÁS A USAR?
Botas pretas de cano alto, sóbrias... bonitas. Adoro sapatos.
3 - MEDO?
De não conseguir amar como deve de ser. De morrer antes de fazer tudo. De estar a mais de 1m do solo.
4 - OBJECTIVOS A ALCANÇAR:
Perceber que tropeço e posso fazer tropeçar os outros em pequenos momentos quotidianos que nos fazem felizes. Se cairmos... não faz mal.
5 - FRASE QUE MAIS USAS NO MESSENGER?
Olá! Tenho saudades.
6 - MELHOR PARTE DO CORPO?
Hummm... difícil escolher. Cá dentro, canto superior direito e esquerdo. Sem dúvida.
7 - PALAVRÕES?
Descobri que dizer porra, aqui nas ilhas, é um imenso palavrão. Porra!!!!
8 - LADO DA CAMA?
Ao centro agarrada à almofada fofa (independentemente da quantidade de pessoas que lá estiverem).
9 - TOMAS BANHO TODOS OS DIAS?
Tem de ser... a bem da minha aceitação social. Por vezes também em perfume DKNY... distraio-me.
10 - GOSTAS DE TOALHAS QUENTES?
Who cares? Gosto de toalhas fofas, limpas e bonitas.
11 - URSINHOS DE PELÚCIA?
Não. Nada de pelucia. Nunca.
12 - ACREDITAS EM TI MESMO?
Por vezes passo-me o conto do vigário. Mas, no geral, a fé vai salvando.
13 - DÁS-TE BEM COM OS TEUS PAIS?
São uns “velhos dos Marretas” muito queridos.
14 - GOSTAS DE TEMPESTADES?
Em casa, com uma manta, um livro e uma lareira imaginária. Cortinas abertas, muita chuva, relâmpagos a iluminarem.
15 - DESPORTO?
Nadar, mesmo fora de água e corrida... não sei se fujo ou se persigo mas isso é para a pergunta das doenças psiquiátricas... se a houver.
16 - PASSATEMPOS E HOBBIES?
Ler, contar os dias, escrever, decorar o vermelho das papoilas, reconstruir, restaurar, decorar o azul do céu.
17 - FOBIAS E MANIAS?
Depois de umas aulas com uns psiquiatras descobri que não tenho fobias, só medos (remissão para 3). Manias são as cinco e umas quantas outras (in)suportáveis.
18 - QUANTAS VEZES O TEU NOME JÁ APARECEU NOS JORNAIS?
Nenhuma vez na necrologia, muitas vezes num virtual onde escrevia sobre livros, umas vezes no Diário da República II série, uma vez numa revista feminina, uma vez numa lista de premiados, talvez... sei lá. Já apareci no Jonal das 20 quando tinha uns oito anos e vibrava com o dia do pai.
19 - CICATRIZES NO CORPO?
Um “sorrisinho” no lugar da apêndice.
20 - DE QUE TE ARREPENDES DE TER FEITO?
Arrependo-me todas as vezes que sou idiota.
21 - COR FAVORITA?
Ex equo (e não combinam) : preto e azul.
22 - UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVESTES E GOSTAVAS DE IR?
Itália... é estúpido mas não calhou. Buenos Aires, Moçambique, S. Petesburgo, Suécia, S. Francisco, Tirol, Pequim, Nova Zelândia, Polinésia Francesa, Japão.
23 - MANHÃS OU NOITES?
Tardes (lá mais para o fim).
24 - O QUE TENS NOS BOLSOS?
Vazios, (quase) sempre. Por vezes papéis com ideias por acabar. Não é o caso hoje.
25 - QUE FARIAS SE FOSSES PRIMEIRO-MINISTRO?
Acabava com o partido que me tinha lá colocado, demitia personagens decisivas para este caos e a seguir demitia-me. Gostava mais de ser Presidente da Republica.
26 - SE GANHASSES O EUROMILHÕES QUE FARIAS AO DINHEIRO?
Gastava.
27 - SE TE CAÍSSE NAS MÃOS A LÂMPADA DE ALADINO O QUE FARIAS? QUE DESEJOS PEDIRIAS?
Hã????!!!! Acho um bocado estúpido estar seriamente a esfregar uma lanterna rudimentar à espera que saia de lá um génio em estado gasoso que pudesse fazer alguma coisa de jeito por mim ou pela humanidade.
28 - SE O MUNDO ACABASSE HOJE ÀS 23h59m QUE FARIAS ATÉ LÁ?
Ficava a decidir, baralhada, até lá quais as minhas prioridades.
29 - SE TIVESSES UM FILHO SEM SABER COMO, SEM RAZÃO NENHUMA, QUE FARIAS?Tendo em conta que a gaja sou eu é dificil... até porque que me lembre ainda não engravidei ninguém, pratico sexo altamente seguro.

terça-feira, novembro 28, 2006

A moral da estória


Olho em redor e começo a dar total credibilidade a quem se debruçou sobre a problemática, nada inofensiva, da determinante influência dos contos infantis na estrutura da nossa personalidade.
Vejo muita gente adormecida à espera do beijo de amor de um príncipe que anda algures num engarrafamento interminável e que, por isso, tarda em chegar. Vejo príncipes desencantados a experimentar o sapato vezes sem conta em pés claramente deformados. Vejo pequenas sereias a sufocar com o coração fora de água, lobos maus que fazem um-dó-li-tá entre as suas possíveis vitimas.
Basta!
Acho que devo indagar da disponibilidade dos anões para ajudarem. Certifico-me da maldade das irmãs-madrastas-amigas e denuncio-as às autoridades. Chamo 112 a tempo de salvar a mãe do Bambi. Escrevo um e-mail a um reality show de decoração para fazer uma surpresa aos três porquinhos. Compro um gps ao Hansel e à Gretel. Convenço a Bruxa Má a fazer psicanálise para deixar de falar com espelhos de uma vez por todas. Dou ao Capuchinho Vermelho o chamado “banho de loja”. Obrigo os Lobos Maus, em alcateia, a assistirem vezes sem fim ao “Natal dos Hospitais”. Por fim descubro, por minha conta, que não vale mesmo a pena beijar o sapo. Respiro fundo e reescrevo finalmente toda a moral da estória.

sábado, novembro 25, 2006

Dos meus amores II



Ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias.

Muito, pouco, nada


Dou por mim sempre à procura de palavras, sempre a tentar descobrir novas palavras, sempre a tentar desenhá-las pela primeira vez no início do poema, palavras que digam o que sinto, o que gostava de sentir, o que não gostava de sentir... Procuro-me nessas palavras . Descobri também, nessa busca, que há muitos livros infantis que dizem tudo o que preciso saber sobre tudo, nos quais encontro as palavras certas, novas a cada frase simples. Mesmo à minha frente estava “O Principezinho” do Saint-Exupéry desde sempre. Li e gostei. Reli e gostei mais ou menos. Insisti recentemente e finalmente descobri as palavras. São pequeninas, discretas aquelas palavras, estão lá neste livro (muito, pouco, nada) infantil. Senão vejam:

"[...] se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais."

quinta-feira, novembro 23, 2006

Anti-stress

No top 10 das minhas manias.
Para relaxar (com som).
Comigo resulta!
http://bluestrattos.planetaclix.pt/bubblewrap.swf

Dos meus amores I



Helena Almeida. A minha artista preferida. Tropecei nela há muitos anos numa Bienal de Cerveira . Estava ainda em plena adolescência, não o suficiente para deixar de reparar nela. Vou ver todas as suas exposições. Se fosse artista plástica talvez fizesse algo parecido. Levei-a para a casa nova, lá mora na entrada. Adoro-a. Pronto.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Pai


Tenho quase a certeza que o meu pai me mente quando diz que é meu pai. Descobri essa quase verdade quando, depois de dizer as primeiras duas sílabas de quase todas as palavras, caminhei pela primera vez, não sobre as águas, mas sobre a alcatifa verde, que forrava o imenso corredor, que me conduzia sempre ao quarto deles. A porta estava fechada mas a ânsia de lhe mostrar que era assim uma pequena deusa que andava venceu todas as portas e paredes que poderiam estar à minha frente. A dura realidade revelou-se e eu guardei a experiência traumatizante de sentir crescer na minha testa um galo enorme enquanto o meu pai se ria perdidamente! No meu imbérbe, mas sério, conceito de familia sabia que um pai não se deve rir de um filho numa situação daquelas. Depois surgiram os biberons de leite com chocolate dos quais não conseguia abdicar e que ele insistia em não os acertar na minha boca. Um pai deve saber dar comida a um filho. Depois seguiu-se ainda o silêncio, os seus desenhos irritantemente precisos espalhados por toda a casa, as matinés de sábado a darmos sentido a peças de lego ou a construirmos puzzle, a música que não entendia e o riso, sempre o riso.
Agora também gosto de fazer puzzle e legos e rio muito dos seu óculos em meia-lua tantas vezes esquecidos dentro do lavatório. Rio porque o meu conceito maduro, e sério, de familia contém os defeitos com o riso infindável de nós. Às vezes desconfio que ele é meu pai porque os seus olhos são atraiçoados por aquele sorriso carinhoso, porque me lembro das histórias que me lia, sempre as mesmas, pela noite, e das sombras que desenhava com as mãos naquela parede enorme e, nessas alturas, as gravuras passeavam descaradamente pela sala e os animais na parede relinchavam, cacarejavam, miavam ou ladravam numa algazarra infernal. Só nós os dois viamos e ouviamos…No outro dia surpreendi-o, no meu antigo quarto, a falar com seriedade para um pinóquio de madeira ignorado há anos. Talvez ele seja mesmo meu pai...

terça-feira, novembro 21, 2006

Sou fã


Como diria o Scolari (que é de momento o guru da sociedade portuguesa e daí esta compulsiva necessidade de o citar) eu sou fã da época natalícia. Não porque tenha filhos, não porque tenha uma família numerosa, não porque tenha uma lareira em casa (com o aquecimento global teria sido um mau investimento), não porque o meu subsídio de natal seja especialmente milionário. Não, nada disso. Gosto e pronto. Desde que me lembro. Comia os chocolates da Regina pendurados na árvore de Natal (“O coelhinho foi com o Pai Natal e com o palhaço no comboio ao circo”), brincava com as personagens do presépio de barro, quase que via o Pai Natal a fugir da chaminé lá de casa depois de ter depositado as minhas tão merecidas prendas (acreditei na existência do senhor até aos seis anos, era muito tansinha) sentia o cheiro (o meu sentido preferido e, para o bem e para o mal, o mais usado) a Natal desde o final de Novembro. O Natal comove-me. Nem tanto pelos bons sentimentos invocados (que tantas vezes não chegam a aparecer), nem pela beleza das ruas de Lisboa, nem pelas prendas desejadas ou pelo reencontro com alguns que não vejo durante todo o ano. Comove-me irracionalmente. Gosto e pronto. Mas apesar disto, agora sou oficialmente uma pessoa crescida (dizem) e devo dizer-vos a verdade: o Natal é uma época absolutamente caótica na qual as regras de convivência social mais elementares são infringidas. A começar desde logo pelo Pai Natal: além de introdução constante em propriedade alheia (prática reiterada) infringe as regras simultaneamente da boa educação (em muitas casas nem sequer é convidado e aparece a horas pouco próprias) e as de uma sociedade justa dando mais aos mais ricos e menos aos mais pobres, safando-o, deste último ponto de vista, a cor do fardamento que, embora tenha origem no capitalismo americano, é factor parcialmente atenuante. Na minha opinião, sendo absolutamente fã (lá está o Scolari) da discrição, prefiro o azulinho da Nivea. Mas gostos...
Depois as pessoas no geral enlouquecem: compram o que não podem, provam aos outros o que não devem, conduzem depressa de mais, alucinam literalmente sem recorrerem a qualquer substancia psicotrópica ( o que, convenhamos, dá para poupar uns trocos).
Depois a família: perguntas constantes do tipo “já compraste a prenda para o teu primo Miguel?” exasperam. Não vejo o primo Miguel vai, por coincidência, fazer um ano, nem sei bem o que ele faz, não sei o que gosta e ainda bem. Se um desconhecido lhe oferecer prendas, isso não é a marca do desodorizante, acho que deve ser Natal.
Depois a televisão: desde o bébé que faz xixi e cócó quase real, até ao arsenal militar de plástico os anúncios de brinquedos vão do absolutamente kitch ao deprimente. Depois, há, claro, o “Natal dos Hospitais”, para o qual não tenho palavras, que já tem anexos como “As mais belas canções de natal” e etc. Os filmes vão algures parar à “Música no Coração”, ao inglês “Espirito de Natal” ou ao “Sozinho em casa parte XII" em que o puto já não é puto e fica todo contente quando se esquecem dele, assim pode ir “mandar uns riscos” na sala à vontade.
Depois a comunicação virtual: durante ano ficas desempregado, divorcias-te e queres cortar os pulsos, és internado, para a necessária lobotomia, ou simplesmente declaras publicamente a tua insanidade. Ninguém quer saber. A quinze dias do Natal entopem o e-mail e o telemóvel de mensagens mais ou menos pirosas de origem duvidosa, desejam-te paz, saúde, felicidade e principalmente muitas prendinhas. Ainda há aquelas mensagens altruístas que falam nos pobrezinhos e nos desamparados deste mundo. É a declaração universal de incoerência.
No meio desta insanidade sazonal ainda me julgo a salvo. Dou prendas modestas e escrevo postais da Unicef a quem amo, evito a televisão, enfeito a casa alegremente, apago as mensagens virtuais sem ler, proíbo-me de entrar em lojas após 20 de Dezembro, tento, enfim, não provar nada a ninguém, esforço-me para que ninguém me prove nada a mim. Deve ser por isso que ainda sou fã (como o Scolari, certamente) e sobrevivo à época natalícia.

...com os pés de fora


"Sorria assim que acordar. Livre-se logo dessa obrigação."
W.C. Fields

quarta-feira, novembro 15, 2006

As cinco manias


Após o desafio lançado pelo http://raispartamisto.blogspot.com/ (leiam que o rapaz até é engraçado e tudo!) ,cá vão as minhas cinco manias para quem demonstrar interesse (relatáveis,claro! As não relatáveis, pensando bem, se calhar não são manias...) :


1- Quando passeio na rua de noite gosto de espreitar pelas janelas sem cortinas e ver como é a casa daqueles anónimos todos . O meu lado voyerista esgota-se aqui por completo.
½ - Adoro a ordem, as cores que conjugam, a harmonia. Camisolas arrumadas por cores e formato (gola alta para um lado, meia manga para outro). É o meu lado nórdico. Não vale como mania porque acho que é feitío. Não vale como mania porque às vezes, como não tenho pachorra, arrumo como calha.
2- Comer gelado de gianduja numa gelataria da Av. de Roma (quase) sempre que lá passo. É sublime. Faz-me muito feliz. Mesmo. Arrependo-me sempre no primeiro quarto de hora no jogging, quando me dão aquelas “dorzinhas” musculares...
3- Dar prendas. Bem embrulhadas. Adoro dar. Se tivesse mesmo MUITO dinheiro perdia-me. Como não tenho, dou presentes mais criativos. Depois, claro que adoro receber os sorrisos.
4- Quando vou à casa de banho fazer xixi abrir sempre a torneira da água. É pouco ecológico, bem sei, mas descontrai.
5- Beber água pela garrafa ou pela torneira sempre que as boas maneiras permitem. Tenho, desde pequenina, a certeza que a água sabe assim melhor.


Acabo de reler o texto e descobrir que me esqueci de uma mania, que considero um dom porque faço muito bem: dispensar aquele aparelhómetro estúpido do “saca agrafes” e tirá-los sempre com os dedos. Mas como dom acho que não dá para pôr no currículo.
Quanto a lançar o desafio: não lanço. Se quiserem fazê-lo avisem-me para dar uma espreitadela! (Com esta descobri que se calhar menti em 1!...)

segunda-feira, novembro 06, 2006

Pois é.


Bem, nem sei o que escrever, e tudo o mais. No outro dia a miúda ( vejo-a sempre como uma miúda mas já está bem crescidinha, pronto) disse-me: “Oh Tia! A Tia tem opiniões que tanto admiro sobre tanta coisa porque é que não escreve qualquer coisa sobre um assunto sério para eu pôr no meu blog?”. Não sabia de todo que era minha fã, julguei que nem sequer me ouvia muitas vezes! Claro que disse que sim e tudo mais. Mas assunto sério? Bem lembrava-me de uma carrada deles, desde o pedido de aumento de salário das três criadas lá da quinta passando pela festa de beneficência da Tia Talita Vaz e Castro nos jardins da sua casa de família. “Oh Tia não é nada disso!”- disse. “Queria que escrevesse sobre um assunto actual, por exemplo o aborto, pode ser?” Eu disse logo que podia ser e tudo o mais mas não achava nada que o aborto fosse um assunto sério (já o referendaram e tudo!) e assim e muito menos actual. Além de que pensei logo que as pessoas que lêem o blog dela iam ficar logo maçadas quando percebessem qual era o assunto. Mas, vá, sacudi as madeixas da Marina Cruz e disse-lhe que estava bem e tudo o mais. Sou mesmo tola! Onde vou arranjar tempo para escrever sobre isto, agora com o feriado dos finados, a missa extra, a visita ao jazigo de família, as compras para o início de estação, o regresso do Tio a casa por dois dias (coitado ele trabalha imenso para dar conta da fortuna e passa pouquíssimo tempo lá em casa!)? As criadas, que são preguiçosas, já se sabe, ajudam e assim para eu me sentar a pensar neste assunto. Depois tenho de me adaptar de novo ao portátil que tem imensos botões completamente idiotas e tudo. Pela família devemos fazer todos os sacrifícios, lá diz o Senhor Cónego que, recebemos cá em casa para uns almoços muito simpáticos em que ele bebe bastante mais que come mas também já deve estar habituado, são ossos do ofício pobrezinho, e Deus perdoa-lhe de certeza. Ah! Pois o aborto. Claro que sou contra, no referendo fui daquele movimento (Movimento de Defesa da Vida )que tinham uns cartazes amorosos que diziam qualquer coisa do tipo “Não matem o Zézinho” e mais não sei o quê. Achei um bocadinho pepineira aquele nome se ainda fosse “Não Matem o Francisco, o Bernardo, o Dinis, o José Maria” pronto tudo bem! Zézinho achei de povanga mas percebi depois que a campanha era sobretudo para eles que, tinha-me esquecido, também agora votam e tudo mais. Bom, mas dizia, sou contra. Precisamente porque sou mãe, esposa devota e católica praticante, também devota. Acho que o casamento é, como a religião, uma questão de fé. E isso dos que não sabem escolherem acho mal. Pessoas como nós que sabemos, com classe, com berço têm de agarrar na moral e conduzi-la no caminho certo tipo bola do Pilates e assim, estão a ver?. Conheço alguns pobrezinhos que fizeram e algumas amicíssimas minhas, educadíssimas e cheias de fé também que tiveram os seus problemas, não económicos claro, acho que todos de saúde, coitadas, e lá tiveram de fazer sem (quase) ninguém saber. Havia algumas que até aproveitavam para ir à chiquíssima Calle Velasquéz fazer umas comprinhas e ver pelas redondezas uns museus para acabar com o trauma logo ali. Olhe mas, como dizia a mãezinha, são factos da vida, como mulheres temos de os aceitar. Claro que, como na sociedade não se sabe oficialmente, posso continuar a amizade de anos e irmos às compras, a festas, jogar bridge às quintas à tarde e tudo o mais. Ninguém nota nada! Quanto ao aborto dos pobrezinhos não acho bem porque aqueles sítios devem ser malcheirosos, baratinhos e toda a gente lá nos seus bairros sociais deve ficar a saber que o fizeram. Além de que mais um filho não faria mal de certeza porque está dificílimo encontrar criadas, jardineiros e motoristas e assim. Queria também ainda dizer de novo que sou contra e que por acaso até nem tenho filhas nem nada: o Manuel Maria nunca teve namorada, é catolicíssimo e como percebe imenso de moda, decoração e é um excelente chef diz que não precisa de mulheres para nada, o António já é mais parecido com o pai, vai menos à missa, tem imensas namoradas, de certeza, mas ensinei-lhe a ser discreto e nunca me contar qualquer problema socialmente menos aceitável que possa acontecer. Já disse que sou contra não é? Pois é.

sábado, novembro 04, 2006

Reencontro


Fechei os olhos por uns momentos. Estava cansada. Não podia mais. Quando os abri já lá não estavas. Entrei em pânico. Nunca tinha entrado em pânico. Procurei-te por todo o lado. Dentro da caixa de madeira, no canto inferior direito e esquerdo da foto natalícia, no nó do cinto do casaco que me tinhas dado. Nada. Nada de ti. Fechei os olhos de novo. Não podia mais, repara. Doíam de tanto fixarem a tua imagem para o caso a voltassem a encontrar não houvesse erro. Desta vez resolvi continuar com eles fechados. Seguir com rapidez um caminho qualquer, ao calhas, como não devia ser meu hábito. Encontrar e perder outros. Encontros e perdas sem significado. De olhos totalmente fechados. Felizmente. Dava por mim feliz, deitada na relva, com a certeza de que o sol ainda assim me aquecia. Passaram-se dias, horas, anos numa confusão entrecortada com sons novos, muitos sons novos. Não parece nada mas lembro-me muito bem de todos aqueles sons novos. Não deves acreditar porque achas que sou mais distraída que o humanamente permissível. Mas acredita. Via-me dentro do romance do Saramago, que odeio, em que todos são cegos mas vêem mais. Imagem bizarra. Desisti, sem querer, de te procurar. Estava ali no meio daquele romance tolo a caminhar aos saltinhos como as crianças da primária. Que querias que fizesse mais? Um dia acordei com o teu cheiro em cima da mesa. Reconheci de imediato. Sucederam-se assim outros dias, horas, anos que passaram sem qualquer intenção de contabilização. Retomei a busca. Devagar. Sem expectativas. Completamente por minha conta. Entretanto perdi uns bilhetes já usados, enrolei uns novelos coloridos, e, nesta coisa de seguir um caminho qualquer, completamente ao calhas, tive mais cuidado. Acho que tive mais cuidado mas outra vez sem querer. Não estava sol naquele dia em que abri os olhos. Não era um dia bonito nem nada que se parecesse. E eu estava ali no sofá a sonhar que via alguma coisa na televisão. Refugio confortável no ócio. Distrai-me e abri os olhos, pronto. Não tenho explicação para muita coisa, bem sabes. Deixei de a buscar. A explicação. O que é mais estranho é que a tua foto estava desde sempre no écran do meu telemóvel e, ao que parece, tinhas acabado de sair para ir buscar um petisco para o jantar. Sorris, pois é. Não tenho nenhuma vergonha de te contar isto. Mesmo agora aqui enroscada no teu colo. Quanto ao resto, não ligues, já disse que não tenho explicação para muita coisa. Deixei de a buscar. A explicação.

quinta-feira, novembro 02, 2006

A minha música preferida...

... de sempre: Chico Buarque a cantar "João e Maria". Não resisti partilhar.

Agradável surpresa


Algures neste mês calmo de Outubro fui arrastada para o cinema para assistir a um filme com um título mais ou menos estúpido "Família à beira de um ataque de nervos". Sem ter lido nada de concreto na imprensa pareceu-me que podia ir de um filme cómico série Z até a um drama familiar de cortar os pulsos se vissem a coisa à letra. Nada disso. Ou melhor tudo disso. Ou melhor ainda tudo disso e de mais alguma coisa. Poético. Leve. Muito carinhoso. Critico. Muito também. Cómico. Triste. Hilariante. Belo casting com especial particularidade para a Olive que me é muito familiar. Gravaram-me a banda sonora (Viva!!) que é adorável e que oiço compulsivamente. Procurem-na no site oficial do filme que afinal se chama "Little Miss Sunshine" ou em http://www.devotchka.net/cms/?q. E não o percam...mesmo.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Férias


Aí estão elas. Tardam mas não falham. Antes de partir um mês inteirinho deixo uma palavra de apreço e compaixão a todos os desesperados que, nesta altura do ano, vão trabalhar.
Talvez continue a escrever por aqui... ou talvez não, posso fazer o que me apetecer... afinal estou de férias.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Regresso ao lar


Após algumas leituras nos últimos dois ou três Expressos sobre uma corrente emergente feminina intelectual que publica livros e faz conferências acerca do papel fundamental que a mulher tem enquanto fada do lar e que o deve reassumir definitivamente, antes que toda a Humanidade vá definitivamente à sua vida, resta-me só dizer humildemente que está bem e isso tudo desde que:
a) tenha ama (nocturna e diurna como a Catarina Furtado) para os putos vindouros;
b) cartão de crédito/rendimentos de outra origem sempre disponíveis para essenciais à sobrevivência (Spas, trapinhos,viagens, etc) tendo sempre em vista estar impecável para ele (quer fisica quer intelectualmente);
c) staff de pessoal que coordenarei arduamente nas tarefas diárias do lar;
d) carro disponível com chauffer para carregar todos os bens essenciais à sobrevivência (ver b).
Assim, meus caros, renuncio à carreira mais ou menos promissora e regresso ao lar, muito sossegadita, sem ter de provar tanta coisa a tanta gente, armada em fútil para não me chatearem, mas tendo todo o tempo do mundo para fazer secretamente o que me dá prazer.
É a fabulosa era das domésticas “visa gold”!

terça-feira, setembro 26, 2006

De regresso


Viajar faz-nos sentir bem, muito bem e... tão pequeninos!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Equívocos


Numa participação de uma das polícias mais famosas do nosso país lia-se recentemente aquando da enumeração exaustiva do rol de objectos furtados, passo a citar:

Um porta chaves com a imagem do "Chega e Vara".

Deduz-se que se tratava do Che Guevara mas, com esta malta, nunca se sabe...

quarta-feira, setembro 13, 2006

Então até já


No colo, naquele colo aprendi a enrolar novelos de lã. Azuis. Amarelos. Vermelhos. Verdes. Naquelas mãos enrugadas reparei que o mundo tinha relevo, montes e vales, rios grandes e pequenos. Avó. Avó. Repeti sempre na certeza que não gastaria nunca aquele nome que não era um nome era um laço só nosso daqueles bem apertados pelo tempo. Naqueles bolsos descobri botões cheios de solidão, rebuçados para a tosse que não tínhamos, pedacinhos de linhas que não serviam para cozer nada, talvez fizessem companhia aos botões. Naqueles óculos vi formigas gigantes e letras pequeninas que escrevia como se delas tivesse medo. Não tenhas medo das letras avó. Não tenho medo, elas fogem destes óculos demoro muito a encontrá-las. Naqueles passos rápidos e seguros tropecei na sua doçura disfarçada de fragilidade. Naquela voz serena avistei todos os outonos e invernos de que me lembro. Pequena vem aqui. E eu ia logo, grande, enorme, por ser assim chamada. Naquele fogão a lenha sentia o cheiro agridoce dos seus cozinhados, amargura com amor misturados em proporções desiguais. Naquelas escadas sentava-me a seu lado ensinava-a os bichos e ela ensinava-me as pessoas. Naquele baú aberto estavam os seus lençóis bordados e as suas mantas tecidas, estranhamente cheirava a castanhas acabadas de assar, estranhamente parecia ter estado sempre fechado. Naquela cama ouvia-lhe todas aquelas dores mudas, era ensurdecedor aquele barulho. Naquele lavatório lavava-lhe o sorriso todas as manhãs porque ela me pedia. Riamos muito com a possibilidade de haver sorrisos atentos, sinceros lavados por mim. Naqueles olhos, minúsculos, há muito escondidos atrás daqueles óculos, aprendi que o que de mais precioso temos deve ser ali guardado. Naquele adeus que não foi um adeus, foi um então até já, quando voltas, já vens não é, descobri que há pessoas das quais nunca nos despedimos.

domingo, setembro 10, 2006

A Mulher que arranhou o Gato





Embora não seja uma especial fã do Nuno Markl dei por mim este domingo, numa esplanada à chuva (aqui já chove!) no meio da tarde, a fazer uma compilação de noticias bizarras da imprensa (Sábado e Expresso) deste final de semana. A bizarria aumenta a cada publicação. Suponho que seja por "questões editoriais", leia-se para vender mais e mais. Se assim não é acho que o mundo está mesmo a enlouquecer ou então sou eu que fiquei parada algures no tempo. Entre loucura, imaginação delirante ou hábitos sui generis deixo-vos aqui quatro amostras.

* da estatistica(da noticia amarela mesmo aqui ao lado) não devem ter conseguido ler nada mas trata-se de uma sondagem feita em Itália sobre relações amorosas e sexo no emprego. 23% confessaram namorar ou até fazer sexo na hora de trabalho e 80% (dos 780 inquiridos) queixaram-se da falta, no local de trabalho, de sitio apropriado para o amor (Hã???). Latinos!

sexta-feira, setembro 08, 2006

Cá dentro


Há um mar que navega em mim. Há uma onda que me empurra na rebentação para ti que dormes irremediavelmente na areia. Há um barco que se afunda frequentemente. Há uma concha que nunca se abre e um cavalo-marinho que queria ser uma sereia e uma sereia que queria ser uma gaivota e uma gaivota que queria ser peixe e um peixe que eu queria ser.
Há um mar que adormece em mim mesmo no Inverno, mesmo quando a nortada me sufoca, há um mar que acorda em mim e é nele que mergulham os sonhos do passado e emergem os sons do futuro.
Há assim em mim um mar, imenso que me ocupa, me arrebata e me deixa pouco espaço para nele desenhar ilhas que me atraiçoem.

quinta-feira, setembro 07, 2006

É cool!


É só a melhor revista virtual que conheço. Dá-vos todas as dicas culturais (mais ou menos alternativas) se estiverem por Lisboa e arredores. A mim, que só vou aí, até ao final deste ano, uma vez por mês, faz-me sonhar acordada.
http://lecool.com/actual.html

quarta-feira, setembro 06, 2006

Mais que mais ou menos




Para espantar a calma e acelerar o tempo desta vida (ainda) insular ando de livro para livro, de filme para filme, de conversa para conversa. As últimas vou poupar-vos, não porque sejam secretas ou especialmente desinteressantes mas porque tenho mais que fazer que transcrevê-las. Assim fica aqui o ultimo livro que li e o último filme que vi (com pipocas e tudo).
“A Instrumentalina” é um conto de trinta e tal páginas da Lídia Jorge que fala de infância, das suas recordações e de um reencontro com elas muitos anos depois. Simples e bem escrito, não sendo nenhuma obra prima, mas tocante em algumas passagens. Bom para ler num bocadinho de tarde ensolarada de esplanada.
“O Capuchinho Vermelho” é um filme que, não sendo hilariante, como esperava (as expectativas é que por vezes lixam tudo!) é bem construído contando a história clássica como se tivesse sido acabada de inventar no século XXI, o que envolve mistério, acção, intriga, polícia, total reconversão dos papeis sociais tradicionais, enfim só falta o sexo mas ainda não foi desta, se bem que há um je ne sais quoi de flirt entre a Capuchinho e o “doce” coelhinho mas, como é uma perversão, os guionistas detiveram-se no “maiores de 4” e controlaram-se.

Fotos de Infância




Agora sou eu a escrever nas paredes do meu quarto de brinquedos. Os pais forraram-nas de papel cenário para reinventar alfabetos e desenhar o sol e as flores de cores a fingir.
Agora sou eu a desenhar na cara das bonecas que insistem em me dar, não as forraram com papel cenário e, no meu alfabeto, escrevo na testa e na boca da Tucha “Onde está o meu irmão?”.
Agora sou eu perto de um poço, o meu irmão não veio porque os meus pais não deixaram. Já desenhei um irmão e deram-me outro em forma de urso de peluche, pode ser que sirva!
Agora sou eu a apanhar os animais que o meu pai também desenha mas com a sombra das mãos. Alguns são maus e eu sonho com eles, acordo, dão-me um biberon de leite com chocolate e retomo um sonho de outra cor.
Agora sou eu no fundo das escadas, acho que elas me partiram um braço cansado de estar inteiro, depois do gesso vou jogar ao elástico. Descobri que as minhas escadas tiveram pontaria, não posso escrever os números no teste de matemática!
Agora sou eu e os meus berlindes na praia. Perdem-se na areia, rouba-mos o mar. Peço à mãe que me compre outros.
Agora sou eu no cinema, subo a pique e alcanço o topo da cadeira, grito “Cuidado!” no momento em que a mãe do Bambi ia morrer. Aviso sempre todos os desenhos animados mas descobri a custo que nunca vou falar suficientemente alto para me ouvirem… acho que estão muito longe. Vou guardá-los na parede do meu quarto de brinquedos quando chegar a casa.
Agora sou eu e o gato que me arranha e eu arranho-o também porque sou um gato… mas ele não sabe.
Agora sou eu de novo, acho que o mundo encolheu num ápice, foram poucas as pessoas que ficaram maiores, aprendi o alfabeto dos outros mas até agora ainda não me conseguiram ensinar o caminho que quero aprender.

domingo, setembro 03, 2006

Projectos


Queria ser

Cabeleireira
Treinei incansavelmente na Tuxa, esgotei-lhe o cabelo e a paciência dos que me educavam
Não fui.
Bailarina
Aprendi durante quatro anos, doíam os joelhos e os pés, guardo as sapatilhas
Não fui.
Agricultora
Mexi na lama, nos bichos, nas raízes das plantas, mergulhei nos açudes compulsivamente. Ainda o faço. Em part-time
Não fui.
Nadadora
Porque o mar é mais forte que (quase) tudo. Depois de muito cloro e treinos diários sentia-me cada vez mais em terra
Não fui.
Cozinheira
Aos primeiros brigadeiros endurecidos enfureci
Não fui.
Médica
Mas passou-me logo quando vi a dor
Não fui.
Arqueóloga
E descobrir literalmente o passado. De repente interessou-me mais o presente
Não fui.
Arquitecta
De olhos nas fachadas, nos pormenores. Apercebi-me das minhas imprecisões e indecisões
Não fui.
Advogada
Fiz curso e tudo. Desisti da ideia, conclui-a demasiado “nãoeu”. Há quem tenha coragem e feitio. Admiro
Não fui.

Então tento ser

Salvadora do mundo(passo a imagem bíblica e megalómana)
De olhos nos jornais, nas pessoas. Descobri que posso simplesmente tentar salvar o meu quotidiano salvando o dos outros e vice versa sem grandes ambições, com pequenas acções.
Tenho dias.
Viajante
De olhos abertos ou fechados. Com dinheiro e aviões, a pé pela cidade onde habito e de bolsos vazios. Conhecer tudo. Ansiosa. Demoradamente.
Ando a tentar...
Escritora
E sou aqui, em segredo, só para vocês. Com mais ou menos jeito. Sou dentro do meu portátil, da minha gaveta, das minhas mãos. Sou desde sempre, pelo menos, cá dentro.

Socorro!


Dou por mim a temer fazer zapping assim que finda o telejornal. O problema está identificado: a programação deprimente dos canais generalistas privados que resolveram apostar e nos arremessar com a famosa (e fabulosa!?) ficção nacional. É neste momento, e só neste, que fico feliz por ainda não ter uma criancinha que monopolize o comando em prime time. Tudo é mau: os textos, as cores, os cenários, os tons de voz, a mensagem. Admito que num caso seja muito menos fútil e talvez roce o conceito de “educativa” “Não tenho nada, mas tenho tenho tudo, sou rica em sonhos e pobre pobre em ouro(...)” mas perde pontos de imediato quando, tirando as más da fita, nos apercebemos o quão irritantes, xaropozas, mal vestidas e limitadas são as personagens principais. Já ouvi um “a gente vamos” e não sou, obviamente, espectadora frequente. Mudando de canal, e alertada pelo meu melhor amigo, esse sim espectador assíduo (?!), temos um grupo de adolescentes que vivem sabe-se de lá do quê, não fazem nada de jeito durante todas as férias de verão (para não dizer todo o ano) têm sempre bikinis novos todos os dias e namoram, acabam de namorar, recomeçam, traem, dançam, bebem, namoram e criam intrigas, muitas intrigas. Dizem-se o reflexo desta juventude que assim sendo é a mais vazia, fútil, irresponsável, néscia, inactiva de todas as juventudes que já ouvi falar.
Resumindo temos por um lado um remake da Cinderela (mas mais feia, menos ingénua, mais burra e sem o sapatito que tanta graça lhe dava) que diz que tudo o que é bom é “refixe” e por outro um remake da série brasileira “Malhação” com adolescentes despidos ou vestidos mas com vontade de se despirem. E é nestas alturas, sobretudo sabendo que 2/3 das audiências destes dois programas estão na faixa etária abaixo dos 15 anos, que tenho saudades da fabulosa “Árvore dos Patafúrdios” ,das curtas do Vasco Granja, do “D’Artacão” e de todos os outros que por certo se estarão a lembrar. Relativamente ao outro terço, acima dos 40, fico saudosa das novelas brasileiras, tão criticadas, mas que se tornaram clássicos e que tanto nos divertiam como a “Dona Xepa”, “A guerra dos sexos”, “Dancing Days”, “Tieta do Agreste”, “Roque Santeiro”. Resta-me assim, em prime time, apagar, resignada, a televisão e ir obrigatoriamente fazer alguma coisa de jeito.

Para esquecer.


As dores nas costas voltaram de novo. O portátil diz que não encontra o sistema operativo. A secretária está vazia de interesse. Apareceu um sinal (discreto) mesmo no meio da testa. A humidade está a 95%. Faltam duas semanas para Paris. O queijo do pequeno almoço era plastificado. O pesadelo foi (quase) real. A borbulha cresce ao ritmo alucinante das olheiras. Levantar (muito) cedo. Obras no piso inferior. Falta tempo e pachorra para arranjar as unhas. Falta inspiração para escrever. As ideias não regressaram das férias que ainda não tive. Há (leves) ataques de hipocondria. Impossível descobrir um livro de jeito para substituir o que acabei de guardar. Há um elevador que chia entre o primeiro e o segundo andar. Há um sol quente que não brilha. Há um candeeiro coberto de pó. Há dias muito difíceis.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Jackpot


Há dias em que tudo aterra ( e muitas vezes de emergência) em cima na nossa secretária. Hoje é um desses dias. Talvez por ser sexta feira. Talvez porque o destino assim quis ou talvez porque sou aúnica que não foi de férias e que pode despachar a papelada urgente. Mas para além da quantidade do que aterra temos de analisar cuidadosamente a qualidade. É aí que está o interesse. Assim sendo temos reunido num só dia:
  • um espelho rectrovisor
  • quatorze Euros
  • uma parteleira
  • um brasso partido

e para terminar

  • um furto por escalonamento.

Jackpot!!!!!

sábado, agosto 05, 2006

Bombas e biquinis


“Não é a melhor altura do ano para falar de guerra. Talvez seja a melhor altura do ano para fazer guerra(...)” lia hoje na “pluma caprichosa” da C.F.A. E por aí adiante desbravava o texto incisivo, muito critico a esta (des)ordem internacional do início do século XXI. Depois de todas as imagens, depois do barulho ensurdecedor das explosões e dos choros, depois de tudo o que já foi e o que estará para vir apetece-me MESMO fazer as malas e emigrar para outro planeta, de preferência fora do sistema solar. Jantava, um destes dias, frente ao telejornal, apercebi-me que intercalava entre destroços de dois povos e uns biquinis e pareos das “Xuxus” e “Xixis” em plena praia dos Tomates, dos Marmelos ou de qualquer outra fruta que esteja in e que fique imprescindivelmente em Agosto no Algarve, “the place to be”. Se pudesse optar por um mundo cor de rosa, lá estaria sem pestanejar, num bar da moda, num puff na areia bebericando o último grito das long drinks. Nada contra o mundo cor de rosa, talvez mudasse para azul mas é tudo uma questão de gosto. Não seremos todos hipócritas se dissermos que continuamos calmamente a levar a nossa vidinha de trabalho/lazer enquanto caem bombas sabe Deus (não sabe por certo!) onde! Fico só triste por esta (des)ordem internacional tomar conta de nós, pelos media alimentarem os “especialistas” que opinam sobre o que, muito claramente, não sabem, por tudo o que é mau, doloroso, triste estar banalizado. Tudo o que é desgraça acontecer a Oriente é normal, há uma espécie de meridiano que determina onde é natural morrerem inocentes e onde isso é uma tragédia sem precedentes, os EUA sapientes traçaram-no com toda a artificialidade e inconsciência que os caracteriza. Assim voltamos às Cruzadas, retrocedemos séculos, reavivamos valores xenófobos, racistas, feudais. Morrem israelitas, libaneses, iraquianos, afegãos, cristãos, judeus, árabes, pessoas... como nós.
Deus e Alá cansados, depois da treta do livre arbítrio, demitiram-se, estão, como se vê, em plena silly season, numa qualquer praia ensolarada sentados num puff bebericando o último grito das long drinks e lamentando-se vagamente do Dia da Criação, tanto trabalho para nada.

Quem disse que as letras não falam?


domingo, julho 30, 2006

Ansiedade? Nunca!

Comunico-vos solenemente que dou como finda e vencida esta luta contra um dos maiores males da Humanidade: a ansiedade. Já consigo controlá-la totalmente como fica comprovado neste post ( se quiserem saber os segundos multipliquem as horas por 60, não vos dou a informação porque achei ser um número muito grande e, como tal, desmotivante). Assim sendo,

FALTAM:

Férias Grandes
Dias ---------66
Horas-----1584
Minutos-95040


Regresso definitivo
Dias-------- 219
Horas------5256
Minutos-315360

sexta-feira, julho 28, 2006

The end


Inicia-se a música do genérico final. Lá fora está um calor insuportável. A praia fica longe, muito longe. Recosto-me da cadeira o ouvir atentamente e banda sonora e procuro sobrenomes portugueses no meio de todos aqueles. Encontro sempre pelo menos uns quatro. De raspão fico orgulhosa por ser portuguesa, alfacinha ainda que temporariamente ausente do habitat natural. The end. Já todos sairam apressados para os subúrbios ou para o gelado mais próximo. Escolho a segunda opção enquanto leio um papel pequeno, impresso a preto e branco, abandonado na mesa da esplanada. Fala na possibilidade que um "professor" dá de nos salvarmos mesmo antes do fim do mundo que, pelos vistos, está por aí. Livramo-nos da inveja, do mau olhado, de todos os pecados (os sete e os outros adicionados pelo séc. XXI), da falta de fé e de tudo o mais que pode incomodar (talvez também deste calor que já disse ser insuportável) o corpo e, sobretudo, o espiríto. Assim após consultas, confissões e muito dinheiro passaremos pelo fim incólumes, intactos. The end. Retenho o cliché final, esse muito mais próximo de mim: é preciso salvar para ser salva. O gelado chega rapidamente ao fim, a vergonha de o repetir empurra-me para a agitação do Chiado, mesmo ali ao lado. Enquanto desço as escadas rolantes da Fnac relembro de novo o genérico final, confirmo ter saído depois de ouvir a última nota da banda sonora, de ler o último nome. Saí mais salva que sã. Mas depois, é certo, não havia mesmo mais nada. The end.

quarta-feira, julho 26, 2006

Viva a não adesão! ou Nonsense açoriano parte II

“ A essa lei nós não aderimos!” Foi o que me disseram no outro dia . Quem disse não importa. Importa a situação de claro crime tipificado no nosso Código Penal e esta maravilhosa ideia que é a “adesão”. Isto é que é criatividade!... Acompanhada pela busca desse supremo ideal que é o menor esforço, o total conforto, ao fabuloso princípio do prazer. Aderir só ao que nos convém parece-me uma óptima ideia: para já começava por não aderir ao meu avô. Diziam-me “Vá dá lá um beijo ao teu avô!” E eu dizia “A essa parte da família eu não aderi!” E todos iriam perceber esta minha posição, afinal era só uma tentativa de quebrar o tradicional dito do povão de que a família não se escolhe, já os amigos e o marido...
Depois apetecia-me não aderir ao meu chefe. Não por ser meu chefe (contrariamente a 99,5% dos funcionários públicos a palavra “chefe” não causa em mim nenhuma perturbação do foro psicológico de qualquer espécie) propriamente mas por ser um ser humano, correcção, por ser um ser (passo esta ridícula construção frásica) que tem muita pouca noção de, a saber: inteligência, respeito, dignidade, lealdade, integridade e, claro, humanidade. Quando ele me dissesse “Ah e tal você é um ser inferior, e eu agora, que a minha vida sexual até não corre nada bem, vou pisá-la” eu diria “ Olhe eu não aderi a você em nenhum momento, mostre-me o papel da minha adesão à sua autoridade!”. E pronto assunto resolvido.
Não aderia também a qualquer situação que passasse pelo meu conceito de injustiça. Não aderia à morte: á minha, à dos que amo e a de todos os que desconheço e desperdiçam a sua vida sem quererem em causas vãs.
Talvez acabasse por não aderir também ao pneu da minha barriga, em vez de andar nessa loucura do jogging diário talvez fosse mais fácil que, aquando da sua exposição, olhasse para ele sem piedade, apontasse o dedo e lhe dissesse “A ti eu não aderi!”. É infindável a doce tentação da “não adesão”, para não maçar, deixo-vos com um “e assim sucessivamente”.

sexta-feira, julho 14, 2006

Nonsense açoriano


No café do aeroporto de Ponta Delgada, algures neste último ano e meio:
Eu: Bom dia, queria um iogurte natural por favor.
Empregada (apontando para um frigorífico-montra): Natural não temos, só fresco.
Claro que, escusado será dizer, me fiquei pelo singelo copo de leite.

domingo, julho 09, 2006

Quem não viu?


Toda a gente menos o Pacheco Pereira. Talvez também alguns carteiristas nos Aliados ou na Expo. Angola, Irão, México, Holanda, França e Alemanha somam mais ou menos 9 horas de sofrimento fora os intervalos, prolongamentos e penaltis. Mais de um dia útil de trabalho. Depois assistimos às conferências de imprensa, revimos os resumos, escutámos os prognósticos do próximo desafio. Guardámos "pérolas" de muitos jogadores, tivemos a certeza que o Ricardo se inspirou no português baixinho de bigode que reluzia entre ingleses. Trouxemos um quarto lugar, que diz o Sócrates, em muito prestigia o país. Ainda nos conseguimos vingar da França. Estávamos felizes. Hoje é segunda feira,não há futebol, não há selecção, não há peças jornalísticas de 30 minutos em prime time a eles dedicadas, não há bandeiras e cachecóis da marca "Portugal". Serena-se a revolta do Pacheco Pereira. Salva-nos deste vazio o inicío da silly season e as capas em biquini das revistas cor de rosa. Continuamos por isso, e só por isso, com uma vaga sensação de felicidade.

sexta-feira, junho 30, 2006

"Inciclopédia"...

... é um livrinho, publicado pela Editora "Tinta da China", no qual tropeçei aquando das minhas muitas visitas à única livraria de jeito da terra, a "Solmar". Note-se que a outra é a Bertrand cuja empregada achava que D. Quixote era uma editora corrigindo os clientes se perguntassem pela edição ilustrada de Cervantes que saiu o ano passado. Mas falando deste livro que se apresenta como tudo o que não sabia e que queria saber: pareceu-me um pouco americanizado, embora com correctissimas adaptações à realidade portuguesa, mas não resisti e tenho vindo a divertir e aprender muitas coisas com ele.Desde as dez montanhas mais altas do muno, passando pelos nomes Dos Cinco, pelas origens de Oz, por frases de engate em Turco (tudo pode ser útil...), por dicas para testar a frescura de um ovo, pelas expressões famosas do Perestrelo, etc, etc, etc. Deixo-vos umas "pérolas" interessantes. Divirtam-se.