domingo, setembro 03, 2006

Socorro!


Dou por mim a temer fazer zapping assim que finda o telejornal. O problema está identificado: a programação deprimente dos canais generalistas privados que resolveram apostar e nos arremessar com a famosa (e fabulosa!?) ficção nacional. É neste momento, e só neste, que fico feliz por ainda não ter uma criancinha que monopolize o comando em prime time. Tudo é mau: os textos, as cores, os cenários, os tons de voz, a mensagem. Admito que num caso seja muito menos fútil e talvez roce o conceito de “educativa” “Não tenho nada, mas tenho tenho tudo, sou rica em sonhos e pobre pobre em ouro(...)” mas perde pontos de imediato quando, tirando as más da fita, nos apercebemos o quão irritantes, xaropozas, mal vestidas e limitadas são as personagens principais. Já ouvi um “a gente vamos” e não sou, obviamente, espectadora frequente. Mudando de canal, e alertada pelo meu melhor amigo, esse sim espectador assíduo (?!), temos um grupo de adolescentes que vivem sabe-se de lá do quê, não fazem nada de jeito durante todas as férias de verão (para não dizer todo o ano) têm sempre bikinis novos todos os dias e namoram, acabam de namorar, recomeçam, traem, dançam, bebem, namoram e criam intrigas, muitas intrigas. Dizem-se o reflexo desta juventude que assim sendo é a mais vazia, fútil, irresponsável, néscia, inactiva de todas as juventudes que já ouvi falar.
Resumindo temos por um lado um remake da Cinderela (mas mais feia, menos ingénua, mais burra e sem o sapatito que tanta graça lhe dava) que diz que tudo o que é bom é “refixe” e por outro um remake da série brasileira “Malhação” com adolescentes despidos ou vestidos mas com vontade de se despirem. E é nestas alturas, sobretudo sabendo que 2/3 das audiências destes dois programas estão na faixa etária abaixo dos 15 anos, que tenho saudades da fabulosa “Árvore dos Patafúrdios” ,das curtas do Vasco Granja, do “D’Artacão” e de todos os outros que por certo se estarão a lembrar. Relativamente ao outro terço, acima dos 40, fico saudosa das novelas brasileiras, tão criticadas, mas que se tornaram clássicos e que tanto nos divertiam como a “Dona Xepa”, “A guerra dos sexos”, “Dancing Days”, “Tieta do Agreste”, “Roque Santeiro”. Resta-me assim, em prime time, apagar, resignada, a televisão e ir obrigatoriamente fazer alguma coisa de jeito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Graças a Deus pelo Cabo. Pela Fox, pelo AXN, pelo Odisseia, pela National Geographic, pelo Discovery...

Urso Polar disse...

Pela BBC Prime, a Radical
Se não há nada de jeito na 2:, quem apenas tem os quatro canais de sinal aberto, só pode optar por se cultivar numa qualquer outra actividade não televisiva. A net e os livros ganham aos pontos.