quinta-feira, dezembro 30, 2010

2011

As minhas intenções de escrever aqui nestas duas semanas têm sido ultrapassadas pelos acontecimentos da vida. Trabalho de final de ano, obras, mudanças, uma festazinha aqui, um jantarinho ali, leituras obrigatórias do doutoramento, idas ao dentista (que afectam o espirito critico e capacidade criativa de qualquer um)...
2010 foi um ano de grandes transformações do direito e do avesso. Algumas sobram para 2011. Sobra ainda muita esperança para este novo ciclo e um beijo enorme para cada um que, depois destes anos, ainda tem coragem de me ler (vão-se tratar!).

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Natal


Acordei e é de novo Natal. Repetir rituais, sentir um aconchego imenso no meio de todo este frio. A quem passa por aqui : um verdadeiro Natal, ofereçam sorrisos e tempo aos outros.
Podia falar já em 2011 mas até lá ainda tenho muito para escrever!

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Coimbra

Vejo-me de novo em viagens pendulares semanais. Por essa razão redescobri Coimbra. Abandonei a ideia há muitos anos, mal catalogada, numa prateleira de sítios sem particular interesse. Depois de atravessar várias vezes o Arco da Almedina e vaguear colina abaixo colina acima vejo-me obrigada a rever a minha maneira expedita de catalogar lugares. Não é cosmopolita, nem glamourosa, nem presta uma oferta cultural muito além do imenso e intenso círculo universitário. Tem talvez demasiados shoppings, edifícios irreflectidos ou pontes ficcionadas. Talvez esteja demasiado dependente de interesses imobiliários e da elite intelectual que a coroa, dinamiza, projecta. Talvez os pés se arrastem pelo seu passado, tropeçando aqui ou ali no peso de uma história conservadora e revolucionária. Talvez o fado a entristeça e enterneça. Talvez os pastéis a engordem. Mas há qualquer coisa naquelas colinas, na serenidade do Mondego - mesmo quando reclama invasões - no choupal adormecido, no meu trisavô Boaventura, na maneira graciosa de pronunciarem as palavras… Há qualquer coisa ali, naquela cidade, que sussurra baixinho o quanto eu lhe pertenço.

Reminder (again)


segunda-feira, dezembro 06, 2010

And now for something completely real

Lia Ulrich Beck e caía aos trambolhões na realidade:

“Quanta pobreza pode suportar a democracia?”
"Eis a questão: o Estado é neoliberal com os pobres e socialista-protector com os ricos".

Meia dorida, e para descomprir, fui comprar presentes de Natal para as crianças.

segunda-feira, novembro 29, 2010

é o destino


Nesta estrada preta rolando, luzes e luzes de moldura, uns dormindo outros falando de banalidades com quem os espera, outros ainda alienados do mundo ou de si, não dá para averiguar. Outros ainda, eu, a pensar por onde andarás. Imagino-te num automóvel, despenteado, a meio de uma discussão definitiva, daquelas que nos empurram dilacerados para a frente. Imagino-te na varanda, enrolado numa manta que te vou oferecer, ignoras a temperatura nórdica de Genebra e, sem saber, fazes um cheque-mate a tudo o que não conseguias, até ali, dominar. Imagino-te a caminhar, pelos Pirenéus ou pelo bairro, sem cão, só a caminhar à procura de um pretexto. Caminhas por aí preocupado, livre, descontraído, assustado. Imagino-te a escolher um caminho, entrares naquela rua estreita de Amesterdão, cheia de pequenas lojas, onde vais descobrir inesperados presentes para os que amas. Experimentas uns sapatos que te fazem desistir da ideia de alugar uma bicicleta, as alterações de planos são o teu forte. Agora sei-te numa secretária, cumprimentas com simpatia e timidez, habilidoso a esconder o que importa. Tens uma vista e um gabinete onde não cabe nenhuma das tuas ideias, um pequeno aquário que te liberta da claustrofobia, nenhuma gaveta trancada. Imagino-te temendo o tempo porque ainda não me encontraste, não te podes enrolar na manta nem fazer cheque-mate, nem pedires que embrulhem aquele livro raríssimo descoberto na rua estreita e que tanto quero ler. Meu amor, o tempo urge, bem sei, mas descansa, o nosso é já amanhã, hoje estou por aqui nesta estrada, a meio da noite, novamente a imaginar-te e isso deve querer dizer alguma coisa.

terça-feira, novembro 23, 2010

80 anos dele

As Musas Cegas
(...)
Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia
de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.
Há gente que se apossa da loucura, e morre, e vive.
Depois levanta-se com os olhos imensos
e incendeia as casas, grita abertamente as giestas,
aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado.
Amam-me; multiplicam-me.
Só assim eu sou eterno.


Herberto Hélder

quinta-feira, novembro 18, 2010

FMI

Há dias que só me apetece desaparecer para longe. Fazer a mala, marcar quatro golos a Espanha, romper as três zonas de segurança da Cimeira da NATO a toda a velocidade, apertar a bochecha ao Obama, dar canelada ao Sarkozy e tirar o pipo à Merkel. Apanhar um avião imenso que voasse baixinho e servisse perdiz e vinho tinto inexplicável para erradicar o medo. Aterrar no paraíso, em outra Lisboa, onde todos sorriem porque são felizes com o seu modelo de governo assente na educação e cidadania, onde não há subúrbios, nem crianças arfantes, jovens sem esperança, adultos esgotados, velhos sem vida. Quero aterrar nessa cidade branca e azul que parte do Tejo todos os dias para novas descobertas, onde a crise só seja temida se for de valores ou de ideias, onde a sigla FMI só pode querer abreviar Felicidade Mais Intensa.

quinta-feira, novembro 11, 2010

A falta

Era frequente encontrá-lo no início da Av. Fontes Pereira de Melo, acenando a quem passava. Seria loucura, perversão, obsessão, falta do que fazer? Há uns anos, depois de uma excelente peça jornalística sobre ele, entendi que era só feitio. Acenar a quem passa sem qualquer retribuição, ambição, compulsão. Morreu o Senhor do Adeus. Talvez poucos entendam a falta que ele nos faz.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Sonhos férteis


O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


Clarice Lispector

segunda-feira, novembro 08, 2010

Um sonho de realidade

Sonhei, neste fim de semana, que estava sentada num sofá gigante a ver as seguintes notícias:
  • Papa visita Barcelona e cruza um núcleo gay que desata, nesse preciso momento, aos linguadões;
  • Autocarro do Benfica dirige-se para a cidade do Porto ladeado por centenas de luzes azuis (dos srs. polícias)que premonitoriamente o ofuscavam (vide resultado do jogo);
  • A China oferece-se para comprar a dívida portuguesa, num gesto grandioso de generosidade a que aquele país tem habituado todo o planeta.

Apartada dos tortuosos meadros da mente a realidade de segunda feira revela-se serena: o mesmo despertador, a mesma chuva sonsa de Outono, as mesmas queixas no autocarro, o mesmo bicho na castanha.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Reflexão pós debate orçamental e pré cataclismo social

"Hoje em dia, quando todos os partidos nos traíram, quando a política corrompeu tudo, não resta ao homem senão a consciência da sua solidão e a fé nos valores humanos individuais. Não podemos pedir a ninguém que seja justo no meio da demência universal.(...) Mas pelo menos não podemos forçar ninguém a ser injusto. Conscientes do que fazemos, recusaremos a injustiça enquanto pudermos, e serviremos o indivíduo contra os adeptos do ódio anónimo".
Albert Camus


Ou seja : "Estes gajos não têm nível. Temos é de fazer a nossa vidinha honesta e não lhes ligar peva. Assim aprendem logo".
Sr. António do Café

Os meus concertos em Outubro II

Rita Redshoes (a nossa Audrey Hepburn) na Aula Magna cantarolando alegremente músicas dos seus dois cds.

Os meus concertos em Outubro I

Camané no CCB apresentou o seu último CD. Lindo!

terça-feira, outubro 26, 2010

O tempo não é relativo

Continuo a não perceber porque é que algumas pessoas demoram tanto tempo, mas tanto tempo, mas tanto tempo a entender o óbvio.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Bússola

No final dos anos 80 um professor deu-me a nota num teste e, logo a seguir, escreveu "tu és a tua bússola". Tudo a vermelho. Aquilo impressionou-me, tanto que me apaixonei em segredo. Ele lia-me e sabia que eu era uma adolescente desorientada (facto inédito, aliás...), sabia quem eu era. Escusado será dizer que, num piscar de olhos, ele foi colocado em outro ponto do país e eu optei por esvaziar a paixão com um idiota qualquer em beijos roubados no pátio do liceu.
Ontem, ao ver "Comer, Orar e Amar" relembrei-me dele. Tinha começado a ler este livro há dois anos. Confesso que acabei mesmo antes de sair de Itália, no primeiro terço. A E. Gilbert é uma rapariga criativa e cheia de imaginação mas a sua condução da narrativa capotou algures numa das perigosas curvas e contracurvas do meu cérebro. Estamos perante um caso em que o filme é muito melhor que o livro. Além do grande impacto nos Media teve um outro, enorme, em mim, lembrando-me o que tanto tenho buscado depois de cruzar ruinas de cidades e cidades em decadência, de meditar todos os dias enquanto caminho para qualquer lado (menos adolescente, sempre desorientada).
"Tu és a tua bússola". Nem é preciso Itália, India, Bali ou Bardem. É só mesmo preciso saber de onde vimos e quem somos. Só assim saberemos para onde vamos.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Risco



Ela recebeu o relógio que lhe oferecera. Indiferente, mudou-lhe a correia, arejou-o, deu-lhe brilho. Era um relógio lindo, ficava-lhe bem. A ela. Frequentemente marca a cadência dos seus dias. Elogiam-lhe o pulso, o relógio, o tempo que sabe dominar.
Hoje, enquanto transportava numa caixa livros esquecidos algures, riscou-o, dramaticamente, numa esquina aguçada. Pousou a caixa, sentou-se devagarinho nos degraus e chorou como nunca. O acidente lembrou-lhe que afinal aquele relógio, tão perfeito, tinha sido, durante uns tempos, dele.

No regret

Na infindável saga de descobrir coisas interessantes para ler na imprensa, tropeço, desde a Ler à Caras, em entrevistas a pessoas que se destacam pelos livros que escrevem, por empresas que dirigem, pelo nome que ostentam, pelo baton que combinam, ou pela mamoca que operam. Tropeço, dizia, constantemente em exultos ao não arrependimento, à sua natural qualidade de acharem que NADA do que fizerem nesta vida é merecedor de tal sentimento.
Fico parva e relembro-me estupidamente mortal.
Eu que me arrependo todos os dias, pelo menos uma vez de manhã e outra pela tardinha, e faço questão de explicar aos merecedores essa minha caracteristica rara, a da condição humana.
Imagino que quem tenha vindo ao mundo sem coador no cérebro fique em pânico sempre que leia estes intelectuais, líderes de opinião, famosos, inúteis. Imagino que liberte esse medo nos psiquiatras, nos estádios, no colega de trabalho, na doméstica de serviço, na tromba do conjugue.
Assim segue o mundo, resolvido o passado, perfeito o presente, promissor o futuro.

sexta-feira, outubro 15, 2010

País


Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país.

Esta frase do Jonh F. Kennedy tornou-se num desafio radiofónico (TSF) para quem quisesse responder ou pura e simplesmente pensar nisso. Pela minha parte acho que posso melhorar o país se acordar de bom humor todos os dias, se usar os transportes públicos, se cumprir o melhor que sei as tarefas públicas que me são destinadas, se estudar, se aprender a conhecer os outros cada vez melhor, se consumir estrategicamente, se insistir na luta contra a burocracia, se der dois dedos de conversa todas as manhãs com o sábio Sr. António do café, se comprar sistematicamente peixe na D. Deolinda, se não usar sacos de plástico, se desenterrar receitas da minha avó paterna, se publicar coisas que possam ajudar outros portugueses a entenderem, se descobrir muito mais coisas sobre a sua História, se for para fora cá dentro, se passar este amor pelo país aos filhos que um dia terei. É o que posso fazer, por enquanto.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Parto

A montanha pariu homens resistentes, felizes, sobreviventes entre si. A montanha pariu a esperança que tanto fazia falta ao mundo desanimado e deprimido. A montanha pariu companheirismo, vontade de vencer, engenho e arte. Pariu amor, muito amor todos os dias preenchidos de beijos, abraços, suspiros, promessas, saudades. O melhor de todos nós a quase um kilómetro de profundidade trazido assim tão facilmente à tona num parto absolutamente natural.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Não há que chegue

"Um pouco de poesia, Ouriça, um pouco de poesia" repetia enquanto ajudava alguém nas mudanças, esse caos pessoal em movimento escada acima, escada abaixo. Dizia em surdina quando um casal alcoolizado discutia, em stereo, no Metro. "Um pouco, só um pouco mais" refastelada no sofá, refeição ligeira levemente gourmet, copo de vinho, gelado preferido no congelador, preparada para o silêncio de uma noite outonal. No primeito minuto após as 20h o senhor engenheiro e o senhor professor fizeram com que me engasgasse na classe culinária do meu jantar. Esqueci o gelado, fui buscar mais vinho e constatei que há dias que não há poesia que chegue para nos embalar as dores, as constatações, as inevitabilidades, as percentagens.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Meu nome é DuBois, Blanche DuBois

A ida ao teatro D. Maria II para apanhar “O Eléctrico chamado Desejo” é uma aventura. Muito boa, por sinal. Faz-se cada vez melhor teatro em Portugal, sem bocejos, arrependimentos ou reviravoltas na cadeira. A Alexandra Lencastre das revistas cor-de-rosa e das novelas da TVI desapareceu, (re)surgiu a excelente actriz, sem inseguranças, com humor. Ela é a Blanche da magia e não da realidade, mostrando-se infeliz, felina, corrosiva, dependendo sempre “da bondade de estranhos”.
Encenar textos apaixonantes, amados pelo público, dirigir óptimos actores (a surpresa de Lúcia Moniz) e criativos (excelente cenografia e guarda roupa) é finalmente a linha condutora daquele Teatro para qual todos (agora) alegremente contribuímos.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Outono


Fico quase sempre azul nos dias cinzentos.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Com certeza

O problema das pessoas que não têm defeitos é que, com certeza, têm virtudes terríveis.

Elisabeth Taylor

terça-feira, setembro 21, 2010

Fado tropical

Acordei assim: revolucionária e miscigenada.

segunda-feira, setembro 20, 2010

O verão


Li quase todos os livros da colecção de viagens da “tinta da china”
Fui ao Pego
Escrevi o raio do artigo
Fui aos Brejos da Carregueira
Não disse o que devia
Abracei para estancar a saudade
Descobri o fundo do mar
Fui a Compostela
Bebi granizado de melancia com vodka
Disse o que pensava
Trabalhei mais do que o normal
Reparei nas rugas da cara do meu pai
Não abri conta no Facebook
Calei-me e desliguei
Comprei um anti-rugas
Fui ao Meco
Empacotei coisas
Restaurei um armário antigo
Fui a Moledo
Comi pão de sementes de papoila
Candidatei-me
Fui admitida
(Re)descobri a vida de bairro
Disse adeus sem mágoa
Fui ao teatro mais vezes e arrependo-me
Quase não fui ao cinema e arrependo-me
Rasguei umas coisas
Virei-me para o futuro
Cortei muito o cabelo
Apaixonei-me por muitas ideias
Dormi no chão
Provei brunch em muitos sítios
Fiquei muito tempo em casa
Constatei a imensidão deste verão

segunda-feira, setembro 06, 2010

Portugal - poesia em edição revista e actualizada

Mais uma semana de férias aproxima-se: um pé fora, todo o coração, sempre, cá dentro.

segunda-feira, agosto 30, 2010

a certeza

Tinha cinco anos e voava no meu baloiço privado, preso a uma ameixoeira que ainda resiste à minha família. Nada de desportos radicais, desde sempre. Só o balanço frenético do baloiço e ladeiras de triciclo iludiam o meu controlo sobre a lei da gravidade. A corda rebentou, ele capotou numa curva. Vinte nódoas negras, cimento dentro dos joelhos, galo no alto da cabeça, costuras no cotovelo. Lição aprendida: há que insistir no balançar e na velocidade, agora também aplicada em subidas, e a certeza que o controlo sobre todas as leis da natureza é pura ilusão.

Porque volto sempre aos lugares onde fui feliz

“O amor acrescenta-nos com o que amarmos. O ódio diminui-nos. Se amares o universo, serás do tamanho dele. Mas quanto mais odiares, mais ficas apenas do teu. Porque odeias tanto? Compra uma tabuada. E aprende a fazer contas”.

Vergílio Ferreira, "Pensar"

quarta-feira, agosto 25, 2010

Excesso de informação

Mônica

Na verdade, seu guarda-roupa mudou muito, ainda que continue uma predileção pelo vermelho. Ainda é um pouco dentucinha, mas deixou de ser baixinha e gorducha faz muito tempo















Cebola (inha)


Hoje em dia não troca mais os "erres" pelos "eles" desde que tratou sua dislalia com uma fonoaudióloga, mas quando está nervoso acaba dando pequenos "escolegões".











Cascão

Cascão embora continue não gostando da idéia, agora toma banho de vez em quando.(...) turma foi fazendo sua cabeça e com o tempo ele adotou esse costume "bizarro" que toda humanidade tem chamado "banho".










Apesar do choque retirei toda esta informação daqui. Onde está o coelho-arma-de-arremesso? O crescimento, a pressão social trouxeram a elegância, a terapia da fala e o banho.
E o tio Patinhas? Estará nos cuidados paliativos de um qualquer hospital público? Os irmãos Metralha? Com pulseira electrónica em casa a ver o programa da Júlia Pinheiro ou reabilitados a trabalhar nas obras? Os gémeos Huguinho, Zezinho e Luisinho? Vingaram na vida, são hippies ou yuppies? Moram nos subúrbios? Ainda se falam? Descobriram a droga relaxante que lhes acabava com a hiperactividade?

Sinceramente...

...julguei-me tantas vezes isolada quando reflectia sobre a moda da" sinceridade" e a desculpa do "sermos fiéis a nós próprios". As palavras dilacerantes e egoístas são distribuidas com ligeireza acompanhadas dum prévio, supostamente afirmativo e honroso, "eu vou ser sincero" ou "salvo o devido respeito". Mais um alerta à Humanidade até porque lá diz o sábio povão "quem diz o que quer ouve o que não quer"!

quinta-feira, agosto 19, 2010

Um dia vamos todos ter graus mínimos de literacia. Hoje ainda não é o dia.

É certo que cada vez dou menos importância ao passado (visto que dava excessiva), é certo que não podemos saber tudo, é certo também que alguns estudos cientificos têm resultados manipulados, é certo que se trata do maravilhoso universo dos E.U.A. real que nos alimenta a tendência para estereotipar. Contudo aqui fica
O problema é que alguém um destes dias se vai lembrar que seria interessante fazer um destes, igualzinho, ao universo escolar português.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Este ano não me deixaram entrar na silly season...

para o ano tenho de me inscrever na guest list....
Talvez por isso me faça acompanhar de pensamentos como este.

"Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude"

O Leopardo por Luchino Visconti

segunda-feira, agosto 02, 2010

Na ponta da língua

Como desculpa para não ler o que realmente preciso ando fascinada pelo Churchill, redescobri-o por acaso numa biografia emprestada e no maravilhoso Google. Vejam o que encontrei nas minhas buscas:

Telegramas trocados entre Bernard Shaw e Churchill.
Convite de Bernard Shaw a Churchill:
"Tenho o prazer e a honra de convidar Sua Excelência Primeiro-Ministro para a apresentação da minha peça "Pigmaleão". Venha e traga um amigo, se tiver." Bernard Shaw
Resposta de Churchill a Bernard Shaw:
"Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer na primeira apresentação. Irei à segunda, se houver." Winston Churchill

O General Montgomery estava a ser homenageado, depois de vencer Rommel numa batalha em África, na IIª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery:
"Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói"
Churchill ouviu o discurso pela rádio acompanhado dos seus assessores e retorquiu:
"Eu fumo, bebo, prevarico e sou o chefe dele."

Debate no Parlamento inglês. Tudo aconteceu num dos discursos inflamados de Churchill, em que a dado momento foi interrompido por uma deputada da oposição. Todos sabiam que Churchill não gostava de ser interrompido, mas foi dada a palavra a uma deputada que aproveitou para dizer em voz alta e bom som:
"Sr. Ministro, se V. Exa. fosse o meu marido, punha-lhe veneno no chá!"
Churchill, com muita calma, tirou os óculos e, depois de uns minutos de silêncio em que todos estavam à espera da resposta, exclamou:
"E se eu fosse o seu marido, tomava-o."

terça-feira, julho 27, 2010

Motivação

Onde encontrar motivação para escrever um imenso artigo durante todo o mês de Agosto quando o cheiro intenso da maresia afecta os sentidos e escorre areia com conchinhas do cérebro?

segunda-feira, julho 26, 2010

Toponímia

Não gosto muito de falar sobre toponímia. Disso sei demais. Dar nomes a ruas, avenidas, praças, becos sem saída. Não me obrigues a dizer-te como se chamam pracetas, impasses e jardins, inventei-os para não esquecer, decorei-os para não me perder. Toponímia pode ser sim uma conversa maçadora, porquê dos nomes, este numa viela, aquele outro numa praça bem em cima de um miradouro. Há motivos inversamente proporcionais à lógica e as palavras às vezes faltam, falham quando te quero explicar porquê, sobram-me memórias, sorrisos ao dobrar da esquina e umas quantas lágrimas que rolaram calçada abaixo. Não falemos sobre toponímia, limitemo-nos a seguir o trilho do carro eléctrico colina acima, colina abaixo ao ritmo imposto pelas mãos entrelaçadas que já esqueceram os mapas inúteis abandonados nos nossos bolsos.

sexta-feira, julho 23, 2010

O Livro...

... que me acompanha desde os 17 e ao qual volto sempre para relembrar o que é importante.

"Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria direito algum nem razão alguma para tentar governá-los. Sei que são vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus próprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tê-lo sido. Entre outrem e eu, as diferenças que distingo são demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filósofo como da arrogância de César. Os mais opacos dos homens também têm os seus clarões: este assassino toca correctamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas é talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu último bocado de pão. Há poucos a quem não possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui".

Marguerite Yourcenar, in 'Memórias de Adriano'

quarta-feira, julho 21, 2010

África dele

O nosso presidente da silva está por terras angolanas e escusou-se comentar política portuguesa no momento em que tanto se fala em alargamento dos seus poderes. Após este desvio, fundado na profunda concentração no país anfitrião, fico aguardando serenamente declarações históricas, que por certo não se escusará a fazer, sobre a política angolana.

segunda-feira, julho 12, 2010

Ainda

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

Clarice Lispector in Perto do Coração Selvagem.

quinta-feira, julho 08, 2010

Precioso...

...é este filme que fala na vida dura do Harlem monstrando-nos uma mulher imensa, preta, pobre, analfabeta, doente que, apesar de tudo, faz com que os pequenos sonhos de sempre invadam gradualmente a sua dura realidade. A ver ou rever, certamente a guardar.

quarta-feira, junho 30, 2010

Recomeçar

Afinal engasgamo-nos nos com o pastelinho de bacalhau, não propriamente devido aos seus ingredientes mas devido ao cozinheiro, esse grande treinador de risco ao meio de tudo e sapato com a biqueira mais quadrada do Mundo.
Depois há ingredientes que dão um toque de perfeição como o transmontano Eduardo que, a chorar daquela maneira, ainda nos partiu mais o coração.
Acabou o futebol. Talvez já seja tempo de recomeçar a vida.

terça-feira, junho 29, 2010

E ainda (e porque não?) o Mundial de futebol...

Deixemo-los usufruir, com canhas e bocadillos, o seu último jogo deste Mundial em paz. Embora todos sabemos que é bem possível que se engasgem, bale?

Pontuação

Tremo no último grau da escala de Richter enquanto se põe este ponto final. Virão réplicas e reticências mas o futuro, que invade já este presente, tem outra pontuação.

sexta-feira, junho 25, 2010

A sombra da tua sombra, a sombra da tua mão, a sombra do teu cão

Ontem estreou "Brel nos Açores" no S. Luiz em Lisboa e lá estava eu a matar saudades das ilhas e a recordar o cantor que volta e meia me persegue com as palavras. Escrito pelo Nuno Costa Santos - o amigo Melancómico - e interpretado por Dinarte Branco, conta a história de Brel e em particular a sua passagem pelos Açores em Setembro de 1974 - onde se camuflou para não ser reconhecido (Brel, não era preciso... a malta andava na mais preocupada com outras coisas) - aquando da volta ao mundo no seu veleiro.
Um espectáculo verdadeiramente melancómico com apresentações limitadas ( ainda em cena hoje e amanhã). É favor embarcar!

terça-feira, junho 22, 2010

I'm lovin' it

Quem não se deliciou ontem com o belo repasto de golos que a nossa Selecção nos deu não só não gosta de futebol como também não liga muito a Portugal. Contudo deu-me um bocadinho de azia quando o Simão , após marcação de mais um golo, dançou qualquer coisa que, parecendo tola, fazia parte da campanha desse grande patrocinador que é o McDonalds. Como dizia hoje o Fernando Alves, nos seus sábios "Sinais" na TSF, o que precisamos de ti, ó Simão, não é fast food é fast foot.

segunda-feira, junho 21, 2010

Todo este céu, agora sem som


Abraça-me bem
e cobre o meu corpo
enfim
nesse agasalho
são os teus braços
sim
cuida de mim
basta-me um gesto porém
abraça-me bem

bem no teu colo
chega-me mais a ti um pouco mais suavemente assim
tudo por fim são mágoas que eu consolo
bem no teu colo

todo este céu de pássaros e tons muito assombrado
traz o teu sertão bom
todo este som
desce a nós
com um véu todo este céu

lançado à terra
sobre restingas e ilhéus
mil sombras de asas lembram a ausência
de um deus
num último adeus
pois só teu afago me espera
lançado à terra

e qualquer coisa acontece
no mais alto dos céus
qualquer coisa no fundo
do meu coração
mas não sei das trevas
nem da luz
pois sem ti não há
nem céu
nem chão

e se a noite já ronda
minha cruz
luz nas trevas
minha paixão


Fausto Bordalo Dias, numa rara aparição, CCB no último sábado. Mais um momento que que paro o relógio, acertado com a felicidade que este poema sempre me traz.

A hora H

“Sabia que todos os relógios de José Saramago estão marcados nas quatro da tarde, excepto o da cozinha? (...) É que no dia 14 de Junho de 86 Pilar conhece José numa entrevista de rádio que estava marcada para as quatro da tarde. Então José decidiu marcar todos os relógios nas 4 horas..."
Jornal I-on line, a propósito da morte da José Saramago.

Acertar o tempo pelo amor, acertarmo-nos não pelo que dizemos, pelo que escrevemos mas pelo que sentimos, pelo que vivemos. Parar o tempo nos momentos mais felizes de nós, viver na paz dessa felicidade e partilhar serenamente com quem está a nosso lado, com quem nos sorri nas dificuldades e nos respeita sempre. Haverá maior ambição?

terça-feira, junho 15, 2010

Férias com Eles

O novo livro de Inês Pedrosa entra definitivamente no universo masculino. Elas também estão por lá porque provocam, apoiam, fornicam, surpreendem, tramam, morrem. Eles confessam-se ao leitor sempre na primeira pessoa, nascem e morrem numa frase, reconhecem-se e desconhecem-se, tudo enquanto decorre um jantar de velhos (e verdadeiros) amigos numa tasca de Lisboa.
Da Inês gosto sempre mais das clarividentes crónicas, dos homens admiro o conceito de pura amizade onde as palavras mais duras, os julgamentos e as pequenas invejas ficam sempre no seu devido (e restrito) lugar.
Não é propriamente um manual de instruções para os conhecermos, talvez seja uma espécie de post-it para não nos esquecermos do que já sabemos.

Os Íntimos, Inês Pedrosa, Ed. Dom Quixote, 272 págs., 14,36 €

domingo, junho 06, 2010

à descoberta


Nas semanas em que falamos as línguas dos outros, provamos a comida dos outros, trocamos ideias com os outros, viajamos nos transportes dos outros, em que nos relembramos que "pouca-terra pouca terra" é linguagem universal, nas semanas em que os outros não sabem quem somos, em que nos vêem diferentes com os olhos deles, nessas semanas em que descobrimos que as suas vacas dormem mesmo deitadas no prado, em que compramos sapatos na sapataria "Cinderella", em que atravessamos cidades, vilas e aldeias, atravessamos canais e canais, ruas e ruas inundadas de gente feliz e triste, de chocolates, de almas perdidas e encontradas, de sexo, de mãos estendidas, de coisas que se vendem, todas as coisas que se podem imaginar ser vendidas... às bolas, são essas semanas precisamente essas que, com dor e alegria, alternadamente, descobrimos mais um bocadinho de quem somos.

terça-feira, maio 25, 2010

A confusão da precisão

E de novo, numa viagem de metropolitano, uma leitura atravessada, lá estava o “casamento homossexual entre pessoas do mesmo sexo”. Talvez o pleonasmo não exista de facto. Talvez a atenta observação da vida por estes experientes jornalistas os tenha encaminhado antes para a precisão da linguagem. Quem não conhece, afinal, casamentos homossexuais entre pessoas de sexos diferentes e casamentos heterossexuais entre pessoas do mesmo sexo?

quarta-feira, maio 19, 2010

Do fundo


Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar

(excerto de Espalhem a Notícia - Sérgio Godinho)

segunda-feira, maio 17, 2010

Amanhã

Amanhã não me vai apetecer escrever nada. Porque hoje tu não respondes, porque ontem não correspondi, porque antes, o antes deste depois, nós não soubemos. Amanhã não me vai apetecer escrever nada. A folha, outra, que retirei agora da minha gaveta de todas as folhas, vai continuar intacta à espera que um dia consiga cumprir o meu destino e escrever desalmadamente, com alma, tudo o que me vai na vida, que não é tanto como não parece mas que apetece ser escrito. Amanhã não me vai apetecer escrever nada porque só tu me sabes segurar assim na mão. Amanhã, se me apetecesse arriscar, forçar os dias sem ti, a letra, estou certa, sairia muito tremida.