segunda-feira, junho 06, 2011

Ressaca eleitoral

Ontem fiquei sentada no sofá, palavras em directo atrás de palavras em directo, cores que se diluem, pessoas eufóricas e adormecidas, ecos que soam melhor que os discursos.
Portugal tem dificuldade em apaixonar-se. Saltamos de relação em relação numa estratégia insana de fuga para a frente. O argumento para mudar é irrepreensível: já não aguentamos mais. Não amamos o futuro mas odiamos o passado. Fecham-se ciclos por fastio, ligeira desilusão, por irresponsabilidade viciante. Desiste-se do Norte de África porque já não está a dar, atravessamos todos os oceanos primeiros cheios de esperança, de regresso mergulhados em tédio. Os franceses vinham por aí, Portugal já não estava a dar, buscámos o Brasil e depois voltámos, enjoados de tropicalidade. Aguentámos guerras e ditaduras, deixando que o tempo decida por nós. Casamos por conveniência e escrevemos poesia sobre essa infinita tristeza que nos dá o conformismo. Há muito que não ouvimos bater o nosso coração. Talvez o tenhamos deixado pendurado na ponta das armas junto com os cravos vermelhos, talvez abandonado num porão de uma nau afundada pela ganância.

Portugal tem dificuldade em apaixonar-se, cai institivamente nos braços ténues da sua própria esperança, cheio de azedume. Talvez Portugal, cansado, faça tudo para não ter de suportar a solidão.

1 comentário:

Joana disse...

Duras verdades.


:S





Jinhos.