quinta-feira, outubro 29, 2009

Coisas de gaja


Inspirada por esse ícone de beleza que é o Cristiano Ronaldo, decidi recentemente mergulhar no mundo maravilhoso da depilação definitiva. Debaixo de uma luz mágica, quase indolor, ficarei cada vez mais Ann, cada vez menos King Kong. Contudo dei por mim nostálgica, pela manhã, a constatar clareiras de nada espalhadas pelas pernas, há qualquer coisa em mim que parte, lentamente, para sempre.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Bebel bebeu

Segunda feira em Lisboa vi e ouvi a Bebel Gilberto. No palco da Aula Magna caiu (quase literalmente) mais um mito. Guardo as músicas que adoro e imploro para que a memória do concerto se dilua rapidamente.

Das enfermidades


Apercebemos-nos das enfermidades do mundo nos mais leves sintomas, exemplo disso é o frequente acompanhamento do "paraíso" pela palavra "fiscal".

segunda-feira, outubro 26, 2009

Braile

Leio o amor no livro
da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se juntam, como corpos, no abraço
de cada frase. E chego ao fim
para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele.


Nuno Júdice

quinta-feira, outubro 22, 2009

Opiniões

Adão e Eva (versão islâmica da coisa)


Diz-se que a Bíblia é um manual de maus costumes e que Deus não é de confiar.Diz-se. É uma leitura, uma opinião, uma obsessão, uma visão. A Bíblia é compêndio de histórias, o reflexo de uma Humanidade imperfeita e do seu Deus a tentar lidar com essa tamanha imperfeição que, não raras vezes, parece escapar-Lhe ao controlo. É uma leitura, uma opinião, uma visão. Há sempre um grupo de puristas que acha que o Adão e a Eva existiram e que por lá andou uma serpente a carregar maças. Há sempre quem se ofenda ou se ria. Há quem se indigne com palavras mas ignore as acções, dá menos trabalho.

Depois da polémica do Lara com o outro livro de Saramago muito se publicou sobre a relação entre Jesus Cristo e a Maria Madalena. E muito se vendeu e leu, com direito a filme e tudo. Nunca vi ninguém do alto do poder em Portugal dizer que o Dan Brown ofendia.
Por mim comprarei “Caim”, já li as primeiras duas páginas e fiquei muito curiosa. É boa literatura, isso chega-me, a idade a alguns aguça o dom. Compraria sempre mesmo que o original fosse em espanhol, vivemos com a globalização e bem sei que temos por aí uns óptimos tradutores.

terça-feira, outubro 20, 2009

Povo que não lavas no rio


A surpresa que gera uma bela chuvada,devidamente anunciada, nesta época demonstra o grau de alienação dos portugueses. Alienados assim até das estações do ano, sairam à rua de sandálias e de cara triste, desajustados, resmungões sem a esperança de que esta água lhes levará para longe a tristeza latente.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Fada


Metropolitano de Lisboa, fim de tarde, hora de ponta:

- Olá Catarina!
- Olá… como sabes o meu nome?
- Sabes, eu sou uma fada e adivinho tudo (enquanto brincava no banco em frente, fazendo caretas para o seu boneco, reparei no nome bordado no bibe).
Espantada primeiro, desconfiada depois, resolveu testar.
- Olha a minha irmã é a Pochaontas e eu sou o quê?
- És a Branca de Neve (o boneco com que brincava era um dos sete anões).
Teve aí a certeza da minha natureza.
- Oh mãe! Ela é uma fada!
A mãe sorriu, cúmplice.
- Todas as fadas são boazinhas mãe?
- Algumas são outras não.
Pôs-se de pé, mãozitas em cima dos meus joelhos e bem esticada olhou-me nos olhos. Voltou-se para a mãe e disse:
- Mãe, esta é das boazinhas!

E assim fiquei tão estupidamente feliz que, distraída, depois de arrumar a varinha, batendo levemente as asas, saí na estação errada.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Monotonia

A semana que começou com uma exuberante estreia - e simultânea despedida- na "Moda Lisboa" na qual, aliás, muito aprendi :
1) primeiro que havia mais moda e menos Lisboa (é em Cascais);
2) não é de bom tom dizer VIP, agora os locais para pessoas muito importantes ou outras que têm convites caidos do céu têm nomes mais subtis tipo "leClub";
3) que o mundo da moda ainda consegue ser mais estranho que o do cinema português de autor;
4) que nunca se devem vestir integralmente de prateado a não ser que sejam um dos porcos espaciais dos Marretas ou que se estejam a proteger de um incêndio (a Lili Caneças desconhece esta regra);
5) que o cumprimento socialmente aceite aqui é um beijo (não importa sexo, idade, estado de embriaguez) seguido de comentário sobre qualquer peça que tenha vestida;
6) que quando as luzes da passerelle se apagam e os leques da moda deixam de abanar é tudo igual a um comboio suburbano em hora de ponta. Tudo.

Dizia então que após uma semana iniciada desta forma criativa as expectativas relativas aos seis dias seguintes eram altas. A monotonia, contudo, instalou-se:
1) Não fui convidada para deputada;
2) Não faço parte do programa brasileiro "Saia Justa" para me rir histericamente com piadas inteligentes;
3)Não me enviaram para a mobilidade especial;
4) Não recebi nenhum prémio Nobel esta semana;
5) Achei a coisa do "play off" um belo soporífero;
6)O Sócrates não tentou fazer uma coligação comigo.

Deposito renovadamente todas as esperanças na próxima semana.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Retoma

Como sabe bem retomar uma boa conversa interrompida há mais de 10 anos. Até parece que foi ... hoje.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Porque para sempre pode ser muito tempo


Inês e Pedro: quarenta anos depois


É tarde. Inês é velha.
Os joanetes de Pedro não o deixam caçar
e passa o dia todo em solene toada:
«Mulher que eu tanto amei, o javali é duro!
Já não há javalis decentes na coutada
e tu perdeste aquela forma ardente de temperar
os grelhados!»

Mas isto Inês nem ouve:
não só o aparelho está mal sintonizado,
mas também vasto é o sono
e o tricot de palavras do marido
escorrega-lhe, dolente, dos joelhos
que outrora eram delícias,
mas que agora
uma artrose tornou tão reticentes.


Inês é velha, hélas,
e Pedro tem caibras no tornozelo esquerdo.
E aquela fantasia peregrina
que o assaltava, em novo
(quando as chama era alta
e o calor ondeava no seu peito),
de ver Inês em esquife,
de ver as suas mãos beijadas por patifes
que a haviam tão vilmente apunhalado:
fantasia somente,
fulgor que ele bem sabe ser doença
de imaginação.

O seu desejo agora
era um bom bife
de javali macio
(e ausente desse horror
de derreter neurónios).

Mais sábia e precavida
(sem três dentes da frente),
Inês come,
em sossego,
uma papa de aveia.


poema de Ana Luisa Amaral

quinta-feira, outubro 01, 2009

O defeito

Tardiamente descobri qual o pior defeito da Humanidade. Suspeitava da inveja, vigiava a traição mas nada são quando nos deparamos com quem sinta o amor incondicional de outrem, em todas as suas vertentes, como um sinal de oportunidade, como um sinal da mais absoluta fraqueza.

cheque-mate

Proposta de aditamento ao programa do futuro governo do nosso país:

Na sequência do cheque dentista proponho agora o cheque psiquiatra pois não basta um sorriso reluzente e um hálito impecável para embelezar a portugalidade destes dias .