segunda-feira, maio 25, 2009

Auto-estima

Acho que perco demasiado tempo com muitas coisas: com a arrumação, com os jornais, com as (auto) justificações, com os pensamentos dispersos e vagos, com as contas, com a auto-estima... Principalmente com a auto-estima. Ouvi durante anos vozes, dentro e fora de mim, a dizerem, das mais variadas formas, que a minha não é grande coisa. Isso nunca me impeliu para o abismo do divã do psiquiatra ou para o das ladies nights, mas fez com que tropeçasse em equívocos diversos (a que pouparei a enunciação). Numa tentativa de rentabilizar o meu precioso tempo decidi fazer a coisa mais estúpida possível( é um método como qualquer outro): analisar o sentido de ”auto-estima” , tirar esse hífen nacional pedantista, separar as duas palavras, interrogá-las e demonstrar que isoladas nada valem. “Auto” ou contém demasiadas referências à solidão ou lembra oficinas mecânicas. “Estima” foi o que o meu avô escreveu, algures, no bilhete do quinquagésimo aniversário do seu casamento, dirigido à minha avó, não inspira nada de bom, embora socialmente muito considerado. Realmente, dizia, nada valem. Amedrontadas, de imediato renegaram as suas origens, a sua associação precária e desapareceram sem deixar rasto. Procuro, cá dentro, outras que as substituam. Outras menos egocêntricas, menos polidas, menos "cliché", que me empurrem para fora e me deixem mais tempo para perder com a arrumação, com os jornais, com as (auto) justificações, com os pensamentos dispersos e vagos, com as contas...

4 comentários:

Joana disse...

Percebo perfeitamente.

Vivi cada linha (excepto a dos avós, os meus viveram um amor daqueles tão tão que inspiram gerações e filmes e livros e tudo e tudo).

Parece-me que a chave é não procurar. Substitutos. :D
Procurar palavras sim, parece-me bem, sempre, mas para enganar o tempo sem o perder totalmente... :P

P.S. Se não percebeste nada do que escrevi acima, no worries, ocorre-me agora que eu também não, ou muito pouco...

Nanny disse...

Que tal amor-próprio? Ou respeito por si? ;-)

É importante não desprezar de todo a auto-estima, ela faz-nos falta para percorrer a vida sem ser espezinhado...

Toca a armar esses espeinhos, oh Ouricita! :P

Beijoquinhas

Nanny disse...

Vá lá... experimenta estes testes:

http://cyberdiet.terra.com.br/cyberdiet/colunas/030822_tst_estima.htm

http://br.geocities.com/turmadajuli/autoestima.htm

:D

marisa m disse...

Gostei muito da prosa, Ouriça. Tens razão, auto soa a oficina, a fato-macaco manchado de óleo, e a estima cheira a sabão azul e branco, lavanda da ach brito e coisas assim... Nada a que se aspire portanto (e aspirar convoca já imagens electrodomésticas a que preferimos certamente escapar...). Mas a ladies night soa-me muito bem! Já tive algumas e só lamento não ter mais: a expressão, a mim, evoca-me... "mulheres que paravam minadas de inteligência". Ainda tens o meu número? (Porque eu perdi o teu...) Give ladies nights a chance... Prometo bebidas coloridas, "Com malmequeres fabulosos. Ouro por cima. [...] E a mesa por baixo. A sonhar."