quarta-feira, janeiro 17, 2007

Dos meus amores VIII


Os amigos

Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor.
José Tolentino Mendonça

2 comentários:

Maria disse...

Amigos e livros...

...querem-se poucos e bons.


^-^

Ouriço-Cacheiro disse...

Poucos, muito poucos. Mas bons... muito bons! Nenhum best seller sem qualidade (falo de livros e... amigos, claro). ;)