A propósito de uma conversa com alguém um pouco adoentado de desilusão e do meu remédio para a cura, ler mais poesia, deixo-vos aqui uma entrevista já antiga com um poeta italiano me comove, Tonino Guerra. A sua morte recente relembrou o mundo do que escreveu, um poeta guionista responsável, por exemplo, por dois filmes que adoro: Amarcord e La Nave va. Para que possamos não esquecer que todos somos, despretenciosamente, poetas quando nos conseguimos, por momentos, libertar.
sábado, março 24, 2012
quarta-feira, março 14, 2012
terça-feira, março 13, 2012
Atravessá-lo e (quase) esquecê-lo
Deserto
"Dantes havia homens que se retiravam para o deserto. Para melhor se conhecerem, para comunicarem com Deus, mas nenhum -penso - para conhecer o deserto. Alimentavam-se de mel e gafanhotos, quando não jejuavam.
Agora foi o deserto que se instalou no meio de nós. E os seus desígnios não são menos obscuros."
Jorge de Sousa Braga
sexta-feira, março 09, 2012
segunda-feira, março 05, 2012
A arca
A arca onde Fernando Pessoa guardava O tesouro está agora inserida numa comovente exposição na Gulbenkian sobre a sua poesia. Sentir, tocar na poesia dos múltiplos heterónimos é uma experiência imperdível.
Regras de vida
1. Faz o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma mas se fizeres algumas fá-las falsas ou imprecisas;
2. Sonha o menos possível excepto quando o propósito directo do sonho for um poema ou uma obra literária. Estuda e trabalha;
3. Tenta ser o mais sóbrio possível, antecipando a sobriedade do corpo por uma atitude sóbria da mente;
4. Sê amável apenas por simples amabilidade, não abrindo a tua mente ou discutindo livremente os problemas que estão ligados à vida íntima do espirito;
5. Cultiva a concentração, tempera a vontade, faz de ti uma força pensando, o mais intimamente possível, que és realmente uma força;
6. Considera quão poucos amigos verdadeiros tens, porque poucas pessoas são capazes de ser amigos de alguém;
7. Tenta cativar por aquilo que o teu silêncio contém;
8. Aprende a agir prontamente nas pequenas coisas, nas coisas triviais da vida da rua, da vida doméstica, da vida do trabalho, a não tolerares atrasos vindos de ti próprio;
9. Organiza a tua vida como uma obra literária, pondo nela tanta unidade quanta possível;
10. Mata o assassino.
Fernando Pessoa
sexta-feira, março 02, 2012
Um passatempo
Decepção à regra
Sentar-me e
ver os outros passar é o
meu exercício favorito. Entretém.
Não esgota.
É gratuito. Neste meu jogo-do-não
são ou outros que passam
(é aos outros que reservo a tarefa
de passar). Lavo daí os pés.
Escrevo de dentro da vida.
Até pode parecer que não
chego a lugar algum mas também quem
é que quer ir
ao sítio dos outros?
Sentar-me e
ver os outros passar é o
meu exercício favorito. Entretém.
Não esgota.
É gratuito. Neste meu jogo-do-não
são ou outros que passam
(é aos outros que reservo a tarefa
de passar). Lavo daí os pés.
Escrevo de dentro da vida.
Até pode parecer que não
chego a lugar algum mas também quem
é que quer ir
ao sítio dos outros?
João Luis Barreto Guimarães in Luz última, 2006
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