quarta-feira, junho 30, 2010

Recomeçar

Afinal engasgamo-nos nos com o pastelinho de bacalhau, não propriamente devido aos seus ingredientes mas devido ao cozinheiro, esse grande treinador de risco ao meio de tudo e sapato com a biqueira mais quadrada do Mundo.
Depois há ingredientes que dão um toque de perfeição como o transmontano Eduardo que, a chorar daquela maneira, ainda nos partiu mais o coração.
Acabou o futebol. Talvez já seja tempo de recomeçar a vida.

terça-feira, junho 29, 2010

E ainda (e porque não?) o Mundial de futebol...

Deixemo-los usufruir, com canhas e bocadillos, o seu último jogo deste Mundial em paz. Embora todos sabemos que é bem possível que se engasgem, bale?

Pontuação

Tremo no último grau da escala de Richter enquanto se põe este ponto final. Virão réplicas e reticências mas o futuro, que invade já este presente, tem outra pontuação.

sexta-feira, junho 25, 2010

A sombra da tua sombra, a sombra da tua mão, a sombra do teu cão

Ontem estreou "Brel nos Açores" no S. Luiz em Lisboa e lá estava eu a matar saudades das ilhas e a recordar o cantor que volta e meia me persegue com as palavras. Escrito pelo Nuno Costa Santos - o amigo Melancómico - e interpretado por Dinarte Branco, conta a história de Brel e em particular a sua passagem pelos Açores em Setembro de 1974 - onde se camuflou para não ser reconhecido (Brel, não era preciso... a malta andava na mais preocupada com outras coisas) - aquando da volta ao mundo no seu veleiro.
Um espectáculo verdadeiramente melancómico com apresentações limitadas ( ainda em cena hoje e amanhã). É favor embarcar!

terça-feira, junho 22, 2010

I'm lovin' it

Quem não se deliciou ontem com o belo repasto de golos que a nossa Selecção nos deu não só não gosta de futebol como também não liga muito a Portugal. Contudo deu-me um bocadinho de azia quando o Simão , após marcação de mais um golo, dançou qualquer coisa que, parecendo tola, fazia parte da campanha desse grande patrocinador que é o McDonalds. Como dizia hoje o Fernando Alves, nos seus sábios "Sinais" na TSF, o que precisamos de ti, ó Simão, não é fast food é fast foot.

segunda-feira, junho 21, 2010

Todo este céu, agora sem som


Abraça-me bem
e cobre o meu corpo
enfim
nesse agasalho
são os teus braços
sim
cuida de mim
basta-me um gesto porém
abraça-me bem

bem no teu colo
chega-me mais a ti um pouco mais suavemente assim
tudo por fim são mágoas que eu consolo
bem no teu colo

todo este céu de pássaros e tons muito assombrado
traz o teu sertão bom
todo este som
desce a nós
com um véu todo este céu

lançado à terra
sobre restingas e ilhéus
mil sombras de asas lembram a ausência
de um deus
num último adeus
pois só teu afago me espera
lançado à terra

e qualquer coisa acontece
no mais alto dos céus
qualquer coisa no fundo
do meu coração
mas não sei das trevas
nem da luz
pois sem ti não há
nem céu
nem chão

e se a noite já ronda
minha cruz
luz nas trevas
minha paixão


Fausto Bordalo Dias, numa rara aparição, CCB no último sábado. Mais um momento que que paro o relógio, acertado com a felicidade que este poema sempre me traz.

A hora H

“Sabia que todos os relógios de José Saramago estão marcados nas quatro da tarde, excepto o da cozinha? (...) É que no dia 14 de Junho de 86 Pilar conhece José numa entrevista de rádio que estava marcada para as quatro da tarde. Então José decidiu marcar todos os relógios nas 4 horas..."
Jornal I-on line, a propósito da morte da José Saramago.

Acertar o tempo pelo amor, acertarmo-nos não pelo que dizemos, pelo que escrevemos mas pelo que sentimos, pelo que vivemos. Parar o tempo nos momentos mais felizes de nós, viver na paz dessa felicidade e partilhar serenamente com quem está a nosso lado, com quem nos sorri nas dificuldades e nos respeita sempre. Haverá maior ambição?

terça-feira, junho 15, 2010

Férias com Eles

O novo livro de Inês Pedrosa entra definitivamente no universo masculino. Elas também estão por lá porque provocam, apoiam, fornicam, surpreendem, tramam, morrem. Eles confessam-se ao leitor sempre na primeira pessoa, nascem e morrem numa frase, reconhecem-se e desconhecem-se, tudo enquanto decorre um jantar de velhos (e verdadeiros) amigos numa tasca de Lisboa.
Da Inês gosto sempre mais das clarividentes crónicas, dos homens admiro o conceito de pura amizade onde as palavras mais duras, os julgamentos e as pequenas invejas ficam sempre no seu devido (e restrito) lugar.
Não é propriamente um manual de instruções para os conhecermos, talvez seja uma espécie de post-it para não nos esquecermos do que já sabemos.

Os Íntimos, Inês Pedrosa, Ed. Dom Quixote, 272 págs., 14,36 €

domingo, junho 06, 2010

à descoberta


Nas semanas em que falamos as línguas dos outros, provamos a comida dos outros, trocamos ideias com os outros, viajamos nos transportes dos outros, em que nos relembramos que "pouca-terra pouca terra" é linguagem universal, nas semanas em que os outros não sabem quem somos, em que nos vêem diferentes com os olhos deles, nessas semanas em que descobrimos que as suas vacas dormem mesmo deitadas no prado, em que compramos sapatos na sapataria "Cinderella", em que atravessamos cidades, vilas e aldeias, atravessamos canais e canais, ruas e ruas inundadas de gente feliz e triste, de chocolates, de almas perdidas e encontradas, de sexo, de mãos estendidas, de coisas que se vendem, todas as coisas que se podem imaginar ser vendidas... às bolas, são essas semanas precisamente essas que, com dor e alegria, alternadamente, descobrimos mais um bocadinho de quem somos.