
A intuição foi fazer a sua manutenção anual e um excepcional up-grade (faltavam-lhe algumas peças de origem, suponho) e, em despacho conjunto com o olfacto, comunicou-me que, embora não pareça, há algumas coisas que vão mudar... Cheira-me!
Reparei que tudo nos faz crer que o amor é mensurável, a quantidade de beijos que se dá, o tamanho da cauda do vestido de noiva, o valor do presente de aniversário, o quilate do diamante incrustado, o número de vezes que o telefone toca. Há assim amores que se medem aos palmos, de palmo e meio, de meio palmo… Amores avessos à imensidão, à liberdade, às mãos abertas e ao sorriso franco. Amores que se esquecem no banco do autocarro, no papel de embrulho no lixo, numa chave abandonada na caixa do correio. Amores que nascem de um cartão de visita pomposo, de uma farsa encenada ao pormenor, da pintura cuidadosa de máscaras inúteis. Amores de que todos falam, medem, pesam, elogiam ou criticam, que espantam, desiludem, deslumbram. Sempre soube que não fui feita à medida para o amor mensurável, não cabe em mim, magoa-me nas esquinas, inunda-me os olhos, estrangula o coração. O outro, incondicional, imenso, raro, cabe na perfeição na palma de cada mão e faz-me sempre desmesuradamente feliz.
Hoje descobri que só faltam cinco semanas para a sobrinha nascer. Correcção: podem faltar (pode nascer daqui a três semanas ou daqui a sete, se bem percebi a explicação técnica). Ainda não comprei a fatiota (a tia Ouriça tem de estar apresentável para causar uma boa primeira impressão) nem preparei o discurso que deverá ser curto (devido à ainda baixa capacidade de concentração), e evasivo (não lhe posso explicar já um monte de coisas que ela, de qualquer maneira nunca quereria saber, adiemos o momento então...) mas muito caloroso para perceber o quanto (já) dela tenho saudades!
PETIÇÃO DA R.A.S.A. ÀS NAÇÕES UNIDAS
O nosso Presidente resolveu então pronunciar-se sobre questões relacionadas com os Açores, virando assim todo o seu discurso para preocupações de ordem internacional. Só não esclareceu se o Acordo Ortográfico também será ratificado por aquele país que já teve como língua oficial o português, logo a seguir à sua colonização, no séc. XV.