sexta-feira, setembro 21, 2007

Poesia matinal

Tenho o saudável hábito de todas as manhãs, durante a semana, ouvir, quase quase em cima das nove, “Os Sinais” do Fernando Alves na TSF. Ouço-o por tudo, pela preocupação com o mundo, pela voz, pela sensibilidade, com a qual me identifico, e sobretudo porque, quando for grande, gostava muito de escrever como ele. Hoje narrava Fernando a história de um pobre camponês na Baía, Brasil que se deslocara ao Planalto, andando quatro dias sem comer, para que Lula o socorresse da falta de tudo a que sempre fora vetado. Do tudo que seria, para muitos de nós, tão pouca coisa: uns trocados, cuidados de saude, carinho. É esta poesia, uma vezes doce outras cortante, demolidora mas sempre real, é esta pureza matinal que me faz sair de casa, enfrentar uma cidade barulhenta, um dia agitado com um sorriso imenso na alma.

1 comentário:

Unknown disse...

É sempre necessária uma separação das pessoas que rodeiam aquele que escreve livros. É uma solidão. É a solidão do autor, a da escrita. Para iniciar a coisa, interrogamo-nos acerca desse silêncio à nossa volta. (...) Eu não falava disso a ninguém. Nessa época da minha primeira solidão, tinha já descoberto que dedicar-me à escrita era o que eu tinha de fazer. Já o tinha visto confirmado por Raymond Queneau. A única apreciação de Raymond Queneau foi esta frase: «Não faça mais nada, escreva.»

(...)

Tudo escrevia quando eu escrevia em casa.

(...)

A escrita torna-nos selvagens. Regressamos a uma selvajaria de antes da vida. E reconhecemo-la sempre, é a das florestas, tão velha como o tempo. A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria vida.

(...)

A solidão também era isso. Uma espécie de escrita. E ler era escrever.


Marguerite Duras, "Escrever

Boo