domingo, fevereiro 27, 2011
Ondas
Nestes dias de boas e intermináveis conversas à beira Mondego, de algumas insónias saudáveis e de novas (e muitas) sinapses deixo-vos a banda sonora que me acompanha.
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
Bizarrias
Caros leitores,
Preocupo-me com vocês. Com os que estão na fila da Segurança Social, com os que conhecem todas as cadeiras do Centro de Emprego, com os que morrem de tédio no gabinete forrado a pau preto do Brasil, com os que se afundam em pilhas de papeis, com os aquecedores profissionais debiberons ou com os que teclam incessantemente durante oito horas. Se estão deprimidos e querem mudar de vida eis uma oportunidade única. Se obtiverem um bom aproveitamento dá direito a uma digressão mundial (é a globalização) e bonés cheios de moedinhas(é o capitalismo).
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
Trinta anos depois
Ontem voltei ao teatro D.Maria II para ver o Azul Longe nas Colinas. Já conhecia o autor do texto,D. Potter (penso que não aparentado com o H.Potter, embora saiba também fazer magia com as palavras), mas confesso que fiquei surpreendida pela simplicidade, pela interpretação, pela encenação. No caminho para casa, cansada mas reconfortada, fui pensando no momento em que perdi a minha ingenuidade (não o consegui localizar... assustador) e nos dias da minha vida que vão correndo, recheados de momentos não muito diferentes do recreio do colégio que frequentei na primeira classe: as Anas (Sofia e Rita) nunca me queriam emprestar as bonecas loiras e sorridentes e os mil acessórios só porque eu era a melhor aluna da turma e jogava, na perfeição, ao berlinde com o André Pina.
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
(à)Rasca
Ontem, de novo, televisão. Na SiC via o especial sobre a Geração à Rasca. A minha, denominada carinhosamente Rasca, ficou atenta. Nada a criticar no todo, embora a publicidade ao Instituto Superior Técnico em Lisboa fosse um tudo nada exacerbada dada a importância do assunto analisado. Contudo, fiquei boquiaberta quando uma jovem de Vila Real, nos seus 20 e poucos anos, cortava frango ferozmente na cozinha de sua mãe e vociferava contra a falta de emprego desde o momento que acabou o seu curso de Tecnologias da Comunicação, em Outubro passado: “Andamos nós a matar a cabeça durante três anos para depois não termos oportunidades”. A angústia que causa a incerteza é tramada, todos sabemos ciclicamente disso. Mas, jovemàrasca, não digas assim, cheia de raiva, que mataste neurónios durante aqueles poucos anos (ai Bolonha, bela cidade!) a aprenderes coisas eventualmente relacionadas com tecnologia. Matar seria não teres tido a oportunidade de estudar e quereres muito fazê-lo, matar é repetir sem pensar frases de senso comum, matar é cortares o frango com toda a tua ira, matar é a decoração da cozinha da tua mãe (já agora). *
Jovensàrasca, este país não é para velhos nem para novos. É para os instalados (e contra eles nada podemos fazer, somente ansiar pela sua reforma - e pagá-la), para os esforçados (criativos trabalhadores que não se deixam cilindrar pelo absurdo diário) e para aqueles que sabem que matar a cabeça é antes ficar à espera, inamovíveis, que a vida lhes aconteça.
Jovensàrasca, este país não é para velhos nem para novos. É para os instalados (e contra eles nada podemos fazer, somente ansiar pela sua reforma - e pagá-la), para os esforçados (criativos trabalhadores que não se deixam cilindrar pelo absurdo diário) e para aqueles que sabem que matar a cabeça é antes ficar à espera, inamovíveis, que a vida lhes aconteça.
*Jovemàrasca, um conselho, uma ideia: que tal pegares nos teus conhecimentos de tecnologia de comunicação e nos teus outros de gastronomia regional transmontana e fazeres um site delicioso de culinária? Deixa crescer o cabelo, põe lentes de contacto, exercita a parte do cérebro que sobreviveu ao triénio académico e quiçá não puderás ser a nossa Nigella.
quarta-feira, fevereiro 16, 2011
terça-feira, fevereiro 15, 2011
Vers(o)us
Uma noite de profunda insónia, daquelas que, na minha sonolenta vida, só acontecem de dez em dez anos, permitiu mil trabalhos: navegar, ler e reler, estudar e descobrir a programação nocturna da SIC Notícias (já que da diurna só sei de noticias e mais notícias e mais opinião pública e privada e mais notícias).
Num spot fantástico sobre a actividade jornalística do Canal no mundo, em voz off, o poema do grande Oswaldo carioca que me deixa sem palavras (vide post anterior).
Lá para as 4 da manhã uma inquietante reportagem intitulada Israel vs Israel (se puderem vejam, passará repetidamente a semana inteira). Fala de judeus israelitas que ousaram pensar as pessoas e secundarizar a terra e as palavras de Deus das quais, porque lidas pelos Homens, brotam rios de sangue. A coragem de pensar num território onde nada é racional. Aprendi muito, esbateu alguns dos meus preconceitos. Porque a realidade dura, infame, injusta também pode ser versos reescritos todos os dias.
Metade
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
Oswaldo Montenegro
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
Labirinto
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
quarta-feira, fevereiro 02, 2011
Entrar
A porta fechou-se logo atrás de ti. Eu fiquei de janelas trancadas e tapete desalinhado por teres arrastado desastradamente a mala. Não era por aqui que queria começar, embora possa ser o melhor dos começos. Queria escrever sobre portas, trancadas, abertas, perras, escancaradas, arrombadas e sobre malas que se arrastam na ligeireza dos caminhos que percorremos. Entramos e saímos sempre pela porta e com coisas, por vezes tantas, atrás, aos ombros, ao colo. Depois de pensar nisto passei a escolher janelas que me deixam entrar de mãos vazias. Sentada no parapeito ensolarado consigo abraçar-nos sem preocupações, com vista desafogada para amanhã. Nunca mais vi um tapete desalinhado.
terça-feira, fevereiro 01, 2011
Uma anedota de ditador
"Hosni Mubarak foi falar às crianças de uma escola primária e, depois do seu discurso, ofereceu-se para um período de perguntas.
Um rapazinho chamado Ramy levantou a mão e o Presidente egípcio interpelou-o:
- O que queres saber?
Ramy disse:
- Tenho quatro perguntas. Primeira: por que é que o senhor é Presidente há 29 anos? Segunda: por que é que nunca nomeou um vice-presidente? Terceira: por que é que os seus dois filhos, Gamal e Alaa, controlam a economia e a política do país? Quarta: por que é que o Egipto é um Estado miseravelmente pobre e o senhor não faz nada?
Nesse preciso momento, a campainha tocou e Mubarak informou as crianças que voltaria depois do intervalo.
No regresso, retomou a conversa:
-Ok, em ponto estávamos? Ah, já sei... Na sessão de perguntas. Alguém quer perguntar alguma coisa?
Um outro rapazinho levantou a mão. Mubarak apontou para ele e pediu-lhe que se identificasse.
- Eu sou Tamer, respondeu o menino.
- E qual é a tua pergunta, Tamer?
- Eu tenho seis perguntas. Primeira: por que é que o senhor é Presidente há 29 anos? Segunda: por que é que nunca nomeou um vice-presidente?Terceira: por que é que os seus dois filho, Gamal e Alaa, controlam a economia e política do país? Quarta: por que é que o Egipto é um Estado miseravelmente pobre e o senhor não faz nada? Quinta: por que é que a campainha tocou para intervalo 20 minutos antes do que é habitual? Sexta: o que é que o senhor fez ao Ramy?
Esta velha anedota, sussurrada entre portas e relembrada por Issandr El Amarani no seu blogue The Arabist, exprime bem algumas das razões que levaram os egípcios a perder o medo e a reclamar, não em segredo mas nas ruas, o fim de um regime ditatorial em vigor há quase três décadas."
No jornal Público de ontem, ilustrando a revolta no Egípto.
Subscrever:
Mensagens (Atom)