terça-feira, março 30, 2010

Fórmula

Guilherme cruza as manhãs na banheira, as tardes no sofá, as noites na varanda, as madrugadas na cama (não importa de quem). Guilherme sofre de asma, de pé de atleta, de espondilose cervical, de constipações cíclicas e de uma ou outra doença sexualmente transmissível. Guilherme não tem expectativas, perspectivas, angústias duradouras e dores intensas. Guilherme afirma convictamente ter encontrado a felicidade.

Vazio ocioso

Tenho sempre muito trabalho quando me esforço para não fazer nada. Ando de rastos, é o que é.

terça-feira, março 16, 2010

Across The Universe

Um Wainwright por dia dá saúde e alegria!

segunda-feira, março 15, 2010

Sugestões sem complicações

Este fim de semana estive entre casa e...

..."Um dia igual aos outros" no Teatro D. Maria II, sala estúdio - com o melhor actor da minha geração - Nuno Lopes - encenada pelo realizador de um filme tremendo "Alice", Marco Martins. Dois irmãos que se encontram e desencontram na verdade que lhes sai da boca. Fiquei sem palavras e com muita vontade que esgote até 18 de Abril;

... o Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz redescobrindo o refinado humor de Herberto Helder na voz de Maria João Luis;

... o auditório do Museu do Oriente para ouvir de novo Rodrigo Leão - não me canso (ainda apresentações nos próximos dias 19, 20 e 21). A voz da tímida Ana Vieira não é humana, está confirmado.

Para os que encontram defeitos neste programa, descansem, porque também me dediquei a tarefas, consideradas intelectualmente menores pelos bolorentos desta vida, como a alegre observação dos media, o culto do corpo ou o passeio pelas montras primaveris.


segunda-feira, março 08, 2010

Dia sim

Hoje, e sempre, não nos dêem um papel a desempenhar, nem flores, nem estatísticas, nem peluches, nem marchas cor de rosa com balões, nem dicas de como devemos ser super-qualquer-coisa, nem espanto por sermos importantes, audazes, inteligentes. Esqueçamos toda a culpa do mundo por nada, amemo-nos a nós próprias para melhor amar o próximo, ficcionemos a concorrência, por fim,"descoisifiquemo-nos"de vez e sejamos, todos os dias, simplesmente mulheres .

De relance

De relance o anúncio a mais uma telenovela. Na ficção nacional há sempre um homicídio e mil suspeitos, um que afinal são dois, descoberta de parentescos improváveis, maldades desmedidas, trágicos acidentes e isso parece ser o que impulsiona a vida, o caos que cede lentamente à ordem. Agora transplantes, um coração forte, batendo impaciente pelo novo peito, caixa de esferovite por um corredor fora. Avizinham-se grandes discussões filosóficas no cabeleireiro da D. Otília ou na leitaria do Sr. Zé. A ficção nacional é a energia alternativa (embora nem sempre amiga do ambiente) do país real, ultrapassámos as expectativas mais optimistas: produzimo-la já em excedente, para exportação.

Em cheio

Num só fim de semana a genialidade de Tim Burton (finalmente... Alice!), a criatividade de Joana Vasconcelos (exposição "Sem Rede" no CCB) e o primeiro Óscar para melhor realizadora (boa Kathryn!). Ainda estou boquiaberta!






Cinderela - Joana Vasconcelos

sexta-feira, março 05, 2010

Protesto


Enquanto, neste jornal, continuar a escrever o obituário vou estar de luto.

Bullying com efeito boomerang

Encontrar quem, há quase 20 anos, vestia o 32 contra o nosso 38-40 e fazia disso uma forma diária de endeusamento. Reparar que agora veste o 44-46. Abrir um sorriso imenso e mostrar ostensivamente, no simpático cumprimento, que o nosso 38-40 se mantém. Ingenuamente afirmar, devido à distracção, que quase não a conseguia reconhecer.

quarta-feira, março 03, 2010

Estado liquido

Uma passeata pela manhã à chuva pode levar à loucura. Quem é melhor, o que deixa o que mais gosta para o fim ou o que o devora antes de tudo, o que finge não ver ou o que vê para não fingir. Dobro a esquina, Lisboa escorre, recorda-me uma cascata algures no norte de Espanha, fazia aquele barulho mas com sotaque galego. Passa alguém por mim com ar cretino e apressado e relembro-me, num flash, das últimas cretinices da minha vida, entrada por saída, como aquela primeira vez que fiz análises, uma pica que não dói nada, mentira, doeu um bocadinho e ainda hoje me lembro da cara sádica da analista. Dobro a última esquina, no horizonte já se empilham e-mails e considerações que desconsideram o que verdadeiramente deve ser considerado. Chegou a hora de me deixar disto e talvez seja mesmo melhor abrir o guarda-chuva.

terça-feira, março 02, 2010

Sinais de Fumaça

Acompanhei, nos meus longos serões televisivos de segunda-feira, o novo programa do Miguel Sousa Tavares, evocativo do romance de Jorge de Sena que, aliás, adoro. E fiquei triste, sobretudo com a segunda parte, dedicada a entrevistas. Independentemente dos trastes que tem escolhido para fazer perguntas, Miguel tem-se esquecido do essencial… fazer perguntas. Se as faz são retóricas e, vá, são seguidas de um discurso opinativo que poderia até interessar a 1 ou 2% da audiência se fosse consistente. Porque isto de fazer entrevistas a personalidades não basta só andar de autocarro, falar com a porteira ou ir à praça ouvir o que a Sra. Ermelinda do peixe ou o que o Sr. Zé da fruta têm para dizer. Duvido até que faça alguma destas coisas, fica-se eventualmente pelas opiniões do taxistas, do senhor da banca dos jornais e pelas conversas que rouba dos cafés onde pode fumar. É preciso mais, é preciso ler, investigar, pensar e não se deixar levar pelo asco que os outros podem despertar em nós. Da minha parte posso dizer-vos que sobre o nosso primeiro-ministro não tenho palavras, ou antes, tenho mas não perco tempo a escreva-las; sobre o Gonçalo Amaral tenho palavras e são as que o Pedro Mexia escreveu na crónica do último número da revista LER (utilizada, aliás, de forma absurda em tribunal pelos advogados dos McCann) . Sobre o Miguel Sousa Tavares não tenho palavras, tenho dois conselhos: há muita bicharada boa aí para caçar e muita pesquisa a ser feita para novos romances históricos. Sobre mim, finalmente, vos digo que os serões de segunda serão quiça mais culinários mas definitivamente menos televisivos.