Num destes dias, no metropolitano de Lisboa em plena hora de ponta de fim de tarde, viajei na mesma carrugem que uma senhora cega que se fazia acompanhar pelo seu cão-guia, um labrador delicioso cor de chocolate. Coincidiu sairmos no fim daquela linha, estação confusa, interface de outros destinos. Segui-os sem guardar qualquer distância como um bom detective rasca. Cuidadosamente o cão livrava-a de todos os males da plataforma: bancos, caixotes do lixo, publicidade encafuada em montras salientes. Infelizmente só não cumpriu com total sucesso a sua missão porque três pessoas chocaram com eles, três pessoas que andavam furiosamente em sentido contrário, alienadas ou enviando compulsivamente sms. Pessoas que não saltaram aquele obstáculo e ficaram indignadas ou surpreendidas pela incapacidade de ele se desviar. Depois as escadas, primeiro só uma opção, depois, no piso superior, o labrador conduziu-a de imediato às rolantes. À saida ambos cruzaram calmamente o portal mais largo não sem antes o cão-guia se ter sentado e forçado a companheira-dona a retirar o passe do bolso. Perdi-lhes o rasto mas aquela visão de fim de tarde guardo-a comigo. Estar atento, cuidar, observar o que nos rodeia. Simples e, contudo, raro.
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