Há pouco lia este post do "Horas Extraordinárias" - o blog da Maria do Rosário Pedreira - que me transportou para a infância, para o tempo em que ainda não lia mas sabia de cor todos os livros infantis que existiam lá por casa. O meu pai, após dez horas de trabalho, chegava a casa cansado, uns dias desiludido, outros distraido, outros ainda ansiando um futuro tranquilo, sem obrigações ou pressões. Dizia, chegava a casa, comia qualquer coisa ligeira enquanto eu fingia dormir. Assim que ouvia passos no corredor, saltava da cama, carregada com o livro escolhido, e invadia o seu quarto adiando o momento de tranquilidade. Depois, já sentados na cama dele, lia devagar a história eleita, frequentemente as suas mãos eram sombras chinesas, o passe de mágica para cães, gatos, papagaios, fantasmas, avózinhas, soldados aparecerem nas paredes e no tecto. Havia dias que, extenuado, tentava encurtar as aventuras mas a minha memória das histórias, repetidas sem fim, atraiçoava-o.
É assim, talvez sem querer, que se planta num filho o amor pela leitura, pelo mundo ficcional que também é o nosso. Constato que só 2% das familias seguem ainda o exemplo do meu pai - e não digam que os tempos são outros: a atenção e a pedagogia são intemporais. Temo por isso pela língua portuguesa e pelas crianças que não fazem ideia que poderiam ser muito mais felizes.
É assim, talvez sem querer, que se planta num filho o amor pela leitura, pelo mundo ficcional que também é o nosso. Constato que só 2% das familias seguem ainda o exemplo do meu pai - e não digam que os tempos são outros: a atenção e a pedagogia são intemporais. Temo por isso pela língua portuguesa e pelas crianças que não fazem ideia que poderiam ser muito mais felizes.
1 comentário:
Delícia de lembrança. Será que meus filhos têm essa lembrança de mim? Para um tenho plena certeza do efeito, já para o outro...ainda estou para descobrir!
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