Agora imagino-a nadando numa piscina em alemão, a língua que ama. Palavras compridas, imensas, cheias de significado perante as suas braçadas que julga inseguras. Nadar é um enorme prazer que deve disfarçar com o esforço bem simulado. Debaixo de água é o paraíso, um útero, a paz clorificada, a purificação antes da Salah. À tona desce ao Inferno da discriminação. Quase todos se afastam e comtemplam a sua diferença com desdém murmurado. Conforta-a saber que estes são os planos traçados por Deus. Em breve saberá o sentido de toda aquela imbecilidade humana ou quiçá divina. Talvez se revolte, talvez aceite e se radicalize, talvez se refugie na indiferença, qualquer opção a fará renascer. Por ora é só uma criança que gosta de aprender, uma criança secretamente aquática e livre. É fácil distingui-la no meio de todas as outras, excitadas pelo estado líquido do meio: é a de burkini preto, a que nada silenciosa e veloz.
1 comentário:
Agora imagino uma outra, que igualmente ama palavras, compridas ou curtas, que igualmente ama o meio líquido, mais turbulento que as piscinas, mas igualmente aquático. E imagino que suas braçadas estão cada vez melhores e que nem importa mais quem vai estar lá quando vier à tona. Porque no mergulho já criou o princípio, o meio e o fim.
Viva!
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