Desaparecer. Era esse o verbo-chave, o verbo-urgência, o verbo-mestre. Impunham-se sobre ele verbos mais corriqueiros como fazer ou chegar, sufocavam-no adjectivos que atafulhavam o quotidiano urbano. Desaparecer, era a primeira palavra que murmurava quando acordava, a última com quem congeminava antes de adormecer. Este verbo nunca cabia nos seus sonhos, pequenos e freudianos, ele era da realidade e estava em tudo o que fazia contrariada, nas palavras que deviam ser evitadas, na barreira onde esbarravam os “e se…”. Rapidamente tornou-se arquitecta da fuga, desenhou uma fonte única para este seu verbo. Devagar cumpriu minuciosamente os passos definidos, fechou ciclos, declarou, ainda que subtilmente, todos os amores e desamores. Poucos acreditaram que o faria, ninguém atentou o tempo suficiente para entender que o plano estava em marcha. Um dia encontraram casa vendida, contas pagas, secretária vazia. Nesse dia, algures, durante a longa viagem que é desaparecer, ela finalmente conjugava todos os tempos do verbo com um sorriso enorme, um sorriso sem sombra de medo.
1 comentário:
:-)!!!
P.S. Esse plano está à venda?
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