O Mordomo – tradução literal do título original – é um filme que, à semelhança de “Cor Púrpura”, “Malcom X” ou de “As Serviçais” retrata o apartheid institucionalizado de uma democracia que se autoproclama madura, um apartheid que ignorou a abolição da escravatura e que vigorou oficialmente até ao meio da década de 60 do século XX mas que, efectivamente, se prolongou, na penumbra da subtileza, por muito mais tempo. O nosso Mordomo serve os Presidentes dos EUA, de Eisenhower a Reagan, com a tranquilidade institucionalizada da diferença. Luta, por décadas, com o filho, um defensor incorrigível dos Direitos Civis e do Direito de Voto, luta contra a igualdade de que está certo de lhe ser devida. A história da segunda metade do século passado daquele pais e este homem confundem-se: entre o abismo e o orgulho, a dignidade e a revolução paira sempre o absurdo de como a natureza humana é volúvel, inescrupulosa, cínica, displicente. A estoicidade com que se arma para enfrentar a sua dura vida, o que fica do que passou, a tranquilidade do seu renascimento já tardio conduzem-nos a um final que não poderia ser mais feliz.
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