Há palavras duras, áridas que guardo num canto visível, amarradas a memórias do passado e a impulsos combatidos no presente. Essas palavras entristecem-me, quando as olho, lembram-me as bocas, os gestos, o tom que deixaram para trás ao libertarem-se dos outros.Lembram-me o leito das veias descontroladas onde correram ou os icebergs onde foram hermeticamente conservadas.Lembram-me ainda o brilho dos olhos coléricos, maldosos, invejosos, egocêntricos, muitos por mim amados sem nunca terem podido retribuir nada mais que dias e dias idílicos, ficcionados nas histórias perfeitas que vou inventando sobre a minha vida. Essas palavras têm arestas, cortam como o papel, esmagam como cilindros de aço, esforçam-se para destruir os oásis que planto no deserto das más recordações. As de origem freudiana abandonei-as já no fundo do baú dos brinquedos de infância que sobraram quase intactos. As outras são da minha total responsabilidade, já não tenho desculpas para toda esta desarrumação.
1 comentário:
Poderás, contudo, fazer algumas limpezas, algumas arrumações. Deita fora o lixo, empurra para o fundo da gaveta o que não merece aparecer por acaso, e guarda por cima todas as palavras novas, frescas, macias e confortáveis. Palavras como... olha, assim do nada, sabe-se lá porquê, lembrei-me de Urso Polar.
E beijinhos. Muitos.
Enviar um comentário