sábado, abril 28, 2012

são os loucos de lisboa

Porque é sábado à noite, chove e troveja  e um copo de bom vinho tinto lembra-me o Inverno. Há muitas ideias que povoam sempre, em alturas como estas, a minha cabeça: andava há que tempos para partilhar isto e, agora mesmo, um jornal semanário relembrou-me da urgência dessa intenção.

quinta-feira, abril 26, 2012

descobertas a 25 de Abril

Ontem, duas coisas espantosas:

O filme "Florbela" que nos mostra um curto periodo da vida de Florbela Espanca em que foi particularmente infeliz e por isso pouco escreveu. Excelente Dalila, Ivo e Albano. Comovente pela história, claro, mas também por saber que os realizadores portugueses da minha geração dão esperança e qualidade à cultura em Portugal;

Documentário "Os donos de Portugal": estava aberto o 25 de Abril há quase duas horas quando o canal 2 passou este documentário que explica, através da serena voz de Fernando Alves, por quem é (e como é), na verdade, o nosso país governado, praticamente sem interrupções, desde há 150 anos . Não é panfletário, é histórico. Talvez entendamos melhor a razão pela qual a crise actual decorre essencialmente da nossa elite, fraca a governar, óptima a cuidar de si.

terça-feira, abril 24, 2012

Até que a morte os separe


José Mascarenhas acordara com o raiar do sol ao som do batuque de uma pequena obra que decorria na sua casa. Ao seu lado, ainda sonhando,Olinda, sua mulher, vinte e cinco anos mais nova, gabada por todo o Recife pela graciosidade e beleza.
Orgulhoso das suas escolhas e dos seus negócios, cumpria a rotina matinal, criados atarefados, indumentária apropriada, impecável, pequeno-almoço completo, sereno e em família.
O dia seria um novo desafio. Cuidar dos seus negócios, administrar o fluxo de escravos para que a produção não decresça, passear o seu sucesso pelos sítios emblemáticos da cidade onde se reúne, em alguns fins de tarde, a mais fina elite.
Hoje era um dia especial. Um jantar meticulosamente organizado, família e negócios, numa mesa farta e civilizada, um evento a não esquecer.
Olinda apresentou-se mais bonita que nunca. O seu vestido azul-cobalto estava em todo o lado naquele jantar. A noite, menos quente que o habitual, conduzia as conversas recheadas de planos futuros. Servido o último prato, José pede a atenção de todos os convidados e inicia o peculiar relato da traição da sua mulher com um jovem oficial do exército. Olinda, chora, muda e seu vestido azul-cobalto dilui-se na tristeza, agora à vista de todos, que era a sua vida desde o dia que fora obrigada a casar com aquele homem. No final do frio relato, José sugere que todos passem à sala contígua onde tinha sido, por sua ordem, aberto um enorme rasgo numa das grossas paredes. Olinda sabia que a sua hora chegara, fechou os olhos, cerrou a alma e entrou para aquele buraco onde, de seguida, um escravo a emparedaria, repondo a estética impoluta daquela sala de música. No caminho para o alpendre, onde seria, em seguida, servido o melhor licor caseiro aos convidados, José começou a sonhar com Rosa, a filha mais nova, casadoira, de um dos seus melhores amigos.

Nota: “As emparedadas da Rua Nova “ é uma verdade histórica incontornável. Em algumas demolições daquela rua abastada de Recife, Brasil  foram encontradas várias ossadas de mulheres adúlteras, incorporadas, assim literalmente, há dois, três séculos nas propriedades dos seus maridos.

sábado, abril 21, 2012

Sai um poema bem passado...

...para acompanhar uma ida à Tasca do Sol

Quotidiano

Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.
Nuno Júdice, Meditação sobre Ruínas

sexta-feira, abril 20, 2012

Um mar de saudades


Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto ao mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, abril 19, 2012

terça-feira, abril 17, 2012

Saturno





A força de Marte invade-nos, a encantos de Vénus conquistam-nos, o poder de Júpiter inebria-nos. Depois há o meu planeta preferido, Saturno e seus anéis, dois pianos e todo o tempo do universo para o descobrirmos.

domingo, abril 15, 2012

(ainda) O amor









Nas minhas leituras deparei-me com uma passagem interessante acerca do amor e da paixão e da (paradoxal?) violência que eles contêm (Neil Gaiman):


"Estiveste alguma vez apaixonado? É horrivel não é? Fica-se tão vulnerável. Ficas com o peito e o coração abertos a outra pessoa que pode entrar dentro de ti e revolver-te por dentro. Constróis todas essas defesas, constróis toda uma armadura que te cobre de alto a baixo para que ninguém te possa ferir, e depois uma pessoa estúpida atravessa-se na tua estúpida vida... Dás-lhe um bocado de ti. Não to pediram. Fizeram um dia uma estupidez qualquer, como beijar-te ou sorrir-te, e a tua vida deixou daí em diante de ser tua. O amor faz reféns. Entra dentro de ti. Come-te e deixa-te a chorar no escuro, e é assim que uma simples frase do tipo "talvez devêssemos só amigos" se transforma num estilhaço de vidro que vai direito ao coração. Dói. Não é só imaginação. Não é só mental. É uma dor na alma, uma dor real que invade e te rasga e te parte. Odeio o amor."



É um discurso duro mas comum. Há muito azedume nesta verdade que me parece estranha. Aqui entram a peneira e a contabilidade. A peneira porque, devagar, aprendemos a distinguir amor de hedonismo, de medo da solidão, de desejo pontual, de projecção idilica, de cenário propício a representações sociais. A contabilidade porque, no compto do deve e do haver, sobra sempre qualquer coisa boa - ainda que só uma coisa boa - para nos fazer relembrar que há outras pessoas por aí, bondosas, encantadoras que têm a suprema pretensão de saber o que é o amor e isso inabilita-as, em definitivo, para o odiarem.

quinta-feira, abril 12, 2012

Pós Páscoa



Tenho conversado muito. Dito e ouvido muitas palavras. Descanso agora um pouco, boca e ouvidos dormentes, sorriso aberto. Isto de contar e ouvir histórias pode ser tão cansativo como limpar minuciosamente as flores de plástico que a minha avó insistia em espalhar pela sua casa. Pode ser desgastante como ouvir o Pablo e a Carminho num sonho que até aí estava a ir muito bem. Pode ser revigorante como um mergulho ao largo de Sesimbra e descobrir que naquelas águas existem maravilhas, não só suburbanos domingueiros.

Agora escrevo de novo por aqui tentando que os meus dedos malabaristas não resistam a este circo excêntrico que é, por estes dias, o meu teclado.