Acompanhei, nos meus longos serões televisivos de segunda-feira, o novo programa do Miguel Sousa Tavares, evocativo do romance de Jorge de Sena que, aliás, adoro. E fiquei triste, sobretudo com a segunda parte, dedicada a entrevistas. Independentemente dos trastes que tem escolhido para fazer perguntas, Miguel tem-se esquecido do essencial… fazer perguntas. Se as faz são retóricas e, vá, são seguidas de um discurso opinativo que poderia até interessar a 1 ou 2% da audiência se fosse consistente. Porque isto de fazer entrevistas a personalidades não basta só andar de autocarro, falar com a porteira ou ir à praça ouvir o que a Sra. Ermelinda do peixe ou o que o Sr. Zé da fruta têm para dizer. Duvido até que faça alguma destas coisas, fica-se eventualmente pelas opiniões do taxistas, do senhor da banca dos jornais e pelas conversas que rouba dos cafés onde pode fumar. É preciso mais, é preciso ler, investigar, pensar e não se deixar levar pelo asco que os outros podem despertar em nós. Da minha parte posso dizer-vos que sobre o nosso primeiro-ministro não tenho palavras, ou antes, tenho mas não perco tempo a escreva-las; sobre o Gonçalo Amaral tenho palavras e são as que o Pedro Mexia escreveu na crónica do último número da revista LER (utilizada, aliás, de forma absurda em tribunal pelos advogados dos McCann) . Sobre o Miguel Sousa Tavares não tenho palavras, tenho dois conselhos: há muita bicharada boa aí para caçar e muita pesquisa a ser feita para novos romances históricos. Sobre mim, finalmente, vos digo que os serões de segunda serão quiça mais culinários mas definitivamente menos televisivos.
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