segunda-feira, novembro 06, 2006

Pois é.


Bem, nem sei o que escrever, e tudo o mais. No outro dia a miúda ( vejo-a sempre como uma miúda mas já está bem crescidinha, pronto) disse-me: “Oh Tia! A Tia tem opiniões que tanto admiro sobre tanta coisa porque é que não escreve qualquer coisa sobre um assunto sério para eu pôr no meu blog?”. Não sabia de todo que era minha fã, julguei que nem sequer me ouvia muitas vezes! Claro que disse que sim e tudo mais. Mas assunto sério? Bem lembrava-me de uma carrada deles, desde o pedido de aumento de salário das três criadas lá da quinta passando pela festa de beneficência da Tia Talita Vaz e Castro nos jardins da sua casa de família. “Oh Tia não é nada disso!”- disse. “Queria que escrevesse sobre um assunto actual, por exemplo o aborto, pode ser?” Eu disse logo que podia ser e tudo o mais mas não achava nada que o aborto fosse um assunto sério (já o referendaram e tudo!) e assim e muito menos actual. Além de que pensei logo que as pessoas que lêem o blog dela iam ficar logo maçadas quando percebessem qual era o assunto. Mas, vá, sacudi as madeixas da Marina Cruz e disse-lhe que estava bem e tudo o mais. Sou mesmo tola! Onde vou arranjar tempo para escrever sobre isto, agora com o feriado dos finados, a missa extra, a visita ao jazigo de família, as compras para o início de estação, o regresso do Tio a casa por dois dias (coitado ele trabalha imenso para dar conta da fortuna e passa pouquíssimo tempo lá em casa!)? As criadas, que são preguiçosas, já se sabe, ajudam e assim para eu me sentar a pensar neste assunto. Depois tenho de me adaptar de novo ao portátil que tem imensos botões completamente idiotas e tudo. Pela família devemos fazer todos os sacrifícios, lá diz o Senhor Cónego que, recebemos cá em casa para uns almoços muito simpáticos em que ele bebe bastante mais que come mas também já deve estar habituado, são ossos do ofício pobrezinho, e Deus perdoa-lhe de certeza. Ah! Pois o aborto. Claro que sou contra, no referendo fui daquele movimento (Movimento de Defesa da Vida )que tinham uns cartazes amorosos que diziam qualquer coisa do tipo “Não matem o Zézinho” e mais não sei o quê. Achei um bocadinho pepineira aquele nome se ainda fosse “Não Matem o Francisco, o Bernardo, o Dinis, o José Maria” pronto tudo bem! Zézinho achei de povanga mas percebi depois que a campanha era sobretudo para eles que, tinha-me esquecido, também agora votam e tudo mais. Bom, mas dizia, sou contra. Precisamente porque sou mãe, esposa devota e católica praticante, também devota. Acho que o casamento é, como a religião, uma questão de fé. E isso dos que não sabem escolherem acho mal. Pessoas como nós que sabemos, com classe, com berço têm de agarrar na moral e conduzi-la no caminho certo tipo bola do Pilates e assim, estão a ver?. Conheço alguns pobrezinhos que fizeram e algumas amicíssimas minhas, educadíssimas e cheias de fé também que tiveram os seus problemas, não económicos claro, acho que todos de saúde, coitadas, e lá tiveram de fazer sem (quase) ninguém saber. Havia algumas que até aproveitavam para ir à chiquíssima Calle Velasquéz fazer umas comprinhas e ver pelas redondezas uns museus para acabar com o trauma logo ali. Olhe mas, como dizia a mãezinha, são factos da vida, como mulheres temos de os aceitar. Claro que, como na sociedade não se sabe oficialmente, posso continuar a amizade de anos e irmos às compras, a festas, jogar bridge às quintas à tarde e tudo o mais. Ninguém nota nada! Quanto ao aborto dos pobrezinhos não acho bem porque aqueles sítios devem ser malcheirosos, baratinhos e toda a gente lá nos seus bairros sociais deve ficar a saber que o fizeram. Além de que mais um filho não faria mal de certeza porque está dificílimo encontrar criadas, jardineiros e motoristas e assim. Queria também ainda dizer de novo que sou contra e que por acaso até nem tenho filhas nem nada: o Manuel Maria nunca teve namorada, é catolicíssimo e como percebe imenso de moda, decoração e é um excelente chef diz que não precisa de mulheres para nada, o António já é mais parecido com o pai, vai menos à missa, tem imensas namoradas, de certeza, mas ensinei-lhe a ser discreto e nunca me contar qualquer problema socialmente menos aceitável que possa acontecer. Já disse que sou contra não é? Pois é.

5 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!!!

Urso Polar disse...

:0)

Anónimo disse...

Como disse o urso no post anterior, parece que Lisboa fez maravilhas pela tua inspiração.
Gostei horrores tia.

Anónimo disse...

Ah pois é... Vai buscá-la...

Anónimo disse...

Ouriça: (sempre que te chamo isto lembro-me de um cliente que tem uma loja onde vão muitas "clientas")
Lancei-te um desafio no meu blog. É uma daquelas coisas aborrecidas em cadeia, mas não sabia quem mais tramar...
Espero que aceites.
Um beijo