terça-feira, novembro 28, 2006

A moral da estória


Olho em redor e começo a dar total credibilidade a quem se debruçou sobre a problemática, nada inofensiva, da determinante influência dos contos infantis na estrutura da nossa personalidade.
Vejo muita gente adormecida à espera do beijo de amor de um príncipe que anda algures num engarrafamento interminável e que, por isso, tarda em chegar. Vejo príncipes desencantados a experimentar o sapato vezes sem conta em pés claramente deformados. Vejo pequenas sereias a sufocar com o coração fora de água, lobos maus que fazem um-dó-li-tá entre as suas possíveis vitimas.
Basta!
Acho que devo indagar da disponibilidade dos anões para ajudarem. Certifico-me da maldade das irmãs-madrastas-amigas e denuncio-as às autoridades. Chamo 112 a tempo de salvar a mãe do Bambi. Escrevo um e-mail a um reality show de decoração para fazer uma surpresa aos três porquinhos. Compro um gps ao Hansel e à Gretel. Convenço a Bruxa Má a fazer psicanálise para deixar de falar com espelhos de uma vez por todas. Dou ao Capuchinho Vermelho o chamado “banho de loja”. Obrigo os Lobos Maus, em alcateia, a assistirem vezes sem fim ao “Natal dos Hospitais”. Por fim descubro, por minha conta, que não vale mesmo a pena beijar o sapo. Respiro fundo e reescrevo finalmente toda a moral da estória.

3 comentários:

Anónimo disse...

Se eu tivesse o poder de todos os meses escolher um texto de um blog para publicar, este era o texto do mês de Novembro. Fantástica apreciação. Eu revejo-me na parte do sapato (só aqui entre nós), mas quase todas as pessoas que conheço se encaixam numa história.
Desejo-te sorte com os teus sapos.

Anónimo disse...

Fiz-te uma maldade. A segunda...
Prometo que não te faço mais - pelo menos este ano - mas lancei-te mais um destes desafios tontos que circulam por aí.
Beijo

Anónimo disse...

Estou com o Hélder isto é ESTÓRIA MURAL, grande formato a espalhar por uma avenida MARGINAL.