Tudo o que poderia ser mas não é. Mas se não é, não há nada a fazer. O condicional rasteira-lhe sempre os pensamentos. Impede-o de pensar clara e objectivamente. Se tivesse sido, hoje era. Mas não é. E projecta para o futuro. Aventura-se. Ainda pode ser. Talvez, mas será sempre diferente. Logo não é. Será outra coisa, uma que ele desconhece. Uma outra coisa que ele não sabe se pode confiar. Um aperto, uma angústia. Um risco. Urge uma conclusão que pacifique. Se poderia ter sido e não foi é porque não era para ser. O refúgio neste oráculo oco em que não acredita. Um respirar fundo de conformação. Retoma com afinco a página que descreve um esplendoroso vinhedo junto ao Douro. Um alívio invade-lhe os pensamentos rasteirados que, exaustos, rendem-se a um precipício sem fim. Ao virar da próxima página a esperança apagar-se- à automaticamente.
1 comentário:
Sem dúvida o pior condicional/nante é termos esquecido do belo esforço analógico e corrermos em direção ao "automático", quando urgências têm que ter conclusões...ah, que bom seria não ter nada concluído e mandar o condicional passear e deixar o futuro do presente agir!
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