De um lado esta parede que me impede de escrever. Cheia de frechas e de dúvidas, de inseguranças e de incertezas. Um ponto de interrogação a escaldar que me obrigo a esticar, que me leva, com muito esforço, ao espanto de ainda conseguir, de querer ainda conseguir. De um outro lado um prado, imenso. O verde como eu gosto, semeado de papoilas. Ar demasiado puro para as minhas interrogações, extensão demasiado vasta para a minha endurance. Ao fundo um bosque que tem de ser cruzado, ao fundo do fundo, na vertigem da falésia, um mar já cansado de me esperar. No meio eu, sozinha, pela primeira vez sem pensar no rumo a tomar, concentrada no vento, na maneira de restaurar a parede, concentrada na ponta do lápis que daqui a nada se vai partir e eu, caramba, acho que emprestei o afia a alguém.
3 comentários:
Be faithful. Go. :)
Momento de prospecção e assim perscrutar a alma, o ambiente...lembrar que o aparentemente parado ainda está em movimento e que a tensão entre parede, prado, falésia e bosque já traça caminhos e que o meio já é um lugar. E lembrar que o mar jamais se cansa de esperar e que uma ponta a se partir desenhará o próximo rabisco no ato e ao lado, bem ao lado,ao alcance da mào, há outro lápis a esperar...sem precisar do afia!
Porque não mudar para lapiseira, caneta, marcador, teclado... por vezes mudar é bom e uma nova perspectiva ajuda a criar.
Ou então, ir afiando o lápis até ele ficar pequenino, com toda a sabedoria concentrada num pequeno coto de bico rombo, capaz de, com laboriosa paciência, anunciar a mais bela colecção de palavras alguma vez junta.
Quem sabe?
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