Os dias começam com pedras da calçada sob os meus pés. Um puzzle indizível que confunde o sono com que ainda olho para a vida àquela hora. Está tudo calmo, oiço cá dentro o coração quase a sair pela boca. Espreita os poucos que passam, cansados, esperançosos, preocupados, pensativos, distraídos. Há praças e fontes e avenidas suficientemente grandes e vazias para que eu chegue ao limite permitido pelas pulsações meio descompassadas, meio descompensadas. Em brechas de azul vejo aviões sobrevoando os primeiros raios de sol, imagino onde irão assim, tão apressados, àquela hora. E logo uma rabanada de vento em contramão me alerta para esse caminho aleatório, mais uma travessia transgressora, mais um recorde batido. Alongo a preguiça, tento entender o que gritam os meus quadris ou de que se queixa o joelho direito. Retomo o quotidiano a lembrar-me das persianas ainda fechadas, do cheiro das padarias que finalizam o expediente, da delicadeza das árvores, da frescura com que ando aprender a amanhecer. Retomo-me assim mais um pouco, impreterivelmente, todos os dias.
1 comentário:
Belo amanhecer...especial aprendizado, muitas calçadas e puzzle a viver. Lindo!
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