E surgiu de novo aquela irritação com a sabedoria popular, verdades comprovadas cientificamente ditas de forma indiscriminada, automática, sem um pingo de pensamento critico. Tudo tem um início e um fim. O óbvio contrafeito, o evidente perante a dimensão humana de tempo. Se contrariasse a sabedoria popular iriam de imediato pedir-lhe exemplos, a seguir a tal explicação seria internada num hospício, única alternativa oficial à extinção da Inquisição. Mas sim, se quisessem mesmo saber, ela explicaria as suas coisas que não têm inicio, que sempre existiram e permanecem para lá da Geografia e do Futuro, da Meteorologia e da Religião. Os filmes tolos de domingo à tarde têm essa mensagem - do para sempre, do de sempre - e por isso, talvez, são tão bem sucedidos apesar dos maus guiões e dos actores habitualmente mediocres. Encerraria tal explicação com as evidências de que nem tudo tem um fim, as suas últimas palavras de palestrante seriam"para sempre". Há coisas cá dentro que são redondas, circulares, sem ângulos, bifurcações ou cortes. Palestras e hospícios à parte, ela encantava-se secretamente com a clareza linear destes límpidos circulos infinitos que neles encerram o mais precioso. Afinal o povo não sabe tudo, melhor, não sabe quase nada.
1 comentário:
Se ela pudesse fazer esse encantamento fluir não mais secretamente, para lá da Geografia e do Futuro, da Metereologia e da Religião, quem sabe um dia nem mais existisse as portas do hospício?
Muito lindo, tomara que todos possam descobrir suas coisas redondas, circulares, sem ângulos, bifurcações ou cortes.
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