quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Poema que aguenta, aguenta

João não tem um tostão
tem o ar que respira
mas ao contrário:
Expira
Inspira.
João é agora empreendedor
inspirado
pelo ar ao contrário
e pela dor num armário
já penhorado.

João caminha
pelas veredas da esperança
e isso cansa.
Cansado e inspirado
empreende
em formas gratuitas
e legais
de suicidio,
de vida.

João corre
no limiar do sonhos
dos outros.
Acelera nos minutos
enfadonhos e
crê que, se tudo falhar
(até o suicidio),
tem sempre um último projecto
já sem paciência
e com muita concorrência
viável mas banal
tão inevitável quanto global.

João venderá,
quase como nova
portátil, retractil, útil,
o que lhe dá alento para
aguentar
aguentar
com pericia e calma.
João, dizia,venderá
a preço de saldo
a sua alma.

2 comentários:

Filomena Chiaradia disse...

Ótimo...nada como humor e ironia para os feitos desastrados de tantos outros seres. Talvez melhor que o extermínio, pelo menos provoca a criação! A imagem é ótima, e fico curiosa para saber de quem. Aliás, Ouriço, se puderes e quando assim for possível, indique a fonte dessas imagens ótimas que aqui postas. Obrigada!

Urso Polar disse...

Gostei. Muito.