Os amigos são para sempre? Interrogava-se ontem o Público num artigo razoável (não fora a opinião estereotipada da psicóloga portuguesa). É uma pergunta que andou às voltas por aqui durante muito tempo. Porque se impôs a dúvida, porque é necessário pensar sobre tudo o que nos estrutura. Após embates, quedas, surpresas, encantamentos, verdades certificadas, mentiras camufladas, acertos e erros, dias e dias felizes, acho que descobri a resposta: não serão para sempre os amigos, serão talvez de sempre. As vidas retomam-se em ciclos, a memória selecciona a nossa história e aprendemos e desaprendemos a amar ao sabor das ilusões que criamos para nós e para os outros. Afastamo-nos ora pontual, ora irremediavelmente, aproximamo-nos porque nos encontramos num mesmo caminho, comprovamos que, depois de tantos anos, ainda vemos as mesmas formas, as mesmas cores. A narrativa das amizades vai sendo desfiada ora como uma trágica opereta ora como uma série cómica digna de sucessivos Emmys. O final depende totalmente da habilidade para adivinhar os nossos limites e os dos amigos. O final assim depende da nossa capacidade para reciclar, dor para um lado, felicidade para o outro, dádivas em recipiente à prova de tempo, instinto devidamente esvaziado de delírios egocêntricos, autoestima e carência afectiva em compartimentos separados, estanques. O final nas histórias com os amigos de sempre, escrito com cuidado e com esta sabedoria que por vezes escasseia, adivinha-se feliz.
1 comentário:
«De sempre»... boa.
Essencial é perceber que os laços da verdadeira e profunda amizade são como os de família.
Também perduram à distância, reforçam-se em cumplicidade e alimentam a saudade.
E, se nos zangarmos a sério, corremos o risco de, mesmo depois, continuar a pensar naquela pessoa como nossa amiga, ainda que dela queiramos distância.
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