Ando a ler uma coisa que se chama "Justiça, fazemos o que devemos?". Esta interrogação não é nem uma chatice nem um livro de auto ajuda. É uma maneira criativa de nos ensinar filosofia politica sem adormecermos antes que a primeira linha termine.
Hoje em dia pensar é tão mau como ter peste na Idade Média, e um intelectual assumido é logo excluido de qualquer grupo social que não seja assim classificado. O casamento entre intelectuais deixará, em breve, de ser permitido e os seus outros direitos (ler um livro em sossego, ver um filme decente, ouvir um bom noticiário de fio a pavio, dizer o que pensa, pagar justamente os seus impostos, etc) andam a ser beliscados, ainda que com a subtileza que não é reconhecida à classe politica.
Não há nada mais frustrante que, perantes casos reais, pensar na solução mais justa. Quando parece que acertámos percebemos, logo de seguida, que não foi bem isso que aconteceu. Nada suporta essa ideia pura de Justiça: a nossa educação e a sua formatação ao tempo, ao lugar e à condição social, as tiranias dos escritos sagrados de várias religiões, o egoísmo e a sede de desresponsabilização.
Assumir em pleno toda a condição humana é uma inevitabilidade mas não é uma desculpa para nada. Entretanto vou olhando o espelho de esguelha na esperança que, um destes dias, me cresçam umas asas e tudo fique muito mais fácil.
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