domingo, outubro 23, 2011

Bernardo





Bernardo é quase árvore.

Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem

de longe.

E vêm pousar em meu ombro.

Seu olho renova as tardes.

Guarda num velho baú seus instrumentos de

trabalho:

1 abridor de amanhecer

1 prego de farfalha

1 encolhedor de rios - e

1 esticador de horizontes.

(...)

Bernardo desregula a natureza:

Seu olho aumenta o poente.(...)



Manoel de Barros, O Livro das Ignorãças

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