quarta-feira, abril 27, 2011

Perigo: berlusconi globalizado

Finalmente percebi o sucesso "socrático" no nosso país. Tal como os italianos, que caricaturam Berlusconi mas no fundo morrem de inveja dele, deificando-o porque é rico e tem uma vida cansativa de "bunga bunga". Tal como os italianos, dizia, nós, os portugueses, olhamos para a vida de um tipo que vem de uma Câmara da Beira Alta onde avalizou construções improváveis, um tipo que se licencia numa universidade série Z a um domingo, que domina na perfeição de "Camarinha" o inglês técnico, que gasta metade do ordenado num fato Armani, que tem um apartamento num prémio Valmor ao preço da chuva, que manipula os Media na perfeição, que quando fica feliz diz "porreiro, pá", que abandona elementos da sua equipa quando já não lhe são úteis, olhamos para este tipo, recordando a escada rolante de esperteza para o sucesso, e sentimos uma vontade incontrolável de colocar uma cruz no sítio errado no boletim de voto.

sábado, abril 23, 2011

Reflexão pascal



O homem que reclama junto da CP por querer pagar um bilhete que não lhe foi cobrado é notícia. O país assente em, dizem, valores católicos convive com ligeireza com o oportunismo e a esperteza de quem chega rápido onde quer, ainda que trilhando sobre vidas alheias. Vide a biografia de muitos dos nossos actuais políticos.

O homem que reclama, que defende que não quer contribuir para o défice da CP, que se indigna pelo não cumprimento das regras justas, é notícia. É um otário, sintetizam alguns. O problema é que sem estes otários não somos um país, uma sociedade altruísta definida pela honestidade, partilha, pela cidadania activa.

As maiorias transformam-se assim, lentamente, em minorias. As elites deixam-se comprar ou fogem fingindo emigrarem, as que resistem são adormecidas ao som das vãs lutas políticas. O povo apascenta as suas pequenas dores ao sol. Os otários e o país estão em vias de extinção. Por isso somos notícia.

sábado, abril 16, 2011

Para ler à sombra

A entrevista da "Única" do Expresso desta semana com Alain de Botton, o homem que vê os aeroportos com os meus olhos, que se revitaliza sem psicanálise, partindo dos dias que todos atravessamos para dar consistência e profundidade ao pensamento.

sexta-feira, abril 15, 2011

Um poema em palco

O que acontece quando se juntam uma das nossas melhores actrizes -Maria João Luis - , uma das nossas melhores cantoras - Manuela Azevedo -, um dos nossos melhores músicos - José Peixoto - e um dos nossos melhores poetas - João Monge? Ontem, na estreia, satisfiz esta minha curiosidade: um dos nossos melhores espectáculos.

A Lua de Maria Sem, uma peça que é um poeta dito, visto, cantado. Para embalar, só até domingo no Teatro S. Luis em Lisboa

quarta-feira, abril 13, 2011

Novidades na mala

Na mala, para cá e para lá, "Menos por Menos" e "Tradutor de Chuvas", os mais recentes livros de poesia, respectivamente, do Pedro Mexia e do Mia Couto. Deixo-vos o meu poema preferido deste último.

Medos

Medo do amor quando tudo é fome.

E onde tudo é tão pouco,
medo de a carícia
despertar insuspeitos infernos.

Medo de sermos
só eu e tu a humanidade.
E morrermos de tanta eternidade




Mia Couto

terça-feira, abril 12, 2011

Ando na fase da citação...



... o que talvez fique a milhas de qualquer uma das fases freudianas, mas é o que temos.


Retirei este texto de um blog desempoeirado que frequento, umas vezes aderindo, outras resmungando, mas sempre reconhecendo que, à sua maneira, é muito bom.


Fica aqui mais uma visão enunciativa do nosso...



Portugal


"Portugal e o Euro 2004. Portugal e as Scuts. Portugal e o Magalhães. Portugal e os ordenados dos gestores. Portugal vendida como uma puta de praias paradisíacas e campos de golf. Portugal e as “novas oportunidades”. Portugal e os ídolos, as Lyonces Viiktoryas, a idolatria dos cristianos e do novo-riquismo analfabeto e com interminável tempo de antena. Portugal e os seus pequenos líderes corruptos que se rastejam nos parlamentos, autarquias, campos de futebol, platôs de televisão sem limites, sem consequências, sem castigo. Portugal e o espólio da nossa identidade, com bandeiras patrocinadas por bancos, o hino como reclame publicitário, a História como passatempo de governantes ignorantes. Portugal e os ares de superioridade, esbanjando fortunas emprestadas, desperdiçando fundos que se nos confiaram para crescer, ser melhores, estar na linha da frente. Portugal e os tratados e as cimeiras e as passadeiras vermelhas para ditadores, déspotas regionais, vilõezecos com barris de petróleo. Portugal e o envelhecimento de um interior que vai da fronteira com Espanha até às portagens da ponte 25 de Abril. Portugal e os recibos verdes e o salário mínimo e a precariedade e um carro para cada membro da família e as férias de três semanas no Algarve e os maiores centros comerciais da Europa e cartões gold e bilhetes esgotados para qualquer concerto no Pavilhão Atlântico. Portugal e os sonhos de grandeza. Portugal e o resgate".

quinta-feira, abril 07, 2011

é preciso poesia, porra!

(um pôr do sol só meu,S.Miguel, Açores, 09.2006)

Pôr do Sol na Boa-Nova


mar alma na tarde morta

que cortas dedos na luz

abro-me todo: sou porta

que só contigo transpus.

Ruy Belo

quarta-feira, abril 06, 2011

Inconformismo e Criatividade

Quis partilhar a crónica do Professor Boaventura Sousa Santos que sairá amanhã na revista Visão. Temos mesmo de (reaprender a) pensar o país.

"É hoje consensual que o capitalismo necessita de adversários credíveis que actuem como correctivos da sua tendência para a irracionalidade e para a auto-destruição, a qual lhe advém da pulsão para funcionalizar ou destruir tudo o que pode interpor-se no seu inexorável caminho para a acumulação infinita de riqueza, por mais anti-sociais e injustas que sejam as consequências. Durante o século XX esse correctivo foi a ameaça do comunismo e foi a partir dela que, na Europa, se construiu a social-democracia (o modelo social europeu e o direito laboral). Extinta essa ameaça, não foi até hoje possível construir outro adversário credível a nível global. Nos últimos trinta anos, o FMI, o Banco Mundial, as agências de rating e a desregulação dos mercados financeiros têm sido as manifestações mais agressivas da pulsão irracional do capitalismo. Têm surgido adversários credíveis a nível nacional (muitos países da América Latina) e, sempre que isso ocorre, o capitalismo recua, retoma alguma racionalidade e reorienta a sua pulsão irracional para outros espaços. Na Europa, a social-democracia começou a ruir no dia em que caiu o Muro de Berlim. Como não foi até agora possível reinventá-la, o FMI intervém hoje na Europa como em casa própria.

Poderá surgir em Portugal algum adversário credível capaz de impedir que o país seja levado à bancarrota pela irracionalidade das agências de rating apostadas em produzir a realidade que serve os interesses dos especuladores financeiros que as controlam com o objectivo de pilhar a nossa riqueza e devastar as bases da coesão social? É possível imaginar duas vias por onde pode surgir um tal adversário.

A primeira é a via institucional: líderes democraticamente eleitos reúnem o consenso das classes populares (contra os media conservadores e os economistas encartados) para praticar um acto de desobediência civil contra os credores e o FMI, aguentam a turbulência criada e relançam a economia do país com maior inclusão social. Foi isto que fez Nestor Kirchner, Presidente da Argentina, em 2003. Recusou-se a aceitar as condições de austeridade impostas pelo FMI, dispôs-se a pagar aos credores apenas um terço da dívida nominal, obteve um financiamento de três biliões de dólares da Venezuela e lançou o país num processo de crescimento anual de 8% até 2008. Foi considerado um pária pelo FMI e seus agentes. Quando morreu, em 2010, o mesmo FMI, com inaudita hipocrisia, elogiou-o pela coragem com que assumira os interesses do país e relançara a economia. Em Portugal, um país integrado na UE e com líderes treinados na ortodoxia neoliberal, não é crível que o adversário credível possa surgir por via institucional. O correctivo terá de ser europeu e Portugal perdeu a esperança de esperar por ele no momento em que o PSD, de maneira irresponsável, pôs os interesses partidários acima dos interesses do país.

A segunda via é extra-institucional e consiste na rebelião dos cidadãos inconformados com o sequestro da democracia por parte dos mercados financeiros e com a queda na miséria de quem já é pobre e na pobreza de quem era remediado. A rebelião ocorre na rua mas visa pressionar as instituições a devolver a democracia aos cidadãos. É isto que está a ocorrer na Islândia. Inconformados com a transformação da dívida de bancos privados em dívida soberana (o que aconteceu entre nós com o escandaloso resgate do BPN), os islandeses mobilizaram-se nas ruas, exigiram uma nova Constituição para defender o país contra aventureiros financeiros e convocaram um referendo em que 93% se manifestaram contra o pagamento da dívida. O parlamento procurou retomar a iniciativa política, adoçando as condições de pagamento mas os cidadãos resolveram voltar a organizar novo referendo, o qual terá lugar a 9 de Abril. Para forçar os islandeses a pagar o que não devem as agências de rating estão a usar contra eles as mesmas técnicas de terror que usam contra os portugueses.

No nosso caso é um terror preventivo dado que os portugueses ainda não se revoltaram. Alguma vez o farão?"

sábado, abril 02, 2011

Onde não chega a crise


"Pergunto-me se o amor está em crise. Se os beijos vão caindo a pique na bolsa.Se há cada vez mais mãos dadas no desemprego e se o preço dos olhares amantes também será afectado.

Parece que o número de solteiros já está a desiquilibrar a Balança Comercial e que a Dívida Pública gerada pelos divórcios é intransponível.

Contudo li em qualquer lado de referência que, segundo especialistas, a grande preocupação é a questão do romantismo.

Parece que o gap entre românticos e os não românticos vai triplicar nos próximos anos e que o romantismo médio per capita está cada vez mais detiorado. Sem falar nos empréstimos de romantismo a crédito aos filmes lamechas.

De acordo com a mesma fonte, o PIB das cartas de amor é inferior à média da U.E. e o BCE está a estudar a hipótese de empréstimo mas como não tem papel perfumado é complicado.

As pessoas acabam por buscar soluções mais económicas como conhecer pessoas e namorar pelo facebook o que, consequentemente, tem impacto bastante negativo na indústria do calçado, das floristas e dos chocolates.(...) Eu acho que o que mudou foi a taxa de câmbio do romantismo e as pessoas ainda não sabem fazer as contas. Porque romântico é comprar voos da Ryan Air para fazer surpresas à pessoa amada. É romântico dedicar videos no you tube. é romântico mandar beijinhos para a câmara web enquanto se fala pelo skype(...) É romântico ceder lugar num transporte público.

De modo que se o amor estiver em crise, eu sou apologista de um afluxo interno e externo de ternura e carinho, de divisas indivisiveis para a sua rápida recuperação. Porque, como vimos, o romantismo está em alta parecendo que não."

A. Schutz

sexta-feira, abril 01, 2011

Obrigada


"O caminho para casa de um amigo nunca é longo"

(...obrigada por teres vindo)

Provérbio dinamarquês