Passava pelos bibes no caminho casa-trabalho, cantavam, pululavam de mãos dadas, a deixar cair bonés e pedacitos de felicidade da calçada. Disse-me adeus um, outro pôs a lingua de fora. Andando e pensando no elogio que me fizeram um destes dias, elogio que talvez não o fosse: disseram-me, sabe-se lá porquê, entre um molho de papéis para analisar, que o meu lado infantil era notório. Nota-se sim, cresce todos os dias, é sólido, é maduro este meu lado infantil. Já passava o Jardim Constantino quando começou a listagem, porque é preciso recolher prova, da quantidade incrível de coisas que sobram da minha infância:
- andar de baloiço, balouçar-me quando estou triste;
- beber água com ajuda da mão;
- experimentar roupa dos mais velhos;
- comer chapéus de chuva de chocolate da Regina;
- odiar cortar o cabelo;
- correr descalça;
- mexer na terra com as mãos,
- rapar as tigelas com preparado das sobremesas;
- distrair-me a seguir carreiros de formigas;
- chapinhar em qualquer poça de água;
- separar os vários tipos de comida no prato;
- resmungar para dentro quando me ofendem "Se sou(... enfim a ofensa) e tenho fama é mais (... a mesma ofensa) quem me chama".
- beber sumol de ananás;
- falar e cantarolar quando estou sozinha;
- andar de bicicleta sem ter em mente o fitness,
- fazer origami, um bocadinho mais complexo, pronto;
- pensar que qualquer coisa vai acontecer se aquele sinal não cair a tempo,
- ...
Lista interminável concluí. Entretanto chego ao trabalho, já no elevador, depois de uns bons dias diplomáticos, constato de novo que preferiria sempre, pela manhã, a escola primária.
2 comentários:
;-)
Eu adoro andar de escorrega quando não há ninguém a olhar. Balouço, seguir carreiros, sumol de ananás...
Reacção parvas e despropositadas só para fazer rir, caretas, subir ás árvores, apanhar ouriços :-), lagartichas, osgas, sapos...
Que coisas boas me fizeste lembrar :-)
A esta hora estaria eu no recreio... saudade.
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