sábado, abril 14, 2007

Pérola pela manhã.


Distraio-me a observar as pessoas frequentemente. Mais por feitio que por vício ou pelos ossos do ofício. A diversidade humana é imensa. Hoje, para compensar um sábado de trabalho, fui ali à leitaria beber um café para acordar, comer um queque queimado e fingir que lia devagarinho o Expresso. Estar naquela mesa do cantinho é uma experiência a não perder. Costumo ter, quase a meu lado, o Pedro Mexia, sempre com três a quatro livros e com a cara enterrada, literalmente, num qualquer Diário. Suspeito que tenta disfarçar da mesma maneira que eu. Além das criancinhas traquinas e de alguns velhotes bem dispostos há sempre algumas novidades: ou as meninas de uma disco das imediações reforçando energias, aprontando-se para dormirem até à hora de jantar, um ou dois colegas entediados com os programas da manhã que passam no ecrã fora de moda, um cão à porta que espera impaciente o dono que demora a engolir o rissol e o café, um amor a começar entre duas chávenas, um copo de água e pequenas confidências. Depois começo a ouvir as conversas. Banais, interessantes. Revejo-me ou entedio-me. Sorrio. Na mesa em frente estava o chamado “pintas” a contar ao amigo como trata a nova e submissa namorada. O conteúdo desprezei. Tropecei na forma. Ele dizia muitas vezes que “quando lhe dava na vinheta” fazia isto ou aquilo. Tenho uma colecção mental destas expressões trocadas que revelam a descontracção dos portugueses com a sua língua, que revelam o seu absoluto alheamento do sentido de algumas expressões. Esta quase que bateu a do “bode respiratório”. Quase.

2 comentários:

Fora de mão disse...

São os mistérios da diversidade humana. Na TSF tem passado um spot a publicitar uma reportagem sobre a rota do carvão onde alguém diz que o carvão contribui para 40% da "grastronomia" portuguesa.
Entre as expressões que, como dizes - e bem - "revelam o seu absoluto alheamento do sentido", continuo fã das vivendas "germinadas", um feito da construção civil portuguesa.
Beijo grande

Nanny disse...

As delícias dos tropeções da língua portuguesa e das figurinhas de café...

Hoje em dia alheio-me muito do que se passa à minha volta, e deixo-me ficar a navegar nos meus pensamentos... por excesso de observação na vida profissional... pois...

Beijoca deliciada