quarta-feira, dezembro 20, 2006
A falível arte de contornar
Começamos numa rotunda não ajardinada. Contornamos devagar, com atenção para não errarmos na saída, para termos tempo de ler a placa que nos indica este caminho que ainda desconhecemos. Após uma breve recta uma e outra rotunda. Repetimos a operação. Interrogamo-nos do que é feito dos semáforos, dos polícias sinaleiros, da inteligência. Tontos saímos do carro. Avistamos ao longo alguém que nos pode estragar o dia. Voltamos e trancamo-nos no porta bagagens por dentro. Adivinhamos um dia, uma vida de manobras discretas. O telefone toca insistentemente. Não estamos habilitados para atender aquele número. Não queríamos conhecer aquele número. Avisamos que se aquele número ligar não estamos, acabámos de explodir mesmo agora, inadvertidamente. Deixamos de falar, de escrever, de amar. Deixamos de nos magoar. Ao almoço, ao jantar, ao lanche evitamos os hidratos de carbono e as gorduras. Afogamo-nos na água que bebemos, plantamos hortas na periferia do estômago. Corremos pelo menos 10 km algumas vezes por semana. Acabamos sempre por embater de frente naquela caixa de bombons. Recomeçamos numa rotunda.
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3 comentários:
Começo a perceber o plural na frase "estamos MESMO a precisar".
Mas não serão esses embates pecaminosos que dão tempero à vida?
E não será a boa disposição e a felicidade muito mais importante que a "imagem da moda"?
Estás proibida, ouviste? Proibida de ir lá beber mais!
Nem uma gota que seja!
Já uma gat(j)a não pode abrir uma garrafita de vinho que ficam logo assim...
Até ao ano novo só bebes coca-cola, ou pepsi se preferires.
E nunca esquecer, prioridade a quem sai da rotunda, porque as rectas ainda levam a algum lugar, ao passo que as rotundas impõem quilómetros de estagnação.
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