quarta-feira, julho 26, 2006

Viva a não adesão! ou Nonsense açoriano parte II

“ A essa lei nós não aderimos!” Foi o que me disseram no outro dia . Quem disse não importa. Importa a situação de claro crime tipificado no nosso Código Penal e esta maravilhosa ideia que é a “adesão”. Isto é que é criatividade!... Acompanhada pela busca desse supremo ideal que é o menor esforço, o total conforto, ao fabuloso princípio do prazer. Aderir só ao que nos convém parece-me uma óptima ideia: para já começava por não aderir ao meu avô. Diziam-me “Vá dá lá um beijo ao teu avô!” E eu dizia “A essa parte da família eu não aderi!” E todos iriam perceber esta minha posição, afinal era só uma tentativa de quebrar o tradicional dito do povão de que a família não se escolhe, já os amigos e o marido...
Depois apetecia-me não aderir ao meu chefe. Não por ser meu chefe (contrariamente a 99,5% dos funcionários públicos a palavra “chefe” não causa em mim nenhuma perturbação do foro psicológico de qualquer espécie) propriamente mas por ser um ser humano, correcção, por ser um ser (passo esta ridícula construção frásica) que tem muita pouca noção de, a saber: inteligência, respeito, dignidade, lealdade, integridade e, claro, humanidade. Quando ele me dissesse “Ah e tal você é um ser inferior, e eu agora, que a minha vida sexual até não corre nada bem, vou pisá-la” eu diria “ Olhe eu não aderi a você em nenhum momento, mostre-me o papel da minha adesão à sua autoridade!”. E pronto assunto resolvido.
Não aderia também a qualquer situação que passasse pelo meu conceito de injustiça. Não aderia à morte: á minha, à dos que amo e a de todos os que desconheço e desperdiçam a sua vida sem quererem em causas vãs.
Talvez acabasse por não aderir também ao pneu da minha barriga, em vez de andar nessa loucura do jogging diário talvez fosse mais fácil que, aquando da sua exposição, olhasse para ele sem piedade, apontasse o dedo e lhe dissesse “A ti eu não aderi!”. É infindável a doce tentação da “não adesão”, para não maçar, deixo-vos com um “e assim sucessivamente”.

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