Ter embarcado naquelas férias foi um erro. Sabia-o agora enquanto jogava xadrez contra si própria à sombra do verão barulhento e veraneante. Aguarda em silêncio, nesta esquizofrénica brincadeira karpov vs kasparov, que o seu dia se inicie. Pelas 18h sai na sua bicicleta pela vereda até à praia. O sol está ali mais à mão mas quase todos estão em debandada ao ritmo de horários sem sentido artificialmente impostos. Um encosto na areia, um livro, um, dois, vinte banhos e a memória de um outro fim de tarde numa praia muito mais a norte onde, em jeito de despedida, ele lhe deixou um conselho. O impulso para o escrever cresce à medida que a maré recua lentamente. “Do all things with love” soou a cliché que o seu cinismo de então não deixou passar incólume. Com a maturidade foi-se o cinismo e algum senso do ridículo, ficou a frase imortalizada na areia molhada. Uma onda atrevida apagou quase tudo e ao fundo acenderam-se uns archotes, sinal de que o sol foi à sua vida e de que ela, para que tudo volte a fazer sentido, talvez devesse fazer o mesmo, numa praia muito mais a norte.
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