terça-feira, novembro 18, 2008

Nem uma única lágrima

Nunca percebeu porque é que o telefone insiste em tocar quando está a sair de casa, atrasada.
- Sim?
- Olha, nem sei bem, como te dizer... Não há outra forma: ele morreu.
-Ele?
- Sim.
Anotou os detalhes fúnebres e desligou. Nada a comentar. Nada a lamentar. Já nada.
Para trás ficaram as memórias de infância, campos vermelhos de papoilas, mergulhos no açude, orações que eram poesia, domingos iluminados. Para trás disse. Dobradas e arrumadas meticulosamente, as memórias. Gaveta trancada, chave perdida.
Para a frente, uma cerimónia fúnebre invadida de solidão, uns quantos cumprimentos de pesar, um vaso cheio de cinzas, uma vida cheia de cinzas.
Para a frente, incineradas as mágoas, nem uma única lágrima.

3 comentários:

Joana disse...

Para a frente... com um abracinho virtual. :)))))

Ouriço-Cacheiro disse...

é só ficção, só ;-)

Joana disse...

Sim? (Bela ficção, por acaso, muito bem escrita, como se vivida até!...)

Com que então ficção! (Olha que o abracinho não...) :P

(Ainda que virtual!)

Jinhos.