Tenho o saudável hábito de todas as manhãs, durante a semana, ouvir, quase quase em cima das nove, “Os Sinais” do Fernando Alves na TSF. Ouço-o por tudo, pela preocupação com o mundo, pela voz, pela sensibilidade, com a qual me identifico, e sobretudo porque, quando for grande, gostava muito de escrever como ele. Hoje narrava Fernando a história de um pobre camponês na Baía, Brasil que se deslocara ao Planalto, andando quatro dias sem comer, para que Lula o socorresse da falta de tudo a que sempre fora vetado. Do tudo que seria, para muitos de nós, tão pouca coisa: uns trocados, cuidados de saude, carinho. É esta poesia, uma vezes doce outras cortante, demolidora mas sempre real, é esta pureza matinal que me faz sair de casa, enfrentar uma cidade barulhenta, um dia agitado com um sorriso imenso na alma.
1 comentário:
É sempre necessária uma separação das pessoas que rodeiam aquele que escreve livros. É uma solidão. É a solidão do autor, a da escrita. Para iniciar a coisa, interrogamo-nos acerca desse silêncio à nossa volta. (...) Eu não falava disso a ninguém. Nessa época da minha primeira solidão, tinha já descoberto que dedicar-me à escrita era o que eu tinha de fazer. Já o tinha visto confirmado por Raymond Queneau. A única apreciação de Raymond Queneau foi esta frase: «Não faça mais nada, escreva.»
(...)
Tudo escrevia quando eu escrevia em casa.
(...)
A escrita torna-nos selvagens. Regressamos a uma selvajaria de antes da vida. E reconhecemo-la sempre, é a das florestas, tão velha como o tempo. A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria vida.
(...)
A solidão também era isso. Uma espécie de escrita. E ler era escrever.
Marguerite Duras, "Escrever
Boo
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