quarta-feira, maio 30, 2012

Contemplativo por contemplativo

O meu velho, experiente e paciente professor, responsável pelo aprimoramento do meu inglês, aconselha-me leituras e séries específicas consoante o que tratamos. Recentemente foi Downton Abbey para eu redescobrir “um certo inglês”. Na verdade já tinha visto quase toda a primeira série legendada no ano passado nas férias. Bonita mas não particularmente interessante. As tricas da criadagem e da nobreza que serve, inseridas num contexto pós-vitoriano, nunca foram hábeis o suficiente para me prenderem a atenção e o coração. Nem mesmo os elegantes modelitos, um ou outro ímpeto romântico ou uma manifestação ligeiramente arrebatadora de convicção – sinal de que as personagens estão mesmo vivas - me entusiasmaram. Há quem considere, tudo isto, uma heresia com direito a excomunhão pois vivem há muito dentro desta história e daquele tempo do qual demonstram, aliás, um inexplicável e absurdo saudosismo. Para mim, contemplativo por contemplativo, sempre é melhor ir pescar porque lá nos encontramos com o a água, com peixinhos gulosos (nos dias bons) e por vezes com umas animadas conversas nem que sejam com os próprios botões.

domingo, maio 27, 2012

Como deve de ser



Uma letra, do princípio dos anos 80, em que Chico Buarque  tão bem descreve como deve de ser. Uma voz recentemente guardada para caminhar comigo. Uma conjugação perfeita.

quinta-feira, maio 24, 2012

Dois segredos para não serem bem guardados



Uma sábia definição de felicidade acompanhada, para melhor a alcançar, do melhor blog de culinária nacional - Cinco quartos de laranja - que comprovadamente tem vindo a ser responsável não só pelo aumento do meu colesterol como pelo sucessivo abandono da biblioteca culinária lá de casa.

quarta-feira, maio 23, 2012

De sempre

Os amigos são para sempre? Interrogava-se ontem o Público num artigo razoável (não fora a opinião estereotipada da psicóloga portuguesa). É uma pergunta que andou às voltas por aqui durante muito tempo. Porque se impôs a dúvida, porque é necessário pensar sobre tudo o que nos estrutura. Após embates, quedas, surpresas, encantamentos, verdades certificadas, mentiras camufladas, acertos e erros, dias e dias felizes, acho que descobri a resposta: não serão para sempre os amigos, serão talvez de sempre. As vidas retomam-se em ciclos, a memória  selecciona a nossa história e aprendemos e desaprendemos a amar ao sabor das ilusões que criamos para nós e para os outros. Afastamo-nos ora pontual, ora irremediavelmente, aproximamo-nos porque nos encontramos num mesmo caminho, comprovamos que, depois de tantos anos, ainda vemos as mesmas formas, as mesmas cores. A narrativa das amizades vai sendo desfiada ora como uma trágica opereta ora como uma série cómica digna de sucessivos Emmys. O final depende totalmente da habilidade para adivinhar os nossos limites e os dos amigos. O final assim depende da nossa capacidade para reciclar, dor para um lado, felicidade para o outro, dádivas em recipiente à prova de tempo, instinto devidamente esvaziado de delírios egocêntricos, autoestima e carência afectiva em compartimentos separados, estanques. O final nas histórias com os amigos de sempre, escrito com cuidado e com esta sabedoria que por vezes escasseia, adivinha-se feliz.

segunda-feira, maio 21, 2012

Para começar


Nem sempre odeio segundas feiras. Nem sempre, como diz recorrentemente Dr. House, a Humanidade é sobrevalorizada. E agora repito isto em surdina, vezes infinito, até acreditar e nascer  cá dentro um enorme sorriso.

sexta-feira, maio 18, 2012

Não há razão para tanta preocupação

Desde Outubro tenho-me imposto novos hábitos: reduzir os telejornais ao mínimo, saber o estritamente necessário para manter, até quando for preciso, uma conversa civilizada circunstancial sobre a realidade do país e do mundo. O mesmo raciocínio vale para o extracto de conta. Aposto na leitura pontual dos jornais e aperto a seleccão dos cronistas. O meu índice de felicidade disparou, agora quase roça a total alienação enquanto me perco em séries, filmes, livros, espécies de peixes e as sardinheiras floridas da minha varanda. Oiço as conversas preocupadas e pessimistas e penso que um dia destes o segurança me vai barrar a entrada alegando que alguém assinou por mim um acordo que me cuspiu irremediavelmente da função pública, esquecendo-se de pôr qualquer compensação no bolso. Nesse mesmo dia, depois de estar a aproveitar a vida numa esplanada junto ao mar, irei ao multibanco levantar uns escudos da poupança para pagar um qualquer delicioso gelado artesanal e fá-lo-ei repetidamente até os gelados custarem milhares e milhares de escudos e o boneco quadrado irritante deixar cair os cantos da boca e me informar da falta de permissão do saldo para a gulodice. Sem dinheiro, sem emprego e sem gelado vou dedicar-me à troca directa com os velhinhos do meu bairro - os que sobreviverem à falta de escudos para a medicamentação - e trabalhar a imaginação para a produção caseira de energias alternativas algures entre o wc e as correntes de ar das janelas. Acalma-me a ideia de que nos buracos da ruas de Lisboa crescerão pequenos e adoráveis malmequeres e que, de todos os carros estacionados, por falta combustível e manutenção, surgirão estufas improvisadas com ervas aromáticas, tomates e outros produtos hortícolas essenciais à subsistência dos seus donos. Esquilos, alces, ouriços-cacheiros e a verdadeira fauna autóctone da região tomará as ruas pacificamente. Deixarei de querer ir a algum lado porque tudo implica muita troca e muito esforço e na altura já não será preciso combater com exercício a obesidade, os diabetes, a tensão alta e todas as maleitas possíveis decorrentes da ingestão desgovernada de hidratos de carbono. A praia será um Tejo translúcido e o campo um bucólico e longínquo Lumiar. Imagino-me, enquanto as dioptrias permitirem, a ler finalmente todos os livros que sempre sonhei e que, por ora, repousam entediados nas estantes deste mundo. Oiço assim as conversas e penso que não há razão para tanta preocupação.

quinta-feira, maio 17, 2012

Reivindicações


Hoje greve no metro, preguiça para caminhada matinal, autocarro à pinha. Cacofonia absoluta por uma sociedade justa (e remunerada). Ladrões, desemprego não é oportunidade, eles gastam nós pagamos, o que vai ser dos mais novos, e nós nem para medicamentos, com licença, temos é de abrir os olhos, falem mais baixo, a senhora que entrou por trás venha aqui pela frente, nunca mais compro passe, não há paciência, valha-nos Deus, dê um jeitinho, vão lá votar neles  vão. Da Alameda ao Saldanha, sete paragens, filosofia popular em stereo. Porque o povo, afinal o que quer o povo? Lá dizem os outros, o povo quer é um carro novo.

quarta-feira, maio 16, 2012

A vida é como a queremos ver

                          (Varsóvia, 1946)

Costumo ler a mini crónica diária do Miguel Esteves Cardoso no Público. Ser fã do MEC é um vírus muito comum na minha geração ávida da Kapa e d'O Independente. Ser fã do MEC não implicava necessariamente conhecer “os clássicos” – embora ele lhes faça referências mais ou menos subtis. Bastava somente gostar de ler aguçando em, simultâneo, o amor, o humor e a irreverência. Dizia, costumo lê-lo  também agora. Há quem afirme que está acabado, que escreve sobre futilidades, culinária, jardinagem, episódios domésticos, o tempo ou a relação com a mulher. Eu vejo um homem inteligente, enorme, ainda a cheirar a gin, que percebeu onde está a felicidade, que sabe que – como termina hoje a sua crónica – alcançar e amar estão irremediavelmente interligados.

domingo, maio 13, 2012

Ver


Ao fechar os olhos
abro-os dentro dos teus.

Octavio Paz

sexta-feira, maio 11, 2012

Música para os nossos ouvidos


O meu instrumento preferido dando vida a um filme português fantástico, Alice.

Coisas que verdadeiramente interessam...


... à produtividade do país: quando uma funcionária pública dedica grande parte da sua hora de almoço a procurar um fato de banho novo, é certo, provam os dados estatísticos, que o seu rendimento laboral fica substancialmente reduzido no período da tarde. Há que legislar sobre isto e rápido.

terça-feira, maio 08, 2012

Estás


As armas

Muitos armam-se para a guerra
É necessário.
Outros armam-se para o mundo
É preciso.
Alguns armam-se para a morte
É natural.
Tu armas-te para o amor
e estás tão indefeso
para a guerra,
para o mundo,
para a morte.
Luz Helena Cardeno
Um país que sonha - 100 anos de poesia colombiana. Assirio&Alvim

segunda-feira, maio 07, 2012

quarta-feira, maio 02, 2012

a luta (não) continua


oito horas para dormir, oito horas para trabalhar, oito horas para ir às compras promocionais e agredir quem se atreva a cruzar o seu caminho. oito vezes três, vinte e quatro horas de vida na sua mais absoluta plenitude.

terça-feira, maio 01, 2012

É tabu


Fui ver o premiado, badalado, elogiado último filme do Miguel Gomes. Não quero falar sobre isso.