sexta-feira, janeiro 30, 2009

O Bolo (história verídica)


No princípio do século XX parte família Damn, artesãos do Nordeste da Alemanha, foi esmagada pela industrialização que tudo conquistava. Um primo emigrara para o sul do Brasil há uns anos e, em cartas trocadas, pareceu-lhes seguro mudar o seu sonho para um novo continente. Embarcaram para o Brasil, destino Santa Catarina, onde a comunidade alemã os esperava de braços abertos. Ilusões e desilusões à parte ali foram ficando encantandos pela diferença, criando raízes e um destino cheio de oportunidades.
Trocavam cartas regulares com a família na Alemanha cada vez mais longínqua, um irmão viúvo, um pai doente, dois sobrinhos emergentes em Berlim.
Um dia, em casa da família Damn, no novo continente, foi entregue uma estranha encomenda vinda da terra natal: um pacote de farinha alemã com uma receita de um bolo impressa, sem mais. Cartas e encomendas chegavam desfasadas pois, por política financeira dos correios, era proibido enviá-las em conjunto. Depressa entenderam aquele pacote de farinha como um símbolo, o sabor, o odor, um pedaço da terra natal em cima de uma mesa, domingo, família toda reunida, um delicioso bolo de saudade partilhado até à última migalha.
Na semana seguinte receberam a carta de um irmão, triste e pesarosa, comunicando a morte do patriarca da família, o envio da encomenda dentro de um pacote de farinha e o pedido para concretização o seu derradeiro desejo: cremado na Alemanha, pedira para que as suas cinzas fossem enviadas para o Brasil, ficando para sempre junto da família imigrante.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Palavra de ordem matinal


Abaixo a ditadura da mentira!
Porque em política, como todos sabemos, o que parece... é.

Pronto, já desabafei!

terça-feira, janeiro 20, 2009

A posse


Não sei se é um grande dia, sei,contudo, que é o fim de um periodo negro!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Amo o Caminho que Estendes


Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
Se se recorda dos movimentos migratórios
E das estações.
Mas não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

sexta-feira, janeiro 16, 2009

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Sarilhos entre Deus e Alá


Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa,

É sempre reconfortante dirigir-me a V. Eminência, interlocutor privilegiado com Deus. Ouvi, pela manhã, as suas declarações sobre o Ecumenismo e, em particular, o estado das relações entre a Igreja Católica e a crença Muçulmana. Além de absolutamente adequadas, face à realidade política actual no Médio Oriente e ao crescente aumento dessa comunidade no nosso Portugal, gostaria ainda de saber o que me acontecerá de concreto se, quando for comprar as minhas revistas semanais ou um ou outro número do Público, me deixar enfeitiçar irremediavelmente pelo senhor jovem simpático, garboso, de rasgados olhos pretos, paquistanês e declaradamente muçulmano? Que sarilhos serão esses que até Alá desconhece? Solicito-lhe brevidade na resposta dada a urgência subtilmente aqui alinhavada pois, como é de ver, não gosto de ser apanhada desprevenida e não estou para perguntas directas que possam estragar o ambiente.

Subscrevo-me com consideração (e curiosidade e absoluta perplexidade),

A Ouriça

Até dia 7 vou planar por aí numa nuvem imensa - cheia de arestas - de trabalho e estudo, ufa. Aterrarei depois em toda a minha omnipresença...

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Verificação de coordenadas


A minha ilha é um arquipélago, não pela mania das grandezas mas pelo vício da divagação.
A minha ilha é rodeada de terra: nela posso mergulhar, respirar os meus sonhos e, quando sufoco, enterrar lá fora os pesadelos.
A minha ilha é habitada, mesmo quando viajo, o Sol amanhece, a Lua permanece e o tempo já não prende o quotidiano.
A minha ilha tem abecedários entre as quatro letras, rima algumas vezes sem querer e troça frequentemente da sintaxe.
A minha ilha não é só minha, nem sei se a dei, sei que há quem a tenha no mapa, fica algures entre o carinho e a tristeza mas não posso precisar as coordenadas.

2009


Mais um ano cheio de esperança... é o que desejo para todos!