quinta-feira, janeiro 31, 2008

Alergia


Nota-se a sua tentativa de demarcação neste ponto específico blá, blá, blá”, faço mais espirais com a caneta – agora, felizmente, já de dentro para fora – e recordo o novo perfil do super-funcionário-público, tão apregoado no último ano: as palavras inteligência, formação, dinâmica, iniciativa estavam algures nessa descrição plastificada pelo glamour da modernidade. No final de desenhar um campo relvado cheio de florzinhas, todas coloridas na minha cabeça, regresso ao “blá, blá blá” e constato que afinal, e se calhar, não é bem isso que querem. Subitamente uma imensa vontade de espirrar. O pólen dá-me cá uma alergia…

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Tento empurrar-te de cima do poema


Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.

Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?

E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?

Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.

Ana Luísa Amaral

segunda-feira, janeiro 28, 2008

O Ano da Tia

Sempre cresci com poucas crianças em meu redor. Talvez seja por isso que gosto tanto delas. Talvez seja por isso que, sempre que vou ser tia (é raro), fico tão feliz. Este ano vão ser duas vezes (um record): uma no final de Abril e outra a meio de Setembro. Depois é deixar a “marinar” para quando estiverem mais apurados, para quando puder falar com eles, contar-lhes histórias e responder-lhes a todos os porquês (e são tantos). Fingir que os esclareço e ficar a ouvir tudo o que têm para me dizer, guardar-lhes para sempre aquela pureza.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Tropeçar...


… em qualquer parte, por e sem querer, no AMOR.


Love&Numbers – Robert Indiana

(em Lx até final de 02/08)

E quando me irritam...



Somos um país de analfabetos. Destes alguns não sabem ler.


Vergílio Ferreira

Última medida governamental para a Administração Pública


terça-feira, janeiro 22, 2008

Resistir ao zapping




Estar doente – deitada dias a fio sem conseguir fazer absolutamente nada, excepto zapping - faz com que descubramos coisas espantosas: os programas dos canais generalistas que têm início por volta das 10h e terminam algures antes do telejornal das 20h. O público-alvo é os idosos, as donas de casa e todos os que tenham o infortúnio de abrir a televisão. Pela manhã temos brejeirice, drama – numa semana houve testemunhos de quase todas as doenças raras que existem catalogadas – os fatos do Goucha – uma mistura perfeita de reposteiro do S. Carlos e de colcha de patchwork da minha avó – e… o Cláudio Ramos, para o qual não arranjo, ainda, adjectivos. De tarde temos a Júlia ensurdecedora, o João Baião e os seus pulos – surpreendentemente o mais (in) suportável – e … o José Castelo Branco que é pago a peso de ouro – estou certa – para demonstrar diariamente o quanto é burro e mal formado.
Agora que estamos na era das contas, contabilizemos quanto o Sistema Nacional de Saúde gasta no tratamento das depressões profundas que a programação televisiva diurna causa no seu público alvo, levando-os, estou certa, à absoluta apatia, à dependência de ben-u-ron para combater a constante dor de cabeça, às agressões inusitadas ao próximo. Se a tudo isto lhes juntarmos um “24 horas” e uma “Maria” tentativas desesperadas de suicídio aumentarão significativamente. Agora entendo os resistentes da Nação que passeiam compulsivamente de autocarro com o seu passe-idoso, o luxo permitido, as que tomam chá, tarde atrás de tarde, com as amigas de sempre no café da esquina ou os que organizam entusiasticamente campeonatos diários de sueca nos jardins da cidade. Para eles toda a minha admiração.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Perfeita Escolha

"Chiça, já não tenho tinta na caneta, lá vou ter de escrever com a vida."
Luiz Pacheco