sexta-feira, dezembro 22, 2006

Gula


A gula é o segundo ( às vezes o primeiro...) dos sete pecados mortais que nos dá mais prazer. Tanto, que tenho quase a certeza que será, um dia destes, abolido sem qualquer penitência.
Pequem para aí à vontade (suponho que esta festa religiosa serve para isso mesmo)!
"Bem comido, a minha alma de nada quer saber. E nem os maiores desgostos a conseguem comover ."
Molière, Jean

Dos meus amores VI


Como prenda de Natal para os que têm tido a paciência de me ler (uns desde sempre, outros nos últimos 6 meses) fica aqui o meu poeta português preferido e um poema, simples, que diz tudo o que é preciso.


O SORRISO


"Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."


Eugénio de Andrade

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Homens


Trabalho, na sua maioria, com homens. Há seis anos atrás tinha uma ideia pré-concebida que seria melhor assim. Hoje concluo que tanto faz, só varia o embrulho. Trabalho também com algumas mulheres num mundo de homens e aí sim, em alguns casos, é difícil... sobretudo para eles, se elas os estiverem a chefiar. Continuo a não entender a confusão entre o racional e o animal, entre o dever e o sexo, entre a lógica e a pura impulsividade. A luta entre o machismo e o feminismo descontextualizado histórica e/ou geograficamente.
Queimar soutiens (que ainda por cima estão caríssimos!), no caso delas, ou encenar grosseiros rituais de acasalamento, no caso deles, é sempre um espectáculo deprimente.
Hoje assisti de camarote a mais um episódio desta eterna guerra e tropecei , por acaso, nesta irónica frase.

Muitas mulheres consideram os homens perfeitamente dispensáveis no mundo, a não ser naquelas profissões reconhecidamente masculinas, como as de costureiro, cozinheiro, cabeleireiro, decorador de interiores e estivador.

(Luís Fernando Veríssimo)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Dos meus amores V



Dos artistas que mais admiro. Porque prova que a beleza é de facto objectiva, intemporal e fanática de nada. Espero que tenham visto as suas esculturas no Terreiro do Paço há uns anos. Nunca aquela praça esteve tão linda, tão viva.

Vai um docinho (de Natal)?

A falível arte de contornar




Começamos numa rotunda não ajardinada. Contornamos devagar, com atenção para não errarmos na saída, para termos tempo de ler a placa que nos indica este caminho que ainda desconhecemos. Após uma breve recta uma e outra rotunda. Repetimos a operação. Interrogamo-nos do que é feito dos semáforos, dos polícias sinaleiros, da inteligência. Tontos saímos do carro. Avistamos ao longo alguém que nos pode estragar o dia. Voltamos e trancamo-nos no porta bagagens por dentro. Adivinhamos um dia, uma vida de manobras discretas. O telefone toca insistentemente. Não estamos habilitados para atender aquele número. Não queríamos conhecer aquele número. Avisamos que se aquele número ligar não estamos, acabámos de explodir mesmo agora, inadvertidamente. Deixamos de falar, de escrever, de amar. Deixamos de nos magoar. Ao almoço, ao jantar, ao lanche evitamos os hidratos de carbono e as gorduras. Afogamo-nos na água que bebemos, plantamos hortas na periferia do estômago. Corremos pelo menos 10 km algumas vezes por semana. Acabamos sempre por embater de frente naquela caixa de bombons. Recomeçamos numa rotunda.

terça-feira, dezembro 19, 2006

As mais ouvidas no Natal




  • Eu quero um i-pod, um telemóvel de última geração e uma máquina digital.
  • Jingle bells, jingle bells já não há papel...
  • Outra vez a “Música no Coração”?!
  • Eu quero! Eu quero! E lá na escola todos têm.
  • Portuguesas e portugueses: este ano que passou não foi fácil... blá, blá, blá, desejando-vos um santo Natal.
  • O nosso país não é laico?
  • Olha o colesterol! Depois eu é que te aturo o resto do ano.
  • Querido Pai Natal: este ano portei-me tão bem!
  • (Perante um presente bizarro) Para que serve isto?
  • Mais meias?!
  • Outra vez o “Sozinho em casa”?!
  • O (presente) dos nossos cunhados foi muito ranhoso, baratinho. O nosso foi muito melhor!
  • Troquei de carro. É fantástico, agora o teu cabe no porta bagagens do meu.
  • Ana, pára de meter o dedo na mousse de chocolate!
  • Já puseste o sapatinho na chaminé?
  • (desembrulhando o desejado presente) Tão lindooooo! Era mesmo o que eu queria!
  • Outra vez a treta do bacalhau?
  • Manel, onde puseste o Menino Jesus e os “mémés”?
  • Oh avô! Está a ressonar!
  • Outra vez o circo?! Odeio! Arghhhhh!!!
  • Os meus amigos vão morrer de inveja!
  • Podemos ir ver as luzes da rua?
  • Iupiiiiiiiiiiii!
  • Snoopy, pára de fazer xixi na árvore de natal!
  • Vá aguenta lá, está quase a acabar... e não bebas mais sim?

Acreditem que, apesar de tudo, adoro-o!

FELIZ NATAL!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Eu é que sou a Carol... lembram-se?


“Esta mulher chama-se Carolina Salgado. Viveu com os poderosos, conhece-os, aprendeu-lhes as manhas, joga o jogo deles. Há quem não queira ouvir a história. Percebe-se. É Natal(...).”


Depois de quase duas semanas de escândalo, depois de criação de comissões com pessoas, ainda credíveis, a liderar, depois até do inevitável sketch dos “Gato Fedorento” resta somente por dar a minha opinião... a quem interesse.
A Carolina que é “essa senhora”, “dona”, “dra”, “a futura esposa”, “a alternadeira”, “a putéfia” é, acreditem ou não, uma pessoa que se vende como muitas outras. Talvez tenha começado com o corpo mas rapidamente, e por mais uns trocaditos, lá se foi a alma para renovar o guarda roupa ou trocar de carro quando bem lhe apetecer. Agora pensem quantas pessoas conhecem que fazem exactamente o mesmo, na sua essência, mas disfarçam com outros nomes como amor, dever, sacrifício. Varia o preço. A subtileza. A classe social. E a inteligência.
Ontem passei na habitual livraria e dei por mim a folhear esta obra prima da mais recente moda da escrita em Portugal, iniciada por Carrilho: o queixinhasdadordecotovelovingativo. Procurei arrependimento e... nada. Ainda que o tivesse encontrado viria já um pouco tarde. Encontrei um livro mal escrito pela amiga letrada. Encontrei muito despeito. Encontrei a tão característica “chico-espertice”. Encontrei uma mulher que não se lembra a primeira vez que se vendeu, que hierarquiza muito bem os seus valores (porque os tem, mais de acordo com a economia de mercado, é certo, mas é nela que vivemos), que é marioneta e manipula ao mesmo tempo. Não encontrei dor. Essa já não existe. Talvez, a verdadeira, tenha sido também vendida. Agora todos se acotovelam para rotular, julgar e condenar. Esquecem-se que o mais importante não é, definitivamente, quem denuncia mas quem faz. Não é quem vende mas quem compra. São estes que mandam. Que têm o poder. Que têm más companhias. Que dão puns malcheirosos e têm pêlos nas orelhas também, pronto. Por isso quase acreditamos que, por momentos, até poderiam ser humanos.

domingo, dezembro 17, 2006

Desabafo



Há quatro dias que esta tempestade, do tipo atlântico norte (leia-se: chuva imparável e vento forte), estacionou por aqui .
Há um sinal de alerta na minha secretária para um jantar de Natal que envolve cadeias hierárquicas, sorrisos amarelos e conversas de circunstância sem nexo.
Há um (este) fim de semana (loooongo) em que trabalho.
Há papéis de bombons abandonados nos bolsos da gabardine.
Há ainda que contar cinco dias, inteirinhos, para voar.

Acho que está na hora de procurar a saída de emergência desta ilha!

sábado, dezembro 16, 2006

Um poema comprimido


Indicações: dores agudas nas articulações da alma.
Posologia: 1 a cada hora. Deve ser acompanhado com uma ideia positiva e uma recordação carinhosa.
Sem contra indicações quando tomado correctamente.

adopt your own virtual pet!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Dos meus amores IV



A personagem desta ilustração meio infantil (e linda) sou eu (embora o meu cabelo seja só um bocadinho mais claro) tal e qual. Há pessoas talentosas (as quais recomendo vivamente) que do nada criam tudo. Acabou de chegar. Obrigada! Vai directa para o meu quartinho novo!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Citação natalícia



"Nunca desistas de um sonho. Se não houver numa pastelaria vai a outra."

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Dos meus amores III


Em 2001 escrevi isto numa revista virtual com a qual colaborava. Mantém-se tudo. Mesmo quem não gosta de poesia não lhe consegue resistir. A mim faz-me feliz, pronto!

"As suas páginas são muito mais que um somatório de poemas, são uma verdadeira antologia de um dos nossos maiores poetas contemporâneos. Jorge de Sousa Braga escreve sem ninguém dar por ele, brinca assim com as palavras, molda o quotidiano ao coração e o coração à poesia. Usa verbos simples para descrever como se comportam os sentimentos irrequietos, para nos explicar o nascimento ininterrupto das ideias a cada verso."

Fica um dos meus preferidos.

ADORMECER DO LADO DA PRIMAVERA

Adormecer num colchão de molas do lado da primavera e acordar do lado do verão
Atirar-se da janela de um quinquagésimo andare aterrar intacto na folha de um nenúfar
Passar a cem à hora todos os sinais vermelhose estacar repentinamente no primeiro sinal verde
Engolir um Mirage e vomitar de seguida dois milhões de pássaros pela boca
Fornicar sucessivamente com um elefante-fêmea,uma galinha-da índia um colibri e uma borboleta
Destruir a pontapé todas as palavras do dicionário até chegar à palavra chumbo
Estender a língua vermelha na pista do aeroporto para servir de tapete a uma estrela de Hollywood
Cortar os braços a todos os prisioneiros e gritar "mãos no ar"antes de os passar pelas armas
Derrotar todos os exércitos do nascente e sucumbir ao ser atacado pelas costas por uma folha do outono
Comer à sobremesa apenas maçãs marca Cézanne
Assistir ao próprio enterro ao volante de um BMW cor de cinza e chorar lágrimas verdadeiras
Descobrir uma caravela naufragada há quinhentos anos no fundo dos teus olhos e conseguir trazer para a superfície duas estátuas de Buda além de uma tonelada de pimenta e outra de cravo
Passar cinco anos na solidão de uma cidade de dez milhões de habitantes e exprimentar depois o bulício das Penhas Doiradas
Entrar num supermercado e plantar um limoeiro na secção das vitaminas
Recuar alguns séculos no tempo para apanhar nas mãos a cabeça de Maria Antonieta
Lavar as mãos em sangue antes de assinar o tratado de paz

JORGE DE SOUSA BRAGA