quarta-feira, novembro 29, 2006

Outra vez o desafio...



Breve introdução: a sorte de quem me(http://raispartamisto.blogspot.com/) anda a lançar estes desafios é que ando com uma imensa pachorra para aturá-los (os desafios). Depois hoje, que estou de véspera de "escapadinha" versão voadora, estou com bom humor e com muito tempo. Cá vai então, é tudo verdade.

1 - ALTURA:
A perfeita... em bico de pés.
2 - QUE SAPATOS ESTÁS A USAR?
Botas pretas de cano alto, sóbrias... bonitas. Adoro sapatos.
3 - MEDO?
De não conseguir amar como deve de ser. De morrer antes de fazer tudo. De estar a mais de 1m do solo.
4 - OBJECTIVOS A ALCANÇAR:
Perceber que tropeço e posso fazer tropeçar os outros em pequenos momentos quotidianos que nos fazem felizes. Se cairmos... não faz mal.
5 - FRASE QUE MAIS USAS NO MESSENGER?
Olá! Tenho saudades.
6 - MELHOR PARTE DO CORPO?
Hummm... difícil escolher. Cá dentro, canto superior direito e esquerdo. Sem dúvida.
7 - PALAVRÕES?
Descobri que dizer porra, aqui nas ilhas, é um imenso palavrão. Porra!!!!
8 - LADO DA CAMA?
Ao centro agarrada à almofada fofa (independentemente da quantidade de pessoas que lá estiverem).
9 - TOMAS BANHO TODOS OS DIAS?
Tem de ser... a bem da minha aceitação social. Por vezes também em perfume DKNY... distraio-me.
10 - GOSTAS DE TOALHAS QUENTES?
Who cares? Gosto de toalhas fofas, limpas e bonitas.
11 - URSINHOS DE PELÚCIA?
Não. Nada de pelucia. Nunca.
12 - ACREDITAS EM TI MESMO?
Por vezes passo-me o conto do vigário. Mas, no geral, a fé vai salvando.
13 - DÁS-TE BEM COM OS TEUS PAIS?
São uns “velhos dos Marretas” muito queridos.
14 - GOSTAS DE TEMPESTADES?
Em casa, com uma manta, um livro e uma lareira imaginária. Cortinas abertas, muita chuva, relâmpagos a iluminarem.
15 - DESPORTO?
Nadar, mesmo fora de água e corrida... não sei se fujo ou se persigo mas isso é para a pergunta das doenças psiquiátricas... se a houver.
16 - PASSATEMPOS E HOBBIES?
Ler, contar os dias, escrever, decorar o vermelho das papoilas, reconstruir, restaurar, decorar o azul do céu.
17 - FOBIAS E MANIAS?
Depois de umas aulas com uns psiquiatras descobri que não tenho fobias, só medos (remissão para 3). Manias são as cinco e umas quantas outras (in)suportáveis.
18 - QUANTAS VEZES O TEU NOME JÁ APARECEU NOS JORNAIS?
Nenhuma vez na necrologia, muitas vezes num virtual onde escrevia sobre livros, umas vezes no Diário da República II série, uma vez numa revista feminina, uma vez numa lista de premiados, talvez... sei lá. Já apareci no Jonal das 20 quando tinha uns oito anos e vibrava com o dia do pai.
19 - CICATRIZES NO CORPO?
Um “sorrisinho” no lugar da apêndice.
20 - DE QUE TE ARREPENDES DE TER FEITO?
Arrependo-me todas as vezes que sou idiota.
21 - COR FAVORITA?
Ex equo (e não combinam) : preto e azul.
22 - UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVESTES E GOSTAVAS DE IR?
Itália... é estúpido mas não calhou. Buenos Aires, Moçambique, S. Petesburgo, Suécia, S. Francisco, Tirol, Pequim, Nova Zelândia, Polinésia Francesa, Japão.
23 - MANHÃS OU NOITES?
Tardes (lá mais para o fim).
24 - O QUE TENS NOS BOLSOS?
Vazios, (quase) sempre. Por vezes papéis com ideias por acabar. Não é o caso hoje.
25 - QUE FARIAS SE FOSSES PRIMEIRO-MINISTRO?
Acabava com o partido que me tinha lá colocado, demitia personagens decisivas para este caos e a seguir demitia-me. Gostava mais de ser Presidente da Republica.
26 - SE GANHASSES O EUROMILHÕES QUE FARIAS AO DINHEIRO?
Gastava.
27 - SE TE CAÍSSE NAS MÃOS A LÂMPADA DE ALADINO O QUE FARIAS? QUE DESEJOS PEDIRIAS?
Hã????!!!! Acho um bocado estúpido estar seriamente a esfregar uma lanterna rudimentar à espera que saia de lá um génio em estado gasoso que pudesse fazer alguma coisa de jeito por mim ou pela humanidade.
28 - SE O MUNDO ACABASSE HOJE ÀS 23h59m QUE FARIAS ATÉ LÁ?
Ficava a decidir, baralhada, até lá quais as minhas prioridades.
29 - SE TIVESSES UM FILHO SEM SABER COMO, SEM RAZÃO NENHUMA, QUE FARIAS?Tendo em conta que a gaja sou eu é dificil... até porque que me lembre ainda não engravidei ninguém, pratico sexo altamente seguro.

terça-feira, novembro 28, 2006

A moral da estória


Olho em redor e começo a dar total credibilidade a quem se debruçou sobre a problemática, nada inofensiva, da determinante influência dos contos infantis na estrutura da nossa personalidade.
Vejo muita gente adormecida à espera do beijo de amor de um príncipe que anda algures num engarrafamento interminável e que, por isso, tarda em chegar. Vejo príncipes desencantados a experimentar o sapato vezes sem conta em pés claramente deformados. Vejo pequenas sereias a sufocar com o coração fora de água, lobos maus que fazem um-dó-li-tá entre as suas possíveis vitimas.
Basta!
Acho que devo indagar da disponibilidade dos anões para ajudarem. Certifico-me da maldade das irmãs-madrastas-amigas e denuncio-as às autoridades. Chamo 112 a tempo de salvar a mãe do Bambi. Escrevo um e-mail a um reality show de decoração para fazer uma surpresa aos três porquinhos. Compro um gps ao Hansel e à Gretel. Convenço a Bruxa Má a fazer psicanálise para deixar de falar com espelhos de uma vez por todas. Dou ao Capuchinho Vermelho o chamado “banho de loja”. Obrigo os Lobos Maus, em alcateia, a assistirem vezes sem fim ao “Natal dos Hospitais”. Por fim descubro, por minha conta, que não vale mesmo a pena beijar o sapo. Respiro fundo e reescrevo finalmente toda a moral da estória.

sábado, novembro 25, 2006

Dos meus amores II



Ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias, ler, reler, leitura, livros, livrarias.

Muito, pouco, nada


Dou por mim sempre à procura de palavras, sempre a tentar descobrir novas palavras, sempre a tentar desenhá-las pela primeira vez no início do poema, palavras que digam o que sinto, o que gostava de sentir, o que não gostava de sentir... Procuro-me nessas palavras . Descobri também, nessa busca, que há muitos livros infantis que dizem tudo o que preciso saber sobre tudo, nos quais encontro as palavras certas, novas a cada frase simples. Mesmo à minha frente estava “O Principezinho” do Saint-Exupéry desde sempre. Li e gostei. Reli e gostei mais ou menos. Insisti recentemente e finalmente descobri as palavras. São pequeninas, discretas aquelas palavras, estão lá neste livro (muito, pouco, nada) infantil. Senão vejam:

"[...] se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais."

quinta-feira, novembro 23, 2006

Anti-stress

No top 10 das minhas manias.
Para relaxar (com som).
Comigo resulta!
http://bluestrattos.planetaclix.pt/bubblewrap.swf

Dos meus amores I



Helena Almeida. A minha artista preferida. Tropecei nela há muitos anos numa Bienal de Cerveira . Estava ainda em plena adolescência, não o suficiente para deixar de reparar nela. Vou ver todas as suas exposições. Se fosse artista plástica talvez fizesse algo parecido. Levei-a para a casa nova, lá mora na entrada. Adoro-a. Pronto.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Pai


Tenho quase a certeza que o meu pai me mente quando diz que é meu pai. Descobri essa quase verdade quando, depois de dizer as primeiras duas sílabas de quase todas as palavras, caminhei pela primera vez, não sobre as águas, mas sobre a alcatifa verde, que forrava o imenso corredor, que me conduzia sempre ao quarto deles. A porta estava fechada mas a ânsia de lhe mostrar que era assim uma pequena deusa que andava venceu todas as portas e paredes que poderiam estar à minha frente. A dura realidade revelou-se e eu guardei a experiência traumatizante de sentir crescer na minha testa um galo enorme enquanto o meu pai se ria perdidamente! No meu imbérbe, mas sério, conceito de familia sabia que um pai não se deve rir de um filho numa situação daquelas. Depois surgiram os biberons de leite com chocolate dos quais não conseguia abdicar e que ele insistia em não os acertar na minha boca. Um pai deve saber dar comida a um filho. Depois seguiu-se ainda o silêncio, os seus desenhos irritantemente precisos espalhados por toda a casa, as matinés de sábado a darmos sentido a peças de lego ou a construirmos puzzle, a música que não entendia e o riso, sempre o riso.
Agora também gosto de fazer puzzle e legos e rio muito dos seu óculos em meia-lua tantas vezes esquecidos dentro do lavatório. Rio porque o meu conceito maduro, e sério, de familia contém os defeitos com o riso infindável de nós. Às vezes desconfio que ele é meu pai porque os seus olhos são atraiçoados por aquele sorriso carinhoso, porque me lembro das histórias que me lia, sempre as mesmas, pela noite, e das sombras que desenhava com as mãos naquela parede enorme e, nessas alturas, as gravuras passeavam descaradamente pela sala e os animais na parede relinchavam, cacarejavam, miavam ou ladravam numa algazarra infernal. Só nós os dois viamos e ouviamos…No outro dia surpreendi-o, no meu antigo quarto, a falar com seriedade para um pinóquio de madeira ignorado há anos. Talvez ele seja mesmo meu pai...

terça-feira, novembro 21, 2006

Sou fã


Como diria o Scolari (que é de momento o guru da sociedade portuguesa e daí esta compulsiva necessidade de o citar) eu sou fã da época natalícia. Não porque tenha filhos, não porque tenha uma família numerosa, não porque tenha uma lareira em casa (com o aquecimento global teria sido um mau investimento), não porque o meu subsídio de natal seja especialmente milionário. Não, nada disso. Gosto e pronto. Desde que me lembro. Comia os chocolates da Regina pendurados na árvore de Natal (“O coelhinho foi com o Pai Natal e com o palhaço no comboio ao circo”), brincava com as personagens do presépio de barro, quase que via o Pai Natal a fugir da chaminé lá de casa depois de ter depositado as minhas tão merecidas prendas (acreditei na existência do senhor até aos seis anos, era muito tansinha) sentia o cheiro (o meu sentido preferido e, para o bem e para o mal, o mais usado) a Natal desde o final de Novembro. O Natal comove-me. Nem tanto pelos bons sentimentos invocados (que tantas vezes não chegam a aparecer), nem pela beleza das ruas de Lisboa, nem pelas prendas desejadas ou pelo reencontro com alguns que não vejo durante todo o ano. Comove-me irracionalmente. Gosto e pronto. Mas apesar disto, agora sou oficialmente uma pessoa crescida (dizem) e devo dizer-vos a verdade: o Natal é uma época absolutamente caótica na qual as regras de convivência social mais elementares são infringidas. A começar desde logo pelo Pai Natal: além de introdução constante em propriedade alheia (prática reiterada) infringe as regras simultaneamente da boa educação (em muitas casas nem sequer é convidado e aparece a horas pouco próprias) e as de uma sociedade justa dando mais aos mais ricos e menos aos mais pobres, safando-o, deste último ponto de vista, a cor do fardamento que, embora tenha origem no capitalismo americano, é factor parcialmente atenuante. Na minha opinião, sendo absolutamente fã (lá está o Scolari) da discrição, prefiro o azulinho da Nivea. Mas gostos...
Depois as pessoas no geral enlouquecem: compram o que não podem, provam aos outros o que não devem, conduzem depressa de mais, alucinam literalmente sem recorrerem a qualquer substancia psicotrópica ( o que, convenhamos, dá para poupar uns trocos).
Depois a família: perguntas constantes do tipo “já compraste a prenda para o teu primo Miguel?” exasperam. Não vejo o primo Miguel vai, por coincidência, fazer um ano, nem sei bem o que ele faz, não sei o que gosta e ainda bem. Se um desconhecido lhe oferecer prendas, isso não é a marca do desodorizante, acho que deve ser Natal.
Depois a televisão: desde o bébé que faz xixi e cócó quase real, até ao arsenal militar de plástico os anúncios de brinquedos vão do absolutamente kitch ao deprimente. Depois, há, claro, o “Natal dos Hospitais”, para o qual não tenho palavras, que já tem anexos como “As mais belas canções de natal” e etc. Os filmes vão algures parar à “Música no Coração”, ao inglês “Espirito de Natal” ou ao “Sozinho em casa parte XII" em que o puto já não é puto e fica todo contente quando se esquecem dele, assim pode ir “mandar uns riscos” na sala à vontade.
Depois a comunicação virtual: durante ano ficas desempregado, divorcias-te e queres cortar os pulsos, és internado, para a necessária lobotomia, ou simplesmente declaras publicamente a tua insanidade. Ninguém quer saber. A quinze dias do Natal entopem o e-mail e o telemóvel de mensagens mais ou menos pirosas de origem duvidosa, desejam-te paz, saúde, felicidade e principalmente muitas prendinhas. Ainda há aquelas mensagens altruístas que falam nos pobrezinhos e nos desamparados deste mundo. É a declaração universal de incoerência.
No meio desta insanidade sazonal ainda me julgo a salvo. Dou prendas modestas e escrevo postais da Unicef a quem amo, evito a televisão, enfeito a casa alegremente, apago as mensagens virtuais sem ler, proíbo-me de entrar em lojas após 20 de Dezembro, tento, enfim, não provar nada a ninguém, esforço-me para que ninguém me prove nada a mim. Deve ser por isso que ainda sou fã (como o Scolari, certamente) e sobrevivo à época natalícia.

...com os pés de fora


"Sorria assim que acordar. Livre-se logo dessa obrigação."
W.C. Fields

quarta-feira, novembro 15, 2006

As cinco manias


Após o desafio lançado pelo http://raispartamisto.blogspot.com/ (leiam que o rapaz até é engraçado e tudo!) ,cá vão as minhas cinco manias para quem demonstrar interesse (relatáveis,claro! As não relatáveis, pensando bem, se calhar não são manias...) :


1- Quando passeio na rua de noite gosto de espreitar pelas janelas sem cortinas e ver como é a casa daqueles anónimos todos . O meu lado voyerista esgota-se aqui por completo.
½ - Adoro a ordem, as cores que conjugam, a harmonia. Camisolas arrumadas por cores e formato (gola alta para um lado, meia manga para outro). É o meu lado nórdico. Não vale como mania porque acho que é feitío. Não vale como mania porque às vezes, como não tenho pachorra, arrumo como calha.
2- Comer gelado de gianduja numa gelataria da Av. de Roma (quase) sempre que lá passo. É sublime. Faz-me muito feliz. Mesmo. Arrependo-me sempre no primeiro quarto de hora no jogging, quando me dão aquelas “dorzinhas” musculares...
3- Dar prendas. Bem embrulhadas. Adoro dar. Se tivesse mesmo MUITO dinheiro perdia-me. Como não tenho, dou presentes mais criativos. Depois, claro que adoro receber os sorrisos.
4- Quando vou à casa de banho fazer xixi abrir sempre a torneira da água. É pouco ecológico, bem sei, mas descontrai.
5- Beber água pela garrafa ou pela torneira sempre que as boas maneiras permitem. Tenho, desde pequenina, a certeza que a água sabe assim melhor.


Acabo de reler o texto e descobrir que me esqueci de uma mania, que considero um dom porque faço muito bem: dispensar aquele aparelhómetro estúpido do “saca agrafes” e tirá-los sempre com os dedos. Mas como dom acho que não dá para pôr no currículo.
Quanto a lançar o desafio: não lanço. Se quiserem fazê-lo avisem-me para dar uma espreitadela! (Com esta descobri que se calhar menti em 1!...)

segunda-feira, novembro 06, 2006

Pois é.


Bem, nem sei o que escrever, e tudo o mais. No outro dia a miúda ( vejo-a sempre como uma miúda mas já está bem crescidinha, pronto) disse-me: “Oh Tia! A Tia tem opiniões que tanto admiro sobre tanta coisa porque é que não escreve qualquer coisa sobre um assunto sério para eu pôr no meu blog?”. Não sabia de todo que era minha fã, julguei que nem sequer me ouvia muitas vezes! Claro que disse que sim e tudo mais. Mas assunto sério? Bem lembrava-me de uma carrada deles, desde o pedido de aumento de salário das três criadas lá da quinta passando pela festa de beneficência da Tia Talita Vaz e Castro nos jardins da sua casa de família. “Oh Tia não é nada disso!”- disse. “Queria que escrevesse sobre um assunto actual, por exemplo o aborto, pode ser?” Eu disse logo que podia ser e tudo o mais mas não achava nada que o aborto fosse um assunto sério (já o referendaram e tudo!) e assim e muito menos actual. Além de que pensei logo que as pessoas que lêem o blog dela iam ficar logo maçadas quando percebessem qual era o assunto. Mas, vá, sacudi as madeixas da Marina Cruz e disse-lhe que estava bem e tudo o mais. Sou mesmo tola! Onde vou arranjar tempo para escrever sobre isto, agora com o feriado dos finados, a missa extra, a visita ao jazigo de família, as compras para o início de estação, o regresso do Tio a casa por dois dias (coitado ele trabalha imenso para dar conta da fortuna e passa pouquíssimo tempo lá em casa!)? As criadas, que são preguiçosas, já se sabe, ajudam e assim para eu me sentar a pensar neste assunto. Depois tenho de me adaptar de novo ao portátil que tem imensos botões completamente idiotas e tudo. Pela família devemos fazer todos os sacrifícios, lá diz o Senhor Cónego que, recebemos cá em casa para uns almoços muito simpáticos em que ele bebe bastante mais que come mas também já deve estar habituado, são ossos do ofício pobrezinho, e Deus perdoa-lhe de certeza. Ah! Pois o aborto. Claro que sou contra, no referendo fui daquele movimento (Movimento de Defesa da Vida )que tinham uns cartazes amorosos que diziam qualquer coisa do tipo “Não matem o Zézinho” e mais não sei o quê. Achei um bocadinho pepineira aquele nome se ainda fosse “Não Matem o Francisco, o Bernardo, o Dinis, o José Maria” pronto tudo bem! Zézinho achei de povanga mas percebi depois que a campanha era sobretudo para eles que, tinha-me esquecido, também agora votam e tudo mais. Bom, mas dizia, sou contra. Precisamente porque sou mãe, esposa devota e católica praticante, também devota. Acho que o casamento é, como a religião, uma questão de fé. E isso dos que não sabem escolherem acho mal. Pessoas como nós que sabemos, com classe, com berço têm de agarrar na moral e conduzi-la no caminho certo tipo bola do Pilates e assim, estão a ver?. Conheço alguns pobrezinhos que fizeram e algumas amicíssimas minhas, educadíssimas e cheias de fé também que tiveram os seus problemas, não económicos claro, acho que todos de saúde, coitadas, e lá tiveram de fazer sem (quase) ninguém saber. Havia algumas que até aproveitavam para ir à chiquíssima Calle Velasquéz fazer umas comprinhas e ver pelas redondezas uns museus para acabar com o trauma logo ali. Olhe mas, como dizia a mãezinha, são factos da vida, como mulheres temos de os aceitar. Claro que, como na sociedade não se sabe oficialmente, posso continuar a amizade de anos e irmos às compras, a festas, jogar bridge às quintas à tarde e tudo o mais. Ninguém nota nada! Quanto ao aborto dos pobrezinhos não acho bem porque aqueles sítios devem ser malcheirosos, baratinhos e toda a gente lá nos seus bairros sociais deve ficar a saber que o fizeram. Além de que mais um filho não faria mal de certeza porque está dificílimo encontrar criadas, jardineiros e motoristas e assim. Queria também ainda dizer de novo que sou contra e que por acaso até nem tenho filhas nem nada: o Manuel Maria nunca teve namorada, é catolicíssimo e como percebe imenso de moda, decoração e é um excelente chef diz que não precisa de mulheres para nada, o António já é mais parecido com o pai, vai menos à missa, tem imensas namoradas, de certeza, mas ensinei-lhe a ser discreto e nunca me contar qualquer problema socialmente menos aceitável que possa acontecer. Já disse que sou contra não é? Pois é.

sábado, novembro 04, 2006

Reencontro


Fechei os olhos por uns momentos. Estava cansada. Não podia mais. Quando os abri já lá não estavas. Entrei em pânico. Nunca tinha entrado em pânico. Procurei-te por todo o lado. Dentro da caixa de madeira, no canto inferior direito e esquerdo da foto natalícia, no nó do cinto do casaco que me tinhas dado. Nada. Nada de ti. Fechei os olhos de novo. Não podia mais, repara. Doíam de tanto fixarem a tua imagem para o caso a voltassem a encontrar não houvesse erro. Desta vez resolvi continuar com eles fechados. Seguir com rapidez um caminho qualquer, ao calhas, como não devia ser meu hábito. Encontrar e perder outros. Encontros e perdas sem significado. De olhos totalmente fechados. Felizmente. Dava por mim feliz, deitada na relva, com a certeza de que o sol ainda assim me aquecia. Passaram-se dias, horas, anos numa confusão entrecortada com sons novos, muitos sons novos. Não parece nada mas lembro-me muito bem de todos aqueles sons novos. Não deves acreditar porque achas que sou mais distraída que o humanamente permissível. Mas acredita. Via-me dentro do romance do Saramago, que odeio, em que todos são cegos mas vêem mais. Imagem bizarra. Desisti, sem querer, de te procurar. Estava ali no meio daquele romance tolo a caminhar aos saltinhos como as crianças da primária. Que querias que fizesse mais? Um dia acordei com o teu cheiro em cima da mesa. Reconheci de imediato. Sucederam-se assim outros dias, horas, anos que passaram sem qualquer intenção de contabilização. Retomei a busca. Devagar. Sem expectativas. Completamente por minha conta. Entretanto perdi uns bilhetes já usados, enrolei uns novelos coloridos, e, nesta coisa de seguir um caminho qualquer, completamente ao calhas, tive mais cuidado. Acho que tive mais cuidado mas outra vez sem querer. Não estava sol naquele dia em que abri os olhos. Não era um dia bonito nem nada que se parecesse. E eu estava ali no sofá a sonhar que via alguma coisa na televisão. Refugio confortável no ócio. Distrai-me e abri os olhos, pronto. Não tenho explicação para muita coisa, bem sabes. Deixei de a buscar. A explicação. O que é mais estranho é que a tua foto estava desde sempre no écran do meu telemóvel e, ao que parece, tinhas acabado de sair para ir buscar um petisco para o jantar. Sorris, pois é. Não tenho nenhuma vergonha de te contar isto. Mesmo agora aqui enroscada no teu colo. Quanto ao resto, não ligues, já disse que não tenho explicação para muita coisa. Deixei de a buscar. A explicação.

quinta-feira, novembro 02, 2006

A minha música preferida...

... de sempre: Chico Buarque a cantar "João e Maria". Não resisti partilhar.

Agradável surpresa


Algures neste mês calmo de Outubro fui arrastada para o cinema para assistir a um filme com um título mais ou menos estúpido "Família à beira de um ataque de nervos". Sem ter lido nada de concreto na imprensa pareceu-me que podia ir de um filme cómico série Z até a um drama familiar de cortar os pulsos se vissem a coisa à letra. Nada disso. Ou melhor tudo disso. Ou melhor ainda tudo disso e de mais alguma coisa. Poético. Leve. Muito carinhoso. Critico. Muito também. Cómico. Triste. Hilariante. Belo casting com especial particularidade para a Olive que me é muito familiar. Gravaram-me a banda sonora (Viva!!) que é adorável e que oiço compulsivamente. Procurem-na no site oficial do filme que afinal se chama "Little Miss Sunshine" ou em http://www.devotchka.net/cms/?q. E não o percam...mesmo.